sexta-feira, 16 de novembro de 2007

De regimes e sistemas...

Escrito pelo jornalista Andres Viriato, especialmente para o Pilórdia.com


- Quer calar-se? - reagiu com veemência Sua Majestade.
Vê se não parece uma passagem comum de peça literária? É raro ver de público, nos tempos modernos, um monarca demonstrar tamanha irritação, mas aconteceu, no reino da Cumbre, no que poderia ser um duelo verbal entre o rei Juan Carlos e o presidente Hugo Chavez.
Mas não foi, as diferenças entre ambos parecem irreconciliáveis, questão de estilo, de postura e, por que não dizer, de estirpe, o rei certamente não se submeteria a uma troca de farpas com um intempestivo candidato a caudilho de aldeia.
Afinal, o que quer Chavez? Que regime pretende implantar na Venezuela? Se revisitarmos a história política deste imenso mundo poderemos tentar situá-lo numa das galerias dos ditadores, ou abriríamos um atalho para um novo fenômeno em pleno século 21? Vejamos a Rússia e sua ditadura comunista, implantada pela sangrenta dupla Stalin-Lenin.
O regime, cuja linha trotskysta inspirou o PC do B no Brasil, sobreviveu ao ritmo cavalar de um machartismo inverso e uma corrupção de cumpadres camaradas, mas não conseguiu sobreviver à força da globalização via liberalismo moderno, e acabou-se o comunismo.
Ali perto, a China de Mao e seu comunismo igualmente sangrento (o maoismo inspirou o PCB brasileiro) consegue manter-se num regime meio híbrido, com abertura econômica mais que gradual e um pé no neoliberalismo, mas ditatorialmente comunista. Por que a China é a única sobrevivente da teoria marxista? Por sua força produtiva e as potencialidades de seu solo. Mas o comunismo chinês está a um passo da abertura total e irrestrita.
Agora, veja o contraste da solidão dos ditadores de esquerda com o populismo sustentado dos ditadores de direita. Na Albânia, Enver Hoxha permaneceu 30 anos no poder, comandando o chamado "comunismo autêntico", isolado na Europa, transformando o país no mais pobre do continente, até sua morte, em 1985.
Cuba é outro exemplo de solidão das esquerdas: Castro conta apenas com o apoio de alguns países da América Latina, principalmente o Brasil, e o país, que se diz socialista, é um dos mais pobres do planeta.
Agora, veja como as ditaduras de direita avançaram, apesar de igualmente sangrentas: Salazar, em Portugal; Duvalier, no Haiti; Reza Pahlev, no Irã, para citar três. Por que sobreviveram tanto? Pelo apoio do Ocidente, diga-se Estados Unidos da América do Norte, ainda produto da sanha anti-comunista do século passado. Conclusão: nem comunismo, nem socialismo, nem democracia, nem capitalismo: até hoje, nenhum regime pôde ser considerado ideal e apropriado, e o menos ruim deles é a democracia de viés capitalista.
E voltando a Chavez, sua única vantagem em relação aos velhos camaradas aqui citados é a fortuna em petróleo. Como e o que vai fazer com ela, são outros quinhentos. Isto é, se um golpe patrocinado e financiado pela direita mundial não derrubá-lo antes.