Esquisitaços
... decidi que era hora de encontrar outro Beatle. E ontem fui ao Engenhão, no Rio.
Show sensacional, organização que nunca vi num evento assim no Brasil, energia bacana, um mito no palco.
Mas o público... Algumas coisas me deixaram encucado.
Uma gente esquisita passou o show inteiro, ou boa parte, com o celular ou a câmera na mão. Filmando. Não prestava atenção às músicas, às luzes, ao desempenho de Paul no palco. Não dançava. Não pulava. Não cantava. Não vivia aquele desfile de clássicos.
A prioridade era filmar.
foto de Fabio Seixas
Para quê? Alguém assiste a isso por mais de 30 segundos? Imagino o chato chegando ao escritório no dia seguinte e querendo exibir aos colegas seus sensacionais registros feitos a 200 m do palco e mostrando basicamente um monte de cabeças balançando e braços pro alto, com som inaudível. Imagino o rapaz ou a moça chegando em casa esbaforido para ser o primeiro a postar no Youtube e linkar no Twitter, no Orkut, no Facebook... Para ninguém ver.
Na minha frente, num certo momento, um rapaz tinha um celular na mão direita e uma câmera na mão esquerda. Filmando "Let it Be". O sujeito deixou de curtir "Let it Be"!
Para esta gente, acredito, mais importante do que ir ao show é mostrar que foi ao show. Mais importante do que curtir é dizer que curtiu.
O que leva a outra constatação: muita gente foi lá só para isso, para se gabar. Não tinha a menor ideia de quem estava no palco. Quando Paul começou a tocar "Something" e a dedicou a George, um cara ao lado revelou para o outro: "George era o guitarrista dos Beatles". O amigo lançou um "Ahhhhh".
Enfim, não tenho nada com isso. Não filmei nada, só tirei esta foto _constrangido_ para ilustrar o post. São apenas constatações de um cara que, há algum tempo, não ia a um show num estádio. E que se surpreendeu.
Talvez o porteiro do prédio da Folha esteja certo. Hoje, quando eu chegava para trabalhar, um motorista travava o trânsito com uma manobra irregular e tentava convencer todo mundo de que estava certo.
Quando, enfim, consegui entrar no prédio, o senhorzinho lançou: "O ser humano é esquisitaço, né?" Ô se é...