
Por Carlos Brickmann, em sua site
Reforma, só se não reformar
Uma reforma tributária tem sentido apenas se reformar a distribuição dos impostos no país – ou para reforçar o Tesouro de Estados e municípios mais pobres, ou para estimular investimentos em determinadas áreas.
Como não há espaço para aumentar ainda mais os já escandalosos impostos que pagamos, o dinheiro tem de ser transferido de quem o recebe hoje e que não gosta de perdê-lo. É por isso que não sai reforma tributária (ou, se sair, será uma reforma café-com-leite, daquelas que não mudam nada).
Os Estados produtores, que hoje cobram o ICMS, perderiam esse imposto, que passaria a ser cobrado pelos Estados consumidores. Quem vai convencer Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina a abrir mão de seus recursos para outros Estados?
A reforma tributária também teria o objetivo de, unificando a cobrança de impostos, acabar com a guerra fiscal entre os Estados. Mas foi baixando os impostos que Goiás, por exemplo, atraiu a Arisco, a Mitsubishi, a Hyundai-CAOA. Quem convencerá os parlamentares e o Governo de Goiás a abrir mão de administrar seus impostos e perder a chance de atrair novos investimentos?
O que pode dar certo
A reforma política também tem tudo para dar errado: propõe o fim da reeleição, com mandatos de cinco anos para presidente, governadores e prefeitos, e os mesmos cinco anos para deputados e senadores. No Senado, hoje, o mandato é de oito anos. A reforma não passa.
Mas há margem de manobra: se for possível considerar que a situação institucional mudou, com o fim da reeleição, estará aberta a porta para que prefeitos, governadores e presidente se candidatem ao cargo pela nova lei. E isso é exatamente o que o PT mais gosta de ouvir.
Se não tem tu
Quando um presidente popular como Lula decide apoiar alguém sem grandes possibilidades, e nem sequer tenta montar uma candidatura mais viável, de duas uma: ou ele acha que elege até um poste (o que já se comprovou que não é possível) ou o candidato é ele mesmo. Sabe como é: se ele for a única possibilidade de manter o PT no poder, por que não se sacrificar pelos interesses do povo?
Marolinha
Por falar em Dilma Rousseff: a ministra deve falar hoje, na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, sobre o impacto da crise mundial no PAC. O tema é curioso: que impacto pode ter uma marolinha, como a definiu o presidente Lula, num país como o Brasil, ilha de tranquilidade num mundo em crise?