quinta-feira, 3 de julho de 2008

Também quero beber nesse caneco

Escrito por Antonio Luís Almada.

Também quero beber nesse caneco
Ainda empolgado com o então inédito título de campeão mundial de futebol, em 58, o Presidente Lula promete enviar ao Congresso Nacional projeto que concede aposentadoria a ex-campeões de 58 que vivam em situação de pobreza (sic). Homenageados pelo Palácio da Alvorada, estavam lá Djalma Santos, Mazzola, Moacir, Orlando, Zagallo e muitos outros que, no campo ou no banco, ajudaram o mestre Feola a trazer o áureo caneco.
Não sei se há um "pobretômetro", ou instrumento afim, que avalie a pobreza desses velhos craques, mas receio, por exemplo, que ao submeter o manhoso Zagallo à "sabatina numismática", ele repita, para seu avaliador, a velha frase: "Vocês vão ter que me engolir"!
E aí? Aí, vamos ter de destinar mais um naco de nosso salário para o generoso Presidente fazer caridade com o dinheiro alheio. Aliás, ele próprio já recebe do erário nosso de cada mês sua aposentadoria vitalícia de preso político, por ter amargado uma manhã nas dependências da Polícia Federal para prestar depoimento de preso político, num sofrimento só comparável ao de Jaguar, Ziraldo e muitos outros que também recebem um naco mensal de nosso pobre roleraite.
Agora, se você fizer as contas de tudo isso, mais o Bolsa-Família e as cotas raciais e sociais nas universidades, que você financia tanto com seu salário diretamente quanto com o lucro cessante, por ter investido alto na educação de seus filhos e depois vê-los preteridos por cotistas, vai tomar um grande susto.
Não, não inclua aí os mais de 10% ao ano que você paga de imposto, para não correr o risco de, num momento de desencanto, admtir que "em última instância tem o suicídio".
E você sabe que não pára por aí. Se você não é um campeão de 58 pode ser um conselheiro vitalício de qualquer Tribunal de Contas, um político de qualquer graduação ou mesmo a viúva do canganceiro Corisco, Dadá, que hoje vive no Centro Histórico embolsando uma vitalícia doada por graça de intelectuais baianos e obra de nossa Assembléia Legislativa, porque Corisco, mesmo sendo um assaltante e matador do velho sertão, foi campeão de tiro ao Jeca.
Depois, quando a mulher lhe cobra o das despesas e você fecha a cara, ela ainda lhe pergunta para onde está indo seu parco salário. Está certo, se o cidadão é ergofóbico, é justo que arrebate um vale-gás ou um tíquete-sandália, mas nós, que labutamos com força no batente do dia-a-dia, temos que ver nosso dinheiro escorrer pelas mãos do Presidente para o ralo de seus arroubos beneficentes?
Em 58 eu tinha 11 anos e já era um torcedor vibrante da seleção, à beira do rádio do meu velho pai. Então, cadê o meu?