segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

CPMF, Natal, Ano Novo e o samba do governo doido

Por Josias de Souza, do blog nos bastidores do poder


Para que você não chegue ao Natal desinformado, eis aqui um resumo do quadro nacional depois do enterro da CPMF:

1. Metade do mercado financeiro e da oposição está nervosa porque Lula diz que não tem nenhum pacote para reaver os R$ 40 bilhões que lhe tiraram, mas sabe que ele está mentindo e vai anunciar o aumento de impostos a qualquer momento;

2. A outra metade do mercado e da oposição está nervosa porque Lula diz que não tem nenhum pacote e sabe que ele não tem mesmo.

3. E o governo está nervoso porque não sabe se diz que tem um pacote que não fez ou se faz um pacote e não diz o que tem dentro dele, para não enervar o mercado financeiro e a oposição.

Agora, sem querer incluir você no rol dos nervosos, é preciso anotar uma evidência enervante: criada sob FHC, em 1996, para vigorar por escassos dois anos, a Contribuição P-r-o-v-i-s-ó-r-i-a sobre Movimentação Financeira estava jurada de morte havia 11 anos. E o governo não se dignou a preparar o velório.

O Planalto e seus aliados perderam-se em indagações: Mas já? Por que tão cedo? Por que pra sempre? Não dá pra ressuscitar? Natural a surpresa. Embora jurada de morte desde o nascimento, a CPMF parecia cheia de vida. Tivera a morte procrastinada tantas vezes que já ganhara ares de imortal. Teve de ser assassinada.

Por isso as providências funerárias foram deixadas para a última hora. Mas não deixa de ser curioso que o imposto do cheque, responsável por uma coleta de R$ 36 bilhões em 2007, não tenha onde cair morto. Incrível que não lhe tenham preparado adequadamente a cova.

Nunca na história desse país uma morte foi tão aguardada e festejada. É o que indica pesquisa de um instituto que ninguém sabia que existia: o DataSenado. Trazidos a público pelo presidente do Senado, Garibaldi Alves, os dados revelam o seguinte: 78% dos brasileiros apóiam a morte da CPMF. Resultado óbvio até para Garibaldi: “Ninguém paga [imposto] contente.”

Ouviram-se, pelo telefone, entre quinta e sexta-feira, 784 moradores de capitais brasileiras. A maioria acha que o governo não aplica bem o dinheiro que subtrai do bolso do “contribuinte” (70%), que a extinção do tributo melhorou a imagem do Senado (52%) e que o melhor que Lula tem a fazer agora é cortar os gastos de seu governo (51%).

Não é sem motivo que Lula baixou a bola dos “pacoteiros” da Esplanada. Os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento) apresentaram-lhe um embrulho contendo, entre outras coisas, R$ 12 bilhões em elevações de alíquotas de impostos. O presidente ordenou aos ministros que voltassem à prancheta. E mandou dizer a ‘demos’ e tucanos que não cogita aumentar a carga tributária.

Mas não se deixe iludir pelo espírito natalino. Lembre-se do item número três, mencionado lá no alto: o governo está nervoso porque não sabe se diz que tem um pacote que não fez ou se faz um pacote e não diz o que tem dentro dele...” Passado o peru do Natal e a lentilha do Ano Novo, o país conhecerá o tamanho da mordida. Tudo leva a crer que o “inhaaaac” vai chegar em fevereiro, junto com o Carnaval. Época propícia para lançar na praça o samba do governo doido.