terça-feira, 9 de setembro de 2008

Por André Carvalho em 29 de agosto de 2008
btreina@yahoo.com.br

"Travotei"
Sou assim: pá e bola, como dizia aquele chatíssimo apresentador esportivo da Rede Bandeirantes de Televisão. Resolvo rápido e sem delongas o que me aparece pela frente, inclusive a questão eleitoral. Mal começou a propaganda política obrigatória no rádio e na televisão e já escolhi meus candidatos, de forma que desligo o aparelho enquanto dura a lengalenga. Aproveito o tempo pela manhã para lavar as roupas e, à noite, o sanitário. São reles atividades que, por via das circunstâncias, tornaram-se prazerosas.

O programa eleitoral é um festival de feiúra sem par, capaz de espatifar vaso de tumba. Olhe bem para os candidatos e candidatas: orelhas, narizes, carecas, chapinhas e gravatas. Ah, as gravatas! Os nós das gravatas! E não é só a feiúra que dói, não! Preste atenção nos arrazoados: contexto, dicção, entonação e timbre. Uma calamidade! Defendo a tese de o Tribunal Eleitoral aplicar um teste de rasa aptidão, tendo os candidatos que pronunciar três vezes seguidas a expressão ácido desoxibonucleico, por exemplo. Só terá a candidatura homologada quem passar no teste.

E os currículos? Nem me fale! “Sou professor e fui síndico do prédio”. Certo! Professor de que, de quem, onde? Síndico? Certo! Havia elevador no prédio? Sim, porque síndico de prédio sem elevador não é a mesma coisa de síndico de prédio com elevador. O grau de complexidade é diferente. Ou estou dizendo alguma bobagem?

Ainda tem a choradeira dos filantropos: “Há vinte anos trabalho em benefício dos necessitados e peço seu voto...”. Ora bolas, e por que não continua a trabalhar mais dez, vinte, trinta anos? Quer ser vereador para quê, rapaz?

Num país que vagueia entre a exorbitância do politicamente correto e a obscenidade da canalhice generalizada, vou dividir meu voto. Para vereador, a primeira opção, já para prefeito vou olhar pro próprio umbigo pensando em levar alguma vantagem.

O politicamente correto defende que as minorias devam ser respeitadas, claro, e representadas em todos os poderes e esferas da sociedade civil. Concordo! Acontece que as minorias, por sua própria natureza quantitativa, não conseguem se fazer representar sem o voto das maiorias. Isso é elementar! Assim, enquanto maioria máscula, vou sufragar num “traveco”, minoritário, mas sensacional, que promete arrebentar na Câmara de Vereadores.

Tenho até um projeto de lei para sugerir ao meu candidato. A obrigatoriedade de toaletes específicos para homossexuais, em lugares públicos mesmo que privados, tais como bares, restaurantes, shoppings, cinemas, etc. Seriam identificados por HOM, para “homos” de origem masculina e HOF para “homos” de origem feminina.

Para prefeito, meu voto é do candidato que garante acabar com as desigualdades existentes na cidade. O cidadão é um socialista, meio comunista de primeira hora, usuário de bata branca como a Heloisa Helena e que concorre pela coligação Frente de Esquerda. Por frente de esquerda imagino algo pela metade, mas isso importa pouco, pois sua plataforma de trabalho é o que me interessa de fato.

Talvez assim, sem desigualdades, eu consiga morar num “apê” da Mansão dos Cardeais, bem juntinho da Ivete Sangalo e trocar meu velho Fiat por um novinho em folha, usando quem sabe, o cartão do “Bolsa Veículo”. Isso no primeiro mandato, pois se reeleito meu candidato, quero rodar de Mercedes Benz e mergulhar numa piscina em Alphaville.

Sou um eleitor consciente querendo o básico numa sociedade igualitária. Nada de cobertura, Ferrari, iate ou jatinho.