quinta-feira, 1 de janeiro de 2009


Por André Carvalho.

Retrospectiva
Estivemos, dias atrás, em tempo de retrospectivas, com a imprensa listando fatos e fotos que, no entendimento de editores e leitores, marcaram o ano que se foi: 2008. Uma passada rápida de olhos revela pouca diferença dos anos anteriores. Esse mesmo olhar indica que somos – a raça humana – capazes de protagonizar e enumerar uma torrente de ocorrências violentas e insanas, mais do que somos capazes de criar e difundir eventos alegres e sadios em nosso dia-a-dia. Coopera, para este quadro pouco feliz, a natureza com seus maus humores certamente catalisados pelo descaso com que cuidamos dela. Se as águas inundam e destroem sem piedade, o dedo do homem está ali presente, sem que queiramos nos dar conta.

Será isto uma verdade insofismável ou, também sem nos darmos conta, a imprensa em retrospectiva, destaca prioritáriamente os fatos macabros no interesse de saciar nossos paladares psíquicos? Não tenho resposta, e isso me instiga a pensar.

Guerras, conflitos e mazelas de naturezas diversas escancaram as páginas e vídeos ancorados em estatísticas de mortes no trânsito, no tráfico de drogas, no embate entre bandidos e, entre estes e policiais, no atendimento hospitalar, no desencanto amoroso e no esfacelamento familiar. Os casos chocam, porém, ainda assim e mais do que nunca, continuamos antagonicamente protagonistas e críticos daquilo que somos e fazemos: uma raça em movimento a caminho da extinção ou, no mínimo, da execração.

No Brasil da “porretice”, escândalos de políticos e de celebridades povoaram os portfólios do ano. Com Edmundo e Romário no banco de reservas, a vez ficou com o “fenômeno” Ronaldo, ou, melhor dizendo, com o “fenômeno” do Ronaldo. Se Vera Fischer há tempos saiu de catálogo, vagas se abriram às muitas “piovanis” da televisão, do cinema e do mundo “fashion”. Com Renan e Mônica obsoletos, o falecido Luiz Eduardo e sua onipresente família renovaram a listagem de filhos bastardos, alimentados indiretamente pelo Estado.
Na seção de frases célebres, a retrospectiva de 2008 repetiu os últimos seis anos e trouxe de comandante em chefe – bom senso, gramática e ética à parte – o escandaloso presidente Inácio da Silva. Nas operações da Polícia Federal o mesmo script de anos anteriores, com personagens semelhantes e, de menos as algemas, símbolo maior de poder de uma instituição que caiu no fosso das intrigas internas.

Das olimpíadas chinesas voltamos, como das vezes anteriores, carregando o pálido elogio da imprensa e esdrúxulas explicações dos cartolas. Trouxemos na bagagem medalhas a menos do que pretendíamos ou esperávamos.
Algo parecido com a nebulosa Petrobrás. Todo ano a mesma história: muitos elogios e muita expectativa, mas a auto-suficiência na exploração, produção e refino, é combustível apenas para gerar aplausos ao Presidente da República, por ocasião de sua visita às instalações petrolíferas, tradicionalmente com direito a sujar as mãos no “ouro negro”. Neste ano, com um megalomaníaco à frente da nação, teve até pré-sal, do qual nada mais se fala, com o barril de petróleo beirando parcos cinquenta (agora sem trema) dólares.

Pensei em falar, retrospectivamente, de Fidel, de Morales e de Chavéz. Optei por citar Caetano: “Será que nunca faremos senão confirmar, a incompetência da América católica, que sempre precisará de ridículos tiranos”...