domingo, 26 de junho de 2011



Por André Carvalho (*)
Em 15 de junho de 2011
btreina@yahoo.com.br



DA BELEZA DAS TROCAS
Que ficou mais bonito não resta a menor dúvida. Sai um barbudo troncho, beirando a obesidade e entra uma airosa musa loira. Nós, os brasileiros, necessitávamos de algo semelhante desde o sumiço da Marcela Temer que parece viver enclausurada, quem sabe, em estado meditativo do tipo o que fiz da minha vida. Marcela mora com Michel, num palácio chamado Jaburu, à beira do lago Paranoá e tem por vizinha mais próxima a presidente Dilma. Entendeu?

A política, convenhamos, está uma feiúra só. Empreenda um “tour” e observe bem o que encontrará pela frente. Marta, Ideli, a Presidente e aquela ministra do meio ambiente que falou dias atrás em rede nacional. Poucas escapam desse universo. Mesmo sendo um cidadão benevolente asseguro que o atual governo está um sufoco, em se tratando de senso estético. Concorda?

Para embelezar a capital federal, a saída talvez seja eleger o Aécio Neves e suas namoradas maravilhosas. Isso se os bafômetros, com os quais o político mineiro se relaciona mal, permitirem. Justiça seja feita ao Palocci que, indiretamente, agregava certo valor ao estético. De uma forma meio egoísta, é bem verdade, reservando os “filés” para a turma frequentadora da mansão onde trabalhava aquele caseiro abelhudo, indiscreto e linguarudo.

A irmã do Chico Buarque até que alivia um pouco a feiúra do cenário brasiliense. Ocorre que a Ministra da Cultura, a julgar pela quantidade de diárias de viagem depositadas em sua conta corrente, passa muito tempo longe do Planalto Central. Há quem goste dessa suas viagens. Gente do próprio ministério. Sei de casos em que o chefe escalava aquele servidor “mala” para viagens sucessivas, de forma a se ver livre da chatice do cara. Não deve ser o enredo da ministra desde quando ela é a chefa. Ou não, como diria Caetano e como pensa parte substantiva do Partido dos Trabalhadores.

Diferenças existem onde quer que se busque, inclusive na Casa Civil. Todos sabem que o barbudo gorducho é afabilíssimo e que a musa empossada é um trator, segundo afirmam e reafirmam a meia boca. Se atinarmos para os sobrenomes a fofoca tem fundamento. Sai um Palocci italiano do tipo Berlusconi, Battiste, Corleone e entra um Hoffmann germânico tal qual Merkel, Geisel, Rademaker. Pode parecer indiferente, mas não é. Fossem iguais e tudo o mais na antropologia é que seria diferente.

A musa foi chegando e abrindo as “asinhas”. No discurso de posse ou de adeus ao Senado – esqueci em o qual – declarou que terá a presidente Dilma como referencial, ela que ocupou o mesmo posto antes de ser candidata à presidência. Os analistas políticos mais espertos entenderam que a alemã lançou-se candidata à presidência da república, após é claro, os próximos oito anos do palestrante Luiz Inácio Lula da Silva.

Abundantes foram os elogios ao retorno de uma mulher a um cargo gerencial de tamanha envergadura. Uma bobagem sem tamanho! Aqui em casa o fenômeno ocorre há mais de vinte anos, sem nenhum alarde, é óbvio. A grande sacada que enxergo na escolha da Hoffmann é a possibilidade de se reduzir a superlotação nas reuniões ministeriais. Aquela mesa ovaloíde do Palácio do Planalto não suporta os tantos ministros nomeados pelos governos petistas. Como a nova ministra é casada com um antigo ministro, basta um dos dois comparecer aos encontros, e depois, em casa e ao pé da lareira, resenhar o ocorrido entre as quatro paredes palacianas. O servidor do café agradece! São menos dois, se contarmos a Ana de Hollanda.

Na esteira da crise caiu um outro ministro, pelo visto, xifópago do Palocci. Cuidava das relações institucionais, que, no país de todos, significa o que você quer em troca de... A rápida derrubada de “pinos” ministeriais traz a perspectiva de um governo boliche só não havendo um “strike” por não caberem todos, numa mesma pista.

Estou curioso com a bola da vez.

(*) André Carvalho não é jornalista, é "apenas" um cidadão que observa as coisas do dia-a-dia. Um free lancer. Ou segundo sua própria definição: um escrevinhador. Seus sempre saborosos textos circulam pela web via e-mails.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O espírito da COISA!

Autoria desconhecida

Enviado por André Carvalho

Para quem gosta da Língua, curiosidade como esta é interessante. Acompanhe o texto e veja que "coisa estranha" para se pensar.




O substantivo "coisa" assumiu tantos valores que cabe em quase todas as situações cotidianas. A palavra "coisa" é um bombril do idioma. Tem mil e uma utilidades. É aquele tipo de termo-muleta ao qual a gente recorre sempre que nos faltam palavras para exprimir uma idéia. Coisas do português.

A natureza das coisas: gramaticalmente, "coisa" pode ser substantivo, adjetivo, advérbio. Também pode ser verbo: o Houaiss registra a forma "coisificar". E no Nordeste há "coisar": "Ô, seu coisinha, você já coisou aquela coisa que eu mandei você coisar?".


Logomarca do

Coisar, em Portugal, equivale ao ato sexual, lembra Josué Machado. Já as "coisas" nordestinas são sinônimas dos órgãos genitais, registra o Aurélio. "E deixava-se possuir pelo amante, que lhe beijava os pés, as coisas, os seios" (Riacho Doce, José Lins do Rego).

Na Paraíba e em Pernambuco, "coisa" também é cigarro de maconha. Em Olinda, o bloco carnavalesco Segura a Coisa tem um baseado como símbolo em seu estandarte. Alceu Valença canta: "Segura a coisa com muito cuidado / Que eu chego já." E, como em Olinda sempre há bloco mirim equivalente ao de gente grande, há também o Segura a Coisinha.



Na literatura, a "coisa" é coisa antiga. Antiga, mas modernista: Oswald de Andrade escreveu a crônica O Coisa em 1943. A Coisa é título de romance de Stephen King. Simone de Beauvoir escreveu A Força das Coisas, e Michel Foucault, As Palavras e as Coisas.

Em Minas Gerais, todas as coisas são chamadas de trem. Menos o trem, que lá é chamado de "a coisa". A mãe está com a filha na estação, o trem se aproxima e ela diz: "Minha filha, pega os trem que lá vem a coisa!".



Devido lugar "Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça (...)". A garota de Ipanema era coisa de fechar o Rio de Janeiro. "Mas se ela voltar, se ela voltar / Que coisa linda / Que coisa louca." Coisas de Jobim e de Vinicius, que sabiam das coisas. Sampa também tem dessas coisas (coisa de louco!), seja quando canta "Alguma coisa acontece no meu coração", de Caetano Veloso, ou quando vê o Show de Calouros, do Silvio Santos (que é coisa nossa).



Coisa não tem sexo: pode ser masculino ou feminino. Coisa-ruim é o capeta. Nunca vi coisa assim! Coisa de cinema! A Coisa virou nome de filme de Hollywood, que tinha o seu Coisa no recente Quarteto Fantástico. Extraído dos quadrinhos, na TV o personagem ganhou também desenho animado, nos anos 70.

E no programa Casseta e Planeta, Urgente!, Marcelo Madureira faz o personagem "Coisinha de Jesus". Coisa também não tem tamanho. Na boca dos exagerados, "coisa nenhuma" vira "coisíssima".



Mas a "coisa" tem história na MPB. No II Festival da Música Popular Brasileira, em 1966, estava na letra das duas vencedoras: Disparada, de Geraldo Vandré ("Prepare seu coração / Pras coisas que eu vou contar"), e A Banda, de Chico Buarque ("Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor"), que acabou de ser relançada num dos CDs triplos do compositor, que a Som Livre remasterizou. Naquele ano do festival, no entanto, a coisa tava preta (ou melhor, verde-oliva). E a turma da Jovem Guarda não tava nem aí com as coisas: "Coisa linda / Coisa que eu adoro".


Cheio das coisas, As mesmas coisas, Coisa bonita, Coisas do coração, Coisas que não se esquece, Diga-me coisas bonitas, Tem coisas que a gente não tira do coração: todas essas coisas são títulos de canções interpretadas por Roberto Carlos, o "rei" das coisas.

Como ele, uma geração da MPB era preocupada com as coisas. Para Maria Bethânia, o diminutivo de coisa é uma questão de quantidade (afinal, "são tantas coisinhas miúdas"). Já para Beth Carvalho, é de carinho e intensidade ("ô coisinha tão bonitinha do pai").



Todas as Coisas e Eu é título de CD de Gal. "Esse papo já tá qualquer coisa... Já qualquer coisa doida dentro mexe." Essa coisa doida é uma citação da música Qualquer Coisa, de Caetano, que canta também: "Alguma coisa está fora da ordem."

Por essas e por outras, é preciso colocar cada coisa no devido lugar. Uma coisa de cada vez, é claro, pois uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. E tal coisa, e coisa e tal. O cheio de coisas é o indivíduo chato, pleno de não-me-toques. O cheio das coisas, por sua vez, é o sujeito estribado. Gente fina é outra coisa. Para o pobre, a coisa está sempre feia: o salário-mínimo não dá pra coisa nenhuma.


charge de Gilmar

 A coisa pública não funciona no Brasil. Desde os tempos de Cabral. Político quando está na oposição é uma coisa, mas, quando assume o poder, a coisa muda de figura. Quando se elege, o eleitor pensa: "Agora a coisa vai." Coisa nenhuma! A coisa fica na mesma. Uma coisa é falar; outra é fazer. Coisa feia! O eleitor já está cheio dessas coisas! Coisa à toa! Se você aceita qualquer coisa, logo se torna um coisa qualquer, um coisa-à-toa. Numa crítica feroz a esse estado de coisas, no poema Eu, Etiqueta, Drummond radicaliza: "Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente." E, no verso do poeta, "coisa" vira "cousa".


Se as pessoas foram feitas para ser amadas e as coisas, para ser usadas, por que então nós amamos tanto as coisas e usamos tanto as pessoas? Bote uma coisa na cabeça: as melhores coisas da vida não são coisas. Há coisas que o dinheiro não compra: paz, saúde, alegria e outras cositas más. Mas, "deixemos de coisa, cuidemos da vida, senão chega a morte ou coisa parecida", cantarola Fagner em Canteiros, baseado no poema Marcha, de Cecília Meireles, uma coisa linda. Por isso, faça a coisa certa e não esqueça o grande mandamento: "amarás a Deus sobre todas as coisas".




A Coisa - Escultura em aço - 1972
Cacipore Torres
Jardim das Esculturas - Parque Ibirapuera


 Entendeu o espírito da coisa?

terça-feira, 14 de junho de 2011

100 anos de Robert Johnson

Valiosa dica do mestre Wallace.

Sexta feira, 10 de junho, teve início o Chicago Blues Festival com um show em homenagem aos 100 anos do nascimento de Robert Johnson.




Keith Richards demorou a acreditar que apenas um guitarrista tocava na versão original do clássico do blues 'Sweet Home Chicago'. Eric Clapton fez um disco inteiro com suas músicas. Até entre estrelas da nova geração ele continua em alta: John Mayer foi indicado ao Grammy por sua versão de 'Crossroads' e o White Stripes gravou 'Stop Breaking Down' em seu disco de estreia.





Isso sem falar em Led Zeppelin, Bob Dylan, Red Hot Chilli Peppers, todos fãs assumidos de Robert Johnson.

Para saber mais sobre essa homenagem, cliquem aqui

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Pilórdia superando 400.000 acessos!

Em menos de tres anos de apuração e sem nenhuma espécie de divulgação a não ser a troca de informações dos que por aqui navegam e ainda com o agravante desses ultimos meses funcionar num ritmo meia boca, mesmo assim, alcançamos  a excepcional marca de 400.000 visitas.

Nunca em meus pensamentos mais loucos  acreditei que alcançaria este patamar. 

E para comemorar, um almoço a dois!

Valeu, galera!


Valeu Otoniel Costa



Caso não consigam visualizar, cliquem no link abaixo

Versão baiana do Facebook!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Turbulência no voo

Por Miriam Leitão, em O Globo 
Recebido por e-mail.

Fotomontagens de Johil Camdeab


Turbulência no voo
Na política os últimos dias têm sido desastrosos para o governo da presidente Dilma Rousseff. O enfraquecimento do seu ministro mais forte, a intervenção direta do ex-presidente Lula, a falta de clareza na comunicação de temas delicados que vão do aumento patrimonial do ministro Palocci à saúde da presidente, tudo está diminuindo a musculatura do governo.

Argumentos como o que a presidente Dilma usou, de culpar a oposição por estar querendo um suposto terceiro turno, não têm valor significativo. Convence apenas os convencidos, é um discurso para dentro. A opinião pública ainda aguarda que o ministro Antonio Palocci saia do seu estranho e prolongado mutismo a respeito das dúvidas levantadas. É difícil entender, por mais boa vontade que se tenha com o ministro, a coincidência de datas. Exatamente no momento em que ele teve mais demanda no seu trabalho de coordenação da campanha presidencial e da sua própria campanha, e na preparação do novo governo, Palocci teve mais faturamento na consultoria.



Ele está preparando argumentos para respostas institucionais ao Ministério Público. Isso é relevante, mas não suficiente. Através do Congresso ou da imprensa, Palocci tem de sair do seu casulo e esgotar as dúvidas. Não há outro caminho a não ser esse: explicação clara e convincente.

A entrada excessivamente desenvolta do ex-presidente Lula em cena foi um espanto. Todos se comportaram como se ele fosse ainda o chefe da presidente e o dono da bola e do mandato. Distribuiu ordens, mudou estratégias, deu broncas em ministros e foi ouvido e atendido. Em 24 horas de atuação extravagante - e de sinais de subserviência da chefe de governo - Lula conseguiu trazer de volta o maior temor levantado durante a campanha presidencial: que Dilma fosse ser apenas a segunda pessoa em seu próprio mandato. Tudo virou uma aberração institucional.



Na votação na Câmara do novo Código Florestal, ficou explícita a fraqueza do governo. O mandato começou há cinco meses com cálculos dos analistas políticos de que ela teria uma sólida maioria - até maior do que a do governo anterior - e teve na terça-feira uma derrota desmoralizante. Os grandes perdedores foram os que combateram as mudanças no Código, sejam ambientalistas, cientistas, técnicos, partidos menores de oposição; mas o processo de votação revelou um problema político também. Foi a demonstração de que a base se partiu, a grande maioria dos governistas votou contra a orientação e os sinais enviados pelo governo. Faltou coordenação e sobrou ambiguidade em relação ao tema.

arte de Mordillo

O assassinato dos ambientalistas, as notícias de aumento do desmatamento e os sinais dados pela Câmara montaram um quadro de assustador retrocesso na área ambiental, o pior possível para um país que se prepara para sediar uma reunião de cúpula mundial do clima no ano que vem.

Arte de Angeli

Houve uma sucessão enorme de problemas nas obras do PAC desde que o governo começou, mas no caso da Usina de Belo Monte está em curso um fenômeno estranho: o consórcio que ganhou a concorrência está se desfazendo aos poucos. Primeiro saiu a Bertin que, a propósito, tem um problema por semana com seus credores. "O Estado de S. Paulo" publicou semana passada que estão para sair do consórcio a Galvão Engenharia, Serveng, Cetenco, Contern, Mendes Junior e J.Malucelli. O consórcio montado no Planalto, por interferência direta do governo passado, está se desmontando como um castelo de cartas.

Essa debandada mostra que a entrada da Vale não foi por qualquer avaliação sólida da viabilidade econômico-financeira do empreendimento, mas a primeira demonstração de que a empresa segue ordens do Planalto. Mas a Vale não foi o suficiente. Agora, outros terão de entrar para salvar o consórcio.

O empreendimento tem problemas de engenharia, de viabilidade financeira, de custo fiscal, de conflitos diplomáticos, de segurança de produção de energia, ambiental, social e agora também é um problema empresarial. Só a teimosia explica por que não é postergado ou suspenso. Belo Monte é um mau negócio e um alto risco, qualquer que seja o aspecto pelo qual se analise a obra. E é um dos dois projetos que a presidente Dilma pessoalmente defende. O outro é o trem-bala, também uma incógnita do ponto de vista de custo para os cofres públicos.

Arte de Sponholz

Com projetos de infraestrutura duvidosos, uma base parlamentar rebelada, o ministro mais forte acuado, com dúvidas sobre sua saúde e com o ex-presidente dando demonstração de que quer tutelar sua sucessora, a presidente Dilma precisa urgentemente salvar seu próprio governo.

Arte de Luscar

Primeiro, ex-presidente é como o nome diz, um ex. Ela é a dona do mandato, da cadeira, da caneta. De alguma forma isso tem de ficar mais explícito. Uma semana mais dessa exibição de "quem manda aqui sou eu" do presidente e nada mais sobrará do governo Dilma. Segundo, o ministro Palocci tem de sair do esconderijo onde se escondeu e dar as explicações devidas. Terceiro, respostas sobre a saúde da presidente têm de ser dadas com clareza, porque um dos ônus de ter o cargo mais importante da República é o de perder a privacidade em alguns temas, como por exemplo, a saúde.

Em relação ao Código Florestal no Senado, o melhor a fazer é encontrar um relator que consiga trabalhar pela conciliação; não pode ser um senador que já comece dizendo que concorda inteiramente com o texto aprovado na Câmara. Isso deixará à presidente o ônus político do veto.

E ainda Folha / a charge