A Câmara aproveita a crise no Senado para agir nas sombras
A gazua da vez é o projeto que oficializa a adesão ao Parlamento do Mercosul, vulgo Parlasur, formado por representantes do Brasil, da Argentina, do Uruguai, do Paraguai e dos Estados Associados. Esse deve ser o codinome de Hugo Chávez.
Em 2010, serão eleitos os 37 integrantes da bancada brazuca, pinçados numa lista pré-fabricada pelos partidos políticos. Cada um poderá indicar 55 candidatos. A turma ainda não montou todas as peças do mamute burocrático alojado em Montevidéu. Hoje, existem 25 funcionários provisórios e 18 representantes. A multidão está a caminho.
Decidiu-se que haverá, além da Presidência, 3 secretarias, 7 departamentos, 3 diretorias e 8 seções. Isso para começar.
Como se sabe, todos os países têm doutorado em multiplicação de cabides de emprego. Relator do projeto, o deputado Dr. Rosinha, do PT do Paraná, estendeu aos deputados do Parlasur os mesmos adjutórios que contemplam seus congêneres de Brasília:
- R$ 3.000 de auxílio-moradia,
- R$ 60 mil para contratação de funcionários e
- aquela cota única para despesas jamais comprovadas e passagens aéreas (que varia de acordo com os Estados de origem).
Fora os vencimentos de R$ 16.500 — e o que a imaginação sempre fértil vai infiltrar na calada da noite.
Nos cálculos da Folha de S. Paulo, a equipe brasileira vai gastar, no mínimo, R$ 4,5 milhões por mês.
Caso o time mantenha o modo de jogar, multiplique-se a quantia por 10. O preço das passagens, por exemplo, terá de levar em conta o valor da viagem entre cada Estado e Montevidéu. A farra aérea do Congresso já mostrou o que essa gente é capaz de fazer com um bilhete gratuito no bolso.
“Isso é a busca de uma boquinha para ganhar um salário em dólar em Montevidéu”, avisa o deputado Arnaldo Madeira, do PSDB paulista.
“O Mercosul está em crise total, não tem cabimento votar uma coisa dessas”. Ele também critica “a divisão irresponsável das cadeiras” no Parlamento. Madeira acha inadmissível que o Paraguai e o Uruguai tenham direito a 36 vagas. Somados, os dois países equivalem à metade do Estado de São Paulo.
Os primeiros lances permitem adivinhar o que vem por aí. Os patrocinadores da ideia argumentam que, se a União Européia tem seu parlamento, o Mercosul merece também. O que merece quem defende tamanha inutilidade é o imediato enquadramento por formação de quadrilha ou bando.