As curvas e o futuro
"Tempos atrás, cruzei em um evento com Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos (poucos) economistas com que dá prazer conversar. Primeiro, porque é didático ao falar; segundo, porque não tem alinhamentos automáticos e, terceiro, por ser palmeirense.
Belluzzo pôs em perspectiva os méritos do Plano Real na derrota da inflação ao lembrar que o dragão fora abatido no mundo inteiro. O Brasil, portanto, apenas surfara na onda. Lembrei-me dessa conversa ao ver a capa desta semana da revista "The Economist": "A inflação está de volta". Pior: o Brasil também surfa nessa nova onda, embora em condições bem menos perigosas do que, por exemplo, a Argentina, líder na tabelinha que acompanha o texto, com os seus 23% de inflação (não assumidos oficialmente). Lembrei-me também do jornalista Getúlio Bittencourt, que, em seus tempos de secretário de imprensa do governo José Sarney, andava para cima e para baixo com duas curvas na cabeça, a da inflação e a da popularidade do presidente. Sempre que a inflação subia, a curva da popularidade presidencial apontava para baixo (bem para baixo), e vice-versa. Luiz Inácio Lula da Silva pode não ter trabalhado com Getúlio, mas também tem na cabeça as duas curvas. Sabe que, no curto período em que o congelamento do Plano Cruzado derrubou a zero a inflação, a popularidade de Sarney chegou a um pico até hoje inigualado. Por extensão, sabe igualmente que, se a inflação subir menos comportadamente do que até agora, a sua própria curva de popularidade mudará de sentido. Portanto, tudo o que se fizer na política econômica doravante terá como eixo central essas duas curvas.