Em 19 de maio de 2010
btreina@yahoo.com.br
Chinelos da humildade
Vou começar pelo mais relevante:
“Na minha humildade, né, no meu chinelo da minha humildade, eu gostaria muito de ver o Neymar e o Ganso. Porque eu acho que 11 entre 10 brasileiros gostariam. Porque deu alegria ao futebol. Porque, a gente… Eu vi. Cê veja, eu já vi. Parei de vê, voltei a vê. E acho que o Neymar e o Ganso têm essa capacidade. Fazê a gente olhá. Porque é uma coisa que, né, mexe com a gente. Tem esse lado brincalhão e alegre.”
São palavras – na exata sequência em que foram ditas – da candidata do Partido dos Trabalhadores à Presidência da República e foram pronunciadas durante uma entrevista, no Rio Grande do Sul, quando questionada sobre a seleção brasileira de futebol que disputará a copa do mundo no mês que vem.
Para os petistas a pergunta deve ter sido capciosa, tal qual: o que a senhora achou da seleção de Dunga? Coisa da imprensa venal. Se dirigida a mim, simplesmente responderia que não entendo coisa alguma de futebol – e não entendo mesmo a ponto de ainda torcer pelo Bahia – e fim de papo. Acontece que dona Dilma quer dar uma de Lula, aquele que tudo sabe, e acaba falando tantas bobagens quanto ele.
Rousseff devia trocar o chinelo da humildade por uma botinha “desconfiometropédica” e calar a matraca todas as vezes que não dominar determinado assunto. É certo que se calçar a tal botinha ficará calada por muito tempo, mas, em contrapartida, poupará parte da humanidade do desconforto intelectual que costuma causar.
Entretanto, nada será como eu penso. Instruída por Lula, a candidata continuará falando sobre qualquer coisa, dizendo qualquer bobagem, pois o eleitor, em sua maioria, pouco compreende e quanto mais bobagens forem ditas, mais votos serão conquistados. Lula inaugurou essa “era” no Brasil e vai ser assim por muito tempo. Dilma já ultrapassou o Serra nas pesquisas de opinião o que comprova a teoria das “palavras ao vento”. Cada povo tem o governo que merece segundo um filósofo francês.
Mas nem só de apedeutas se compõe seu eleitorado. Dia desses, um dos meus artigos chegou a dois de seus fãs lá de Brasília e o resultado não foi dos melhores, apesar de divertido. Em objeções contundentes um deles explicava de forma rusguenta – vê se pode – cada uma das asnices da candidata.
O outro, pelo teor da réplica, queria se vingar de FHC por quem parece nutrir um pavor neurótico. Não percebe o atormentado cidadão que, na verdade, está se vingando do Brasil e não do ex-presidente. O pitoresco é que ambos estão inscritos nos “anais das zelites da Capital Federal” almoçando em restaurantes de primeira enquanto são difamados pelo presidente que amam.
Breve, os marqueteiros da campanha justificarão, via partidários e aliados, cada uma das palavras da ex-ministra. É assim que funciona! Não se assustem com esquisitices do gênero: ah! o “onze entre dez brasileiros” é uma projeção da densidade demográfica autossustentável para a copa de 2014. Parece até a candidata Marina discursando.
Para encobrir outra asnice dirão que a tal “capacidade do ganso nos fazer olhar, depois de havermos parado de ver”, foi um ato falho da Dilma que, durante a entrevista, se lembrou da última visita que fez a um zoológico e confundiu os gansos.
Surgiu-me uma dúvida: como será que seu “staff” explicará o “porque é uma coisa que, né, mexe com a gente”? Difícil não é mesmo? Agora imagina a Dilma se mexendo no Palácio, como se remexeu no plenário da Câmara aquela deputada petista. Surrealista, meu carol!!!
(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.