terça-feira, 8 de junho de 2010

Um olhar no jogo eleitoral!

Por Gaudêncio Torquato, em seu Política & Economia

Os aloprados de 2002 e os aloprados de 2010O dossiê paulista
Mesmo com todas essas vantagens comparativas, no entanto, Lula acabou sendo forçado a disputar o segundo turno com Alckmin. Uma das razões pode ter sido a resistência de uma parte do eleitorado brasileiro - as tais elites ? - ao modo de ser petista. Não esquecer que em 2002, apesar de toda a empolgação popular e até de parte das "elites" com o novo PT, da impopularidade do presidente Lula e do pouco apelo para a oposição da então candidatura José Serra, Lula não ganhou no primeiro turno.


Zope

Este fato pode ter influenciado em 2006, mas o grande fator mesmo foi a descoberta de um esquema para compra de um suposto dossiê contra o mesmo José Serra, com o fito de dar fôlego à candidatura de Aloizio Mercadante ao Palácio dos Bandeirantes. Lula classificou os companheiros envolvidos no episódio como aloprados e ficou por isto mesmo, tanto no âmbito partidário como na seara policial e jurídica.

 Politicamente, porém, fulminou de vez a já cambaleante pretensão governamental de Mercadante e respingou nos votos de Lula ao revelar métodos nada republicanos do petismo.


Arapongagem de terceira geração

Agora, ressurgem os aloprados no comitê de Dilma. O método da arapongagem e dos dossiês é o mesmo, mas as motivações são diferentes. No caso Mercadante, o sentido era simplesmente atingir o adversário e alavancar a candidatura petista. O alopramento 3G de 2010 tem mais de um objetivo do que o de meramente abater o concorrente.


Nani

Um de seus alvos, talvez o principal, é formar, digamos, massa crítica contra os próprios companheiros, na disputa por cargos e influência numa futura administração.

Como, com base nas análises principalmente do Vox Populi, os petistas estão já se vendo com o direito a mais quatro anos - ou oito ou até doze - no Palácio do Planalto, trata-se de uma nada surda e já pouco velada disputa interna de poder.

Nesta caiu um assessor de escalão inferior, o ex-jornalista Luiz Lanzetta, e feriu-se com escoriações mais do que generalizadas uma figura de primeira linha - o ex-prefeito Fernando Pimentel, a quem seu grupo já atribuía, pela renúncia em MG, a chefia da Casa Civil. O mesmo lugar cobiçado pelo PT paulista para Antonio Palocci ou Ruy Falcão.

Os aloprados 3G e as disputas antecipadas pelas graças de Dilma presidente podem fazer mais estragos à campanha governista do que tudo o que Serra e seus apoiadores podem imaginar e aprontar. O pior momento de Lula em seus oito anos não veio de tucanos e companhia, veio dos mensaleiros amigos.

Os tucanos e sua vocação para Hamlet
O PSDB e seus aliados chegam ao fim da pré-campanha - a partir de agora e até meados de julho tudo será Copa do Mundo e nada mais - e às vésperas da convenção do fim de semana com as mesmas dúvidas que o assolaram desde o lançamento oficioso de José Serra :

sem um vice de convicção, sem uma estratégia clara de campanha e em busca um discurso claro e eficiente para se contrapor à palavra fácil de Lula.


Pelicano

 Por trás de seu estilo fidalgo e low profile, os oposicionistas parecem gostar de viver grandes emoções políticas. Será a falta de estratégia uma estratégia ? Nas contas tucanas, o empate absoluto entre seu candidato e a candidata de Lula no último Ibope é indício de que o devagar e sempre deles está certo dada as desproporções das campanhas até agora.

Brasil : ajustes e eleições
É certo que as condições macroeconômicas do Brasil são destacadas quando as avaliamos frente ao cenário confuso e negativo que impera dentre as principais economias mundiais.

Todavia, se esta é uma constatação positiva, é preciso entender que não é suficiente para evitar os impactos diretos da crise externa sobre o nosso setor externo, bem como no que tange aos efeitos que as expectativas tem sobre o ânimo dos investidores. Adicionalmente, insistimos em alertar os nossos leitores sobre certa negligência relativamente aos riscos embutidos no processo eleitoral.

Toda mudança de governo atrai naturais riscos ao mercado. No caso da eleição a ocorrer no último trimestre do ano, o próximo presidente será mais vulnerável politicamente que o atual. Isto há de repercutir na política econômica.



Também não é novidade nenhuma que a situação fiscal do Brasil, embora sustentável no curto prazo, não é saudável.

O recente ajuste promovido pelo governo no orçamento público é uma boa notícia, mas incapaz de retirar os obstáculos que enfrentaremos à frente, caso não existam modificações estruturais no andar das contas públicas brasileiras.

Por fim, temos a inflação, a qual não está tão controlada quanto no passado uma vez que os preços estão sendo impulsionados para cima pelo aquecimento da demanda, sobretudo dos indivíduos. Os preços estão subindo num ritmo lento, mas constante e de forma generalizada. Preste atenção nas altas do setor de serviços...



Assim sendo...
Não cabe ilusão aos agentes econômicos. O cenário mudou e, infelizmente, para pior. É preciso paciência e cuidado na implementação de estratégias empresariais e junto ao mercado financeiro. Em tempos de tendência negativa, toda a atenção é necessária.
Nas eleições presidenciais anteriores, Lula, então disputando o segundo mandato, tinha todas as condições - e muita mais - de levar a vitória logo no primeiro turno. Por duas razões :

1. Depois do perigoso tropeção dos mensaleiros, quando por pouco não sofreu um processo de impeachment, ele entrou na disputa com a popularidade em alta, não tão alta como agora, mas já uma das maiores dos presidentes do Brasil República.

2. Seu adversário, Geraldo Alckmin, não era - como não é - de empolgar eleitor, uma desvantagem quando se disputa com alguém com o faro popular de Lula. E, ainda por cima, foi vítima do desânimo e da má vontade dos próprios companheiros.