
Por André Carvalho (*)
btreina@yahoo.com.br
Em 21 de abril de 2011
CEM DIAS
Ufa! Sumiu janeiro, passou fevereiro, acabou março, finda abril e completamos 100 dias de um novo governo. Concluiremos um quadrimestre de “cão”, provocado, agora sim, por uma herança maldita, porém indizível, deixada pelo ex-presidente Inácio. Para começar, corte de 50 bilhões de reais nos gastos públicos com recidiva da inflação e crescimento da inadimplência do consumidor. Não só isso: apagões no Nordeste e em São Paulo, alta substancial da taxa de juros e aumento de impostos e combustíveis.
No panorama internacional convulsões no Egito, Líbia, Síria, etc.etc.etc., com Alá dando as cartas e o Itamaraty atrapalhado. Ufa! Chega. Deixemos o Japão e sua relação com a mãe natureza de lado.
Fosse eu cruel, “sentaria” bordoadas em tudo isso e, por aderência, no governo Dilma, que já enfrenta o desabastecimento de gasolina e álcool em algumas regiões do país. Não quero ser intolerante com o período que se inicia e me confesso feliz com os rumos e a forma que a presidente vem imprimindo ao seu mandato.
Todavia, em tempos de bbb, não devo desconsiderar as casas, no caso, as legislativas. Confesso-me apoquentado com o início da quinquagésima quarta legislatura, visto que alguns “brothers” e algumas “sisters” eleitos merecem ir a julgamento em meu paredão. Não admoestarei Tiririca, Romário e Jean Wyllys. Neste primeiro momento vou me restringir ao Senado Federal.
Inicio pelo herói Sarney, eleito presidente da casa pela quarta vez após árdua campanha nos bastidores, aí incluídos os banheiros. Terminado o sufrágio, o provecto disse do enorme sacrifício que fará para desempenhar suas funções. Fiquei penalizado, porém, se o sacrifício o levar ao túmulo baterei palmas.
Marta Suplicy, numa escapada do Sarney, presidiu bem relaxada uma sessão ordinária – e bote ordinária nisso – aproveitando a ocasião para gozar seu ex-marido: “termina logo, acaba logo, seu tempo acabou”. Falava do tempo de tribuna do Eduardo. Proponho não intuirmos resquícios de antigas lembranças por estar a Marta, novamente, no comando de uma casa.
Um frio me percorreu a espinha quando vi, frente a frente, dois “brothers” que se odeiam: Fernando Collor, o ex-presidente, e Lindberg Farias, o cara pintada da UNE que, em 1992, liderou a vitoriosa campanha “fora Collor”. Altivos, cruzaram em plenário olhares raivosos.
Assustado, lembrei que em dezembro de 1963, Arnon de Melo, pai de Fernando, disparou tiros de revolver neste mesmo plenário de poltronas azuis, matando José Kairala então representante do Acre. O alagoano queria, na verdade, encaminhar ao inferno seu maior desafeto, o também senador Silvestre Péricles, mas errou o alvo, potencializando sua estupidez. Como dizem que a história é cíclica, aguardemos...
Entretanto, a grande “pérola” do início da legislatura veio do senhor Walter Pinheiro, eleito pelo Estado da Bahia. Disse o insigne, em seu primeiro dia de trabalho: “Eu pensei que estava indo para o paraíso. Puro engano. Estou saindo do Senado às 21h sem nem almoçar”. A declaração sugere que o elemento se candidatou à cadeira senatória para não fazer nada, e ficar de boa, como diz parte substancial de seus conterrâneos. Pinheiro deve ter saído do trabalho, naquela noite, morrendo de dor de cabeça tal e qual o instalador do ar condicionado da cantora Gal Costa, por ela taxado de baiano preguiçoso.
Reconheço que o Senado, mesmo um tanto arcaico, está que é uma beleza: Collor com os cabelos reformados, Itamar com o topete arriado, Sarney com o acaju abrilhantado, Suplicy com os fios rareados e Renan, com tufos implantados. Sem contar que a Ideli Salvati não se reelegeu e que os terninhos da Marta se alargam a cada dia.
Cae, irmão de Maria Bethânia, diria: não me amarra dinheiro não! beleza pura! dinheiro não! beleza pura!
(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.