Escrito por Carlos Chagas. Transcrito do prosaepolitica
Basta recorrer às coleções de jornais: em junho de 2006 a Petrobras anunciou a descoberta do megacampo de petróleo e gás na bacia de Santos. Por que, agora, esse festival explícito de euforia e patriotismo na repetição da notícia, com direito até ao dividendo suplementar de elevar a ministra Dilma Rousseff a pré-candidata à sucessão de 2010?
Elementar. O anúncio deveu-se a minimizar os efeitos do racionamento de gás já promovido pela Petrobras, com o conseqüente aumento no preço do produto, e mais, para esconder a humilhação a que nos submetemos aceitando a imposição de Evo Morales por maiores investimentos na Bolívia.
Em 48 horas o governo apresentou seu antídoto na forma de um golpe primário de marketing. A mídia abriu os braços e as primeiras páginas para a informação requentada mas plena de perspectivas de maior faturamento.
No Congresso, as bancadas da situação entoaram evoés e alvíssaras ao fato de que dentro de dez anos poderemos pleitear ingresso na Opep. Saíram das manchetes a prorrogação da CPMF e a açodada equação do terceiro mandato.
Poderá a operação servir para abafar os protestos dos taxistas deixados à míngua de gás ou enfumaçar os reclamos das indústrias obrigadas a pagar mais pelo combustível?Prestar-se-á, mesmo, para iludir o cidadão comum de que não nos deparamos com uma crise energética?
Talvez o golpe ajude a calar a voz de quantos se insurgem contra o esbulho que sofremos do governo boliviano. Além, é claro, de haver proporcionado aos especuladores um inesperado lucro de 14% nas ações da Petrobras.
Convenhamos, tudo por conta de primária jogada de marketing, cujos artífices, fica evidente, credenciam-se para criar novas ilusões, quando chegar a temporada sucessória. O país do faz-de-conta sobrepõe-se ao país real, mas como os tempos são de festejar, que pelo menos proíbam aumentos imediatos no preço da cerveja...