Publicado no Blog do Noblat em 26JAN2015
A dor de já não ser, e a vergonha de já ter sido
A gente gosta de estar em primeiro. Até demais. Muito melhor que o recomendado ou desejável. Encontrar um representante da pátria verde e amarela é na maior parte das vezes, para um estrangeiro, ser confrontado com enormes volumes de estatísticas e ranking a respeito de um local que é, ou foi um dia, o maior ou o melhor em varias áreas.
Para o estrangeiro, boa parte do discurso não faz muito sentido. Deste ponto de vista, as informações soam como um elenco de curiosidades cuidadosamente colecionado por um povo com algum tipo de obsessão por informações obscuras.
Não que as informações estejam erradas. Longe disso. São, normalmente, verdadeiras. Uma verdade que é sempre apresentada como regra, mas, na realidade, trata-se apenas de uma lista de exceções que criam ilusão onde a pátria verde amarela sempre ganha.
Arte de DUKE
Ilusão apenas. Não vem sequer travestida de realidade. E, para a ilusão desaparecer, basta um passeio por um supermercado, loja, ou mesmo assistir televisão em outros países. Encontrar a bandeira verde e amarela, um “made in Brazil”, ou citação positiva do país é tarefa árdua de resultado positivo improvável.
A Branddirectory não lista marcas brasileiras entre as 50 mais valiosas do mundo. De acordo com a Interbrand, a bandeira verde e amarela não aparece no ranking das 100 mais valiosas. Nem de acordo com a BrandZ. As fontes são varias. As metodologias diversas. Mas os resultados são os mesmos. Sempre consistentes e implacáveis.
Arte de AMORIM
A The Economist coloca o Brasil na 43ª posição (outro ranking!) quando o critério é ambiente de negócios. Fica atrás, entre outros, do Chile, Malásia, Qatar, Estônia, México, Bahrain, Chipre, Latvia e Lituânia.
No fundo, a realidade apenas espelha o comportamento de um país que tomou o isolamento como decisão estratégica. Que ficou a margem do moderno ou da modernização. Que viveu a ilusão de que poderia fechar suas fronteiras e se dar ao luxo de não se integrar a cadeia global de produção.
Apostar no isolamento é e continua sendo erro. Mas acima de tudo, é uma impossibilidade. Em um mundo cada vez mais integrado, o isolamento não leva a nada, exceto andar para trás. E ser forcado a melhorar a autoestima através do garimpo de estatísticas a varejo.
Condenados a reviver em perpetuidade a dor de já não ser, e a vergonha de já ter sido.