Por André Carvalho , em 15 de agosto de 2008
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Palavras do Senhor
“Por que Deus coloca um homem e uma mulher juntos? Para o homem ficar olhando para um lado e a mulher para o outro? Não, é para se olharem”. Palavras do senhor. Do senhor Luiz Inácio Lula da Silva em sua mais recente visita à Argentina. O enredo é mais velho do que o rascunho da bíblia e foi escrito ainda no paraíso, com Adão e Eva olhando-se mutuamente, mastigando uma maçãzinha e cometendo o pecado original, para sufoco de toda a humanidade.
A convergência oftálmica do Lula teve como musa inspiradora a presidente da Argentina Sra. Cristina Kirchner, que não é nada que se jogue fora, na opinião daqueles que já ultrapassaram os setenta anos. Para essa turma, Cristina é uma gatinha!
A proximidade geográfica entre Brasil e Argentina reforça as relações mais concretas, exceto quando dizem respeito ao futebol, à carne, aos políticos, às cervejas, aos combustíveis, às geladeiras, às cotas comerciais, ao meio ambiente, à agricultura, ao câmbio e às Malvinas. Agora, essa troca de olhares, proposta pelo Lula, reforça as relações bilaterais mais íntimas, enfraquecendo os nacionalistas de ambos os lados, que se esgoelam por quase nada.
Viajado como é, viajando como está, imagine o que dirá nosso presidente no dia em que estiver próximo da primeira dama francesa, a franco-italiana Carla Bruni. Falo próximo porque, de agora em diante, os cerimoniais francês e brasileiro, jamais deixarão Lula frente a frente ou lado a lado, com a senhora Sarkozy. Aliás, duvido que o exmo.sr. Nicolas, seu marido e presidente da França, libere mais que um rápido aperto de mão, ciente, que é, das qualidades que carrega ao seu lado e das qualidades que faltam ao lado do colega brasileiro.
Se eleito o Barack Obama, a CIA terá muito trabalho para conter a latinidade do Inácio em suas visitas à terra do Tio Sam. Sim, porque lá, nos “states”, já se compara o charme de Michelle Obama, com o da idolatrada Jacqueline Kennedy. Dizem que a Sra. Obama é irresistível!
Pelo visto D. Marisa não se afobou com essa troca de olhares, muito menos o Príncipe Charles se afobará quando da próxima visita do nosso ilustre presidente à Inglaterra.
O único a se dar mal nesta história toda fui eu. Sempre me arrebento quando vou na onda de meu líder, e desta vez, quase levo uma bolacha aqui no elevador do prédio onde moro. Assim que a vizinha entrou na cabine, fiz o que o Lula mandou: olhei de cima abaixo, de um lado ao outro e acho até que “por entre”. Ao invés de estreitar as relações como pensava, ouvi impropérios de toda natureza. Engraçado como as relações bilaterais são tão instáveis, não é mesmo? Para minha felicidade não havia mais ninguém no elevador, o que poupou a “espetacularização” do evento, temor maior de quantos, por alguma razão, vêem-se envolvidos em circunstâncias desabonadoras, como foi meu caso.
Acreditei que em nosso Brasil varonil e escrachado, seria “republicano” e democrático olhar uma mulher posta ao seu lado pela providência divina, pela porta do elevador ou pela sabedoria do Lula.