Fantástico percorre hospitais do Brasil
e encontra UTI sem médicos
O Fantástico deste domingo mostrou o resultado de um estudo inédito para
entender o que há de errado na saúde brasileira. Pela primeira vez, o Tribunal
de Contas da União examinou a qualidade do atendimento em 116 hospitais
públicos, os mais procurados pela população em todo o país.
O resultado é
assustador.
Arte de Guto Cassiano
É assim que a saúde pública tem tratado seus pacientes.
“Eu estou com dor, desde cedo.
Estou aqui desde 9h30 da manhã e até agora
nada”,
disse uma paciente.
Faltam enfermeiros e médicos.
“Como é que não tem pediatra num hospital desses,
para atender uma criança no
hospital, desmaiando?”,
questiona outra paciente.
“Não tem médico na UTI.
São vários plantões em que não há medico na UTI”.
Faltam equipamentos para exames.
E faltam remédios.
Ivan Cabral
Fantástico: E quando não tem o antibiótico, como faz?
Médico: Você conhece o "seguro senhor do Bonfim"?
A gente amarra uma
fita do lado e vai.
Os repórteres do Fantástico foram aos hospitais para conferir o resultado de um
relatório recente do Tribunal de Contas da União sobre a saúde brasileira e
confirmaram:
falta quase tudo na rede pública
e sobra desorganização.
(...) Esta é uma situação comum em Cuiabá
e em vários outros pontos do Brasil.
Muitos
pacientes só conseguem
tratamentos por força de liminares...
Rico
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“Minha tia tem deficiência,
nem ela que tem prioridade não está sendo
atendida”,
conta uma estudante.
De acordo com o estudo do TCU, na maioria dos hospitais,
as emergências estão
sempre superlotadas, sempre.
Uma médica, de folga,
veio acompanhar um tio doente,
quando viu a situação,
decidiu trabalhar.
Médica: Está faltando médico.
E familiar me ajudando a fazer o procedimento.
Familiar me ajudando como um técnico auxiliar de enfermagem
porque não tinha
ninguém para me ajudar.
Fantástico: Como senhora se sente?
Médica: Desesperada pelos pacientes, porque eles são os que mais sofrem.
A falta de médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem é um problema crônico.
Em 81% dos hospitais visitados pelo TCU, os administradores reconheceram que há
menos profissionais do que seria necessário para atender a todos os pacientes
que procuram atendimento.
UTI sem médicos
A UTI
do maior hospital de Cuiabá chega a funcionar sem médicos.
Vamos repetir:
uma
unidade de tratamento intensivo funciona sem médicos.
“São vários plantões em que não há medico na UTI.
É como estar num avião sem
piloto”, disse.
Amarildo
O pediatra apresentou um atestado médico para não trabalhar
e não havia
substituto para cuidar da criança.
“Eu chorei mesmo,
me ajoelhei nos pés dele chorando,
pedindo ajuda.
‘Ajuda uma
mãe que está angustiada,
porque meu filho está morrendo ali fora
e vocês não
querem me ajudar’”,
desabafa a mãe de Ismael.
Segundo o Tribunal de Contas da União,
na maioria dos estados,
há menos leitos
do que seria necessário.
E para piorar,
entre janeiro de 2011 e agosto do ano
passado,
a rede pública de saúde perdeu 11.576 leitos,
são doze leitos fechados
por dia,
ou um a cada duas horas!
Médico: Aqui tinha como ser mais dois leitos, aí serve de depósito.
Fantástico: Por que, cara? Por que isso?
Médico: Porque não tem funcionário.
Não tem funcionário, não tem cabo, não tem
monitor,
só tem o espaço físico mas não tem o leito em si de UTI.
Não tem
técnico de enfermagem suficiente para tomar conta.
Aqui seria outro também.
Outro leito. Outro espaço.
Fantástico: E não funciona?
Médico: Não.
Quando o hospital não tem condições
de operar todos que precisam,
os pacientes
se acumulam nas salas e nos corredores,
à espera de uma vaga.
Homens e mulheres
dividem o mesmo espaço.
Fantástico: Quanto tempo tem que o senhor está aqui?
Paciente: Está com 11 dias.
Fantástico: Onze dias? No corredor?
Paciente: No corredor.
Ivan Cabral
Falta equipamentos no maior hospital de Salvador
Fantástico: E qual exame ele tá precisando?
Homem: Ressonância magnética
Fantástico: Ele tem o quê?
Mulher: Hemorragia cerebral.
Em 85% dos hospitais visitados pelo TCU,
os administradores disseram que a
estrutura física das unidades não era adequada.
E em 77% dos hospitais falta
algum tipo de equipamento.
Em 23%, eles não foram instalados e muitas vezes
ficam encaixotados no corredor, como no hospital Clériston Andrade, em Feira de
Santana, na Bahia.
A
secretaria estadual de saúde da Bahia diz que começou o processo de licitação
da sala,
mas ainda não tem previsão de quando o aparelho novo vai começar a
funcionar.
Sinfrônio
“Nós temos dois pacientes internados com endocardite grave
e não temos nenhum
antibiótico
de escolha pra tratar esse tipo de infecção”.
O Conselho Federal de Medicina diz que para salvar os pacientes,
o principal é
melhorar muito a administração da saúde pública.
“Mais saúde depende de maior financiamento, melhor gestão administrativa, mais
capacitados médicos e um bom sistema nacional de controle e avaliação.
Infelizmente,
a vontade política ainda não foi suficiente
para a implementação
desses parâmetros
fundamentais à mais saúde”,
disse o vice-presidente do CFM,
Carlos Vital.
Arte de Guto Cassiano
O TCU enviou o relatório ao Ministério da Saúde
e a vários outros órgãos
públicos.
150 milhões de brasileiros
dependem
exclusivamente do SUS para cuidar da saúde.