segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Você pagaria R$ 6 milhões de reais por um chapéu?

Direto De Paris


Pois foi o que fez o presidente do grupo de produção alimentar sul coreano Harim, Karim Hong Kuk. Ele pagou 1,9 milhão de euros por um chapéu de Napoleão Bonaparte!




Aconteceu em Fontainebleau, subúrbio de elevado preço do metro quadrado à 55 quilômetros sudeste de Paris num leilão organizado pela Maison Osenat, e trata-se de um chapéu bicórnio (duas pontas) e é um dos 19 exemplares identificados e autenticados que pertenceram ao imperador francês nascido na Córsega. Estima-se que durante os 15 anos em que governou a França, Bonaparte tenha usado cerca de 120 chapéus. Metade deles foram encomendados a chapelaria parisiense Poupard et Delaunay que fabricava um para o imperador afrontar cada estação do ano.


O desenho do bicórnio de Napoleão tem quase tanta fama quanto a forma elegante da Torre Eiffel. Na verdade, os contornos do chapéu são mais conhecidos na cultura popular do que os traços físicos do imperador que deixou a França com menor área desde que colocou a coroa na própria cachola. Porém, mais gloriosa. Isso tanto pelas batalhas vitoriosas e sobremaneira no campo penal, devido a introdução do código napoleônio, referência maior pelos seus derivados no universo jurídico.



De fato, o hábito não faz o monge. No mais das vezes, ocorre o contrário. Um duque inglês esqueceu de abotoar a parte inferior do seu paletó e pronto, virou moda. Napoleão conferiu fama ao chapéu de dois bicos, uma variação do tricórnio usado no período colonial americano, colocando as extremidades não em paralelo ao nariz e a nuca (“en colonne”), mas com a linha que vai de um ombro a outro (“en bataille”).

Conta a lenda que a escolha teve caráter estratégico. Dito de outro modo: para dar melhor visibilidade e identificar o imperador na confusão dos campos de batalha e entre as plumagens dos seus generais. Em ocasiões engaladas, os carabinieri, policiais italianos, ainda usam o bicorne assim, a maneira de Bonaparte. Desta vez, por exibicionismo ou por alguma outra razão não declarada.



O chapéu lendário pertencia a coleção da Casa Grimaldi, os soberanos de Mônaco. O príncipe Albert II justificou a venda de parte da herança do bisavô Louis II para pagar reformas do palácio — lembra mais uma fortaleza no topo de um rochedo à beira do Mar Mediterrâneo, em Monte Carlo. O bicórnio de Bonaparte teria sido recuperado originalmente em junho de 1800, durante a famosa Batalha de Marengo contra a monaquia austríaca dos Habsburgos, no Piemonte, noroeste da Itália. Joseph Giraud, veterinário nas cavalariças do imperador, recolheu o chapéu e o levou para casa como troféu de guerra.

O colecionador Karim, admirador de Bonaparte desde a adolescência nos bancos do colégio, achou o preço pago pelo chapéu insignificante. De fato, mais dificil foi usá-lo de tal forma que hoje, o adorno pode se exibir em uma redoma de vidro na Ásia, continente em que o imperador francês, um tenente desconhecido até dominar a Europa com pouco mais de trinta anos de idade, nunca colocou as botas. Conquistou, no máximo, admiração sem preço. Embora o Lula tenha declarado certa altura, como os que afirmavam altivos que a Terra era plana: “Quando Napoleão esteve na China…”