quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Letra viva

Baú do Pilórdia 


Esse texto foi aqui publicado há exatos 6 anos

por André Carvalho
btreina@yahoo.com.br

Letra viva
Existem coisas que precisam ser experimentadas até a última gota, esgotadas em seus quatro cantos e entendidas do começo ao fim para que façam algum sentido. Assim, tal qual ofício de órgão público, solicito encarecidamente seus préstimos em concluir a leitura deste alfarrábio.

Ela é a sétima na ordem das letras e desperta curiosidade estética por conta de suas curvas sinuosas, quer seja em minúscula ou maiúscula. Mesmo quando configurada de maneira mais dura, com quatro ângulos retos internos e outros quatro ângulos externos, cada um deles com 270 graus, ainda assim, ela se sobressai frente às suas colegas de linha, de sílaba e de palavra.

Segundo o falecido forrozeiro Luiz Gonzaga e seu parceiro Zé Dantas, cujo óbito não tenho conhecimento, no sul é “”, mas no norte chama-se “guê”, o que prova certo mundanismo, quem sabe associado às tais curvas.

Alfa, beta e gama há muito sumiram do linguajar moderno. Reinaram o X, Y e Z incógnitos nas equações matemáticas. Por esta época o G serviu apenas para designar a constante universal da gravitação enunciada na famosa lei de Newton. Por algum tempo, na segunda metade do século passado o “” é que reinou soberano por conta do 06 de junho de 1944 – o famoso dia “D” – que mudou a história da segunda guerra e do mundo contemporâneo. A partir de então, a qualquer evento mais importante, dizia-se ser aquele o dia “D”.

Agora comanda o “G”. Ele começa se prestando a denominar aquele ponto que inúmeras mulheres acreditam não possuir e infinitos homens, não confessam, mas têm dificuldade em localizar. O “G” também entrou pesado no futebol: antes tínhamos campeão e vice, e lá embaixo, na rabeira da tabela, o lanterna ou, desonra maior, o lanterninha. Agora não. Temos o G4 na ponta de cima da tabela e o G4 na faixa do rebaixamento. Criaram até um G8 para designar aqueles que se classificam para uma outra competição.

Na política o “G” desbancou a ONU, a OEA o FMI e muitas outras letrinhas e se estabeleceu, inicialmente como sete, para em seguida, virar oito, com a inclusão da Rússia pós-comunista salvo engano. Ocorre que no mundo globalizado (olha o gesinho aí de novo) precisamos de um G vinte, capaz de abrigar ricos e emergentes, única chance do mundo conferir e aplicar as sempre sábias e oportunas receitas universais do Lula.

Para o Partido dos Trabalhadores, que sempre ridicularizou essas coisas, deve ser constrangedor ver seu líder maior, tido e havido como o rei dos emergentes. Emergente cheira e beira a “zelites”, daí minha preocupação com a perda de identidade dos petistas. Sugiro que o PT crie em sua estrutura a diretoria de psicanálise e um ambulatório de psiquiatria. Se abrir aos simpatizantes, imagino que faltarão divãs e camisas de força.

Para abrilhantar minhas idéias não abro mão da oportunidade de inserir nestas linhas a Bündchen iniciada com o G de Gisele, símbolo da beleza e da forma “ema” de andar.

Entrementes, “em verdade vos digo”, meu maior interesse neste artigo é provar ao mundo (olha a prepotência) que a falta de assunto é a mãe da besteira. Creio que isso eu consegui, não obstante sua legítima irritação, amigo leitor, caso haja atendido o proposto no primeiro parágrafo e lido tanta bobagem junta.

Com seu perdão, teses são teses, muito mais que hipóteses. Como você percebe, aqui também continua a mais absoluta falta de assunto.


- postado originalmente em 27NOV2008 (82) -