quarta-feira, 20 de junho de 2012

O que é ser piriguete?

Por Xico Sá, em sua página na Folha.uol

A piriguete como questão de classe
O Bananão, como dizia o saudoso confrade Ivan Lessa, sempre bota na conta do populacho o que considera, digamos assim, de “mau gosto”.




É uma leitura sacana, mas está valendo. Repare, colega, no caso do periguetismo. Até gente esclarecida, como o craque Alexandre Herchcovitch, resvala nesse preconceito. Este cronista, macho-jurubeba nada fashion, idem. Erramos, como diz aquela seção onde fiz morada, por muitos anos, na versão impressa desta Folha.

Como se o periguetismo tivesse nascido com a dita nova Classe C, este fetiche econômico, com os devidos méritos, do lulismo.

“Avenida Brasil”, a novela da Globo, óbvio, arredondou, nas saliências de Suellen, o conceito.  



E chega de sociologia de boteco.

Aspas, ordeno, com os meus dedinhos ainda melados de escargot, para o grande modista Herchcovitch:

Olhai as periguetes.
O Brasil tem expertise de fazer roupa popular, de “periguete”. A gente também tem que olhar para isso. Pensei no banho hoje e queria falar: o que vendo mais e menos? Não vendo tanto vestido de R$ 10 mil. O que vendo muito são meus produtos de licenciamento, edredons de R$ 250, sapatos de R$ 129.

Não vou deixar de fazer vestidos caros porque tenho clientes que os querem. Hoje, quem quiser sobreviver no Brasil e competir vai ter de fazer produtos para as classes C e D”.

Assim falou Herchcovitch em excelente matéria de Vivian Whiteman e Pedro Diniz para o caderno “Ilustrada”.



Vamos cair na real. A periguete, termo que rolava no Nordeste havia pelo menos 15 anos, não é uma questão de classe ou posse. É quase de alma. Conheci gente da Casa Grande nordestina ou quatrocentonas de SP com um periguetismo de incendiar a bacurinha.

No “Modos de homem & modas de mulher”(editora Record), Gilberto Freyre, o gênio de Santo Antônio de Apipucos, já costura para fora sobre este tema.

Só pra gente iniciar aqui um debate. Creio que interessante. Sempre lembrando que gosto se discute. E que mau gosto não existe.

Aquela história: quando eu penso em sacanagem, chamo de erotismo; quando o outro faz a mesma coisa eu rotulo de pornográfico.


O que é ser periguete?