A rendição dos Bric
SP - Os tais Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) estão todos contentinhos por terem feito sua primeira reunião ministerial e se estabelecido como instituição. Na prática, estão apenas rendendo-se a uma criação da Goldman Sachs, que inventou a sigla para designar o que seu economista-chefe acha que serão as potências mundiais em 2050. Se serão ou não, o tempo dirá. O que já está dito é que não há outra cola entre eles que não sejam territórios e populações gigantescas (fatores preexistentes à sigla Bric). A China é uma ditadura de partido único. A Índia e o Brasil são democracias, a primeira a maior do mundo pela população. A Rússia fica no meio do caminho: não chega a ser uma ditadura acabada, mas seu teor de democracia é bem baixo. O crescimento econômico chinês é colossal há décadas. O da Índia só recentemente começou a se aproximar. Idem para a Rússia. O do Brasil ainda nem faz cócegas nos números chineses, além de só no ano passado ter sido expressivo. China, Índia e Rússia têm armas nucleares, o que lhes faz mais importantes no cenário global. O Brasil não tem e diz que não quer ter - e é bom mesmo que não tenha. China e Rússia são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, o que lhes dá poder de veto. Um (desejável) mundo multipolar não pode passar por cima de eventuais vetos chineses e russos. Brasil e Índia não podem vetar nada. Por fim, ainda que venham a ser grandes potências, nada indica que passem a ter interesses comuns a ponto de criar um bloco Bric. Ao contrário, potências tendem a colidir umas com as outras, mesmo que seja apenas em termos econômico-comerciais, já que a discussão ideológica foi vencida pelo capitalismo. Vitória tão ampla que os Bric aceitam agora que o mundo seja moldado por uma instituição financeira.