quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Novo colaborador: Lineu Barretto


Escrito por Lineu Barretto (*)
- especialmente para o Pilórdia.





Todo mundo é culpado, até que prove que é inocente...
Bem, uma frase desta vinda de um legítimo sagitariano é um pouco inverossímil, pelo menos para os astrólogos. Mas é que, às vezes nós nos sentimos indignados com o que lemos ou vemos na imprensa ou tomamos conhecimento através de nossos amigos, que deixamos de ser o sonhador e otimista.

Aprendi em uma disciplina de direito, no meu curso de administração, que o Princípio da Igualdade, um dos princípios básicos do direito, significa “tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, nos limites de suas desigualdades, visando sempre o equilibrio entre todos.” Eu confesso que não entendi até hoje essa pérola de princípio. Tratar igualmente os iguais, tudo bem. Mas, o que é tratar desigualmente os desiguais? Principalmente o que segue, “... no limites de suas desigualdade...”. Ou ainda, “... visando o equilíbrio entre todos.”.

Para mim, pobre e burro mortal, essa linguagem jurídica é um pouco complicada e prolixa (ops!!!). Que meus amigos advogados me socorram. Mas, pelo amor de Deus, sem os “data venia” do incompreensível, porém sonoro, “juridiquês”.

Sábado (31), eu li em um jornal daqui da España, que o Ministério Público daqui, pediu em um juizado uma pena de prisão para um mendigo, por ter roubado meia barra de pão. Vocês devem estar perguntando, por que meia barra? É que a outra metade ficou na mão da vendedora que tentou impedir o furto.

Parece até que aqui não existe outros crimes mais graves para ocupar o tempo dos juizes e promotores. E olha que está sendo planejada uma greve dos juizes para fevereiro e uma das reivindicações deles é a criação de novos juizados para reduzir a quantidade de processos para cada um deles. Creio que seria melhor que criassem um sistema de triagem para determinar o que merece ou não ser julgado.

Era para imaginarmos, se hoje se julga um homem por um roubo de meia barra de pão, é porque não existe mais crime neste país. E quando falo de crime, incluo a corrupção. Pois, eu considero esse crime como hediondo, porque quando se subtrai dinheiro dos cofres públicos, não haverá recursos para construir e manter escolas, hospitais, e outros serviços públicos. Resultado, aumenta o desemprego e gera novos mendigos para roubarem pão.

Mas, na realidade ele foi um criminoso, pois ele cometeu um assassinato. Ele matou a sua fome.

E dai, o que tem a ver essa história com o título dessa baboseira, que você está escrevendo? Isso é o que deve está pensando todos vocês.

É que ontem eu conheci uma brasileira que está aqui em Salamanca, fazendo um doutorado do tipo sanduiche (parte do tempo aqui e outra no Brasil), que está com uma bolsa da Fundação Carolina.

Me disse ela que tinha ido a um restaurante almoçar com sua filha e, na hora de pagar a conta, o cartão do banco foi recusado. Ela ficou embaraçada (Ops!!! Isso aqui na Espanha significa gravidez.). Tentou sacar dinheiro no caixa eletrônico e não conseguiu. Foi a uma agencia e a funcionária confirmou que a Fundação tinha depositado, mas que todas as contas de bolsistas brasileiros tinham sido bloqueadas, por ordem de algum orgão do governo, até que apresentassem uma documentação, obtida no departamento de polícia, que está legal aqui.

Isso porque foi preso um grupo de 33 brasileiros, há uma semana atrás, acusado de falsificar e vender documentos. Por causa disso, poucos dias depois, 20 brasileiros que deveriam desembarcar em Madrid, foram barrados em Barajas (Ops!!! O trocadilho é intencional.).

Então, todos os brasileiros, que querem vir a este país estão sob suspeita. Todos são culpados, até que provem que são inocentes...
(*) Lineu Barretto é baiano de Salvador e atualmente reside em Salamanca/Espanha onde faz doutorado em Economía de la Empresa, na Universidad de Salamanca.