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quinta-feira, 28 de abril de 2016

Tostão e a nova tecnologia de comunicação

Por Tostão.
Crônica
Saudade e saudosismo
Nesta semana, me disseram que existe na internet algo parecido com “você pergunta, Tostão responde”. Quem me conhece tem certeza de que não sou eu. Espero que as respostas sejam mais interessantes que as que eu daria.

Escrevo apenas para jornais impressos. Não tenho blog, Twitter, Facebook, Instagram, Whatsapp. Nem sequer tenho smartphone.



Uso celular apenas para fazer e receber ligações. Ainda uso caneta, agenda de papel, leio livros com prazer, falo ao telefone ao invés de enviar mensagens escritas, vou à banca para comprar jornais, converso pessoalmente ou por telefone com a gerente para resolver minhas necessidades bancárias e muitas outras coisas que, progressivamente, se tornam obsoletas. Estou perdido no tempo.

Não pense que acho charmoso e que tenho orgulho disso. Com frequência, recebo mensagens para trocar meu celular. Qualquer dia, vão dizer para jogá-lo no lixo e que, se eu não jogar, serei expulso do mundo. A pressão é cada dia maior.

Não associe essa minha resistência ao saudosismo. Sou fascinado pela ciência e pelo conhecimento. Mantenho uma distância, mas admiro esse novo mundo. A internet é um dos fatos mais marcantes e revolucionários da história da civilização humana.

Atualizo-me sobre tudo o que acontece, no futebol, no país e no mundo, pelos noticiários da TV, que filtram todas as informações úteis e inúteis que surgem na internet. Além disso, vejo, diariamente, partidas de futebol, na íntegra, do Brasil e de todo o mundo. Tiro minhas conclusões. Conhecimento não é apenas informação. É também observação.

Não sou saudosista, modernista nem futurista. Não há solução sem conhecimento, mas não me iludo que a ciência explique tudo e que tudo o que acontece em um jogo de futebol é decorrente de estratégias. A vida e o futebol se passam também nas entrelinhas, nos acasos, no não dito e no imponderável.

Os saudosistas falam que o futebol brasileiro precisa voltar à sua essência, como nos anos 1960. O futebol e o mundo mudaram. Temos de aprender com o passado, porém, sem repeti-lo. É preciso separar a nostalgia, a saudade, um delicioso sentimento sem o qual não sobrevivemos, do saudosismo de achar que, “no meu tempo”, tudo era melhor. O tempo passa ou somos nós que passamos?

Por outro lado, existem os modernistas, que não são, necessariamente, pessoas jovens, que se referem ao passado com o enorme distanciamento, às vezes, desprezo, do tipo: “isso é coisa de outra época”, como se houvesse uma completa ruptura e um Fla x Flu entre os saudosistas e os modernistas.

Não há nenhum momento em que aconteça essa divisão. O presente é continuação do passado.

Por causa da globalização, do grande número de jogadores de países diferentes espalhados pelo mundo, há pouca variação de estilo, de estratégia, a não ser as particularidades de cada clube, de cada país e de cada continente.

A técnica, individual e coletiva, a lucidez para tomar decisões, o planejamento, a estratégia e as condições físicas e emocionais passaram a ser mais decisivas que a habilidade e a improvisação, características do futebol brasileiro dos anos 1960. É preciso recuperar a fantasia, a imaginação e o talento individual, porém, com disciplina e organização tática.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Bom senso virou utopia

Por Tostão.
FOLHA SP


Charges de  MARIO ALBERTO

Bom senso virou utopia
Hoje conheceremos os finalistas da Copa do Brasil. Os três melhores times do Brasileirão estão fora. Palmeiras e Fluminense se equivalem. Os dois times são fracos. O Palmeiras, apesar de ter dois atacantes velozes e habilidosos (Dudu e Gabriel Jesus) e um armador de bom passe (Zé Roberto), é o campeão dos chutões e dos gols de bolas aéreas.

Zé Roberto, durante a carreira, foi bem em todas as posições em que jogou. A melhor foi a de segundo volante. Em 2006, estava na seleção da Copa. Mesmo assim, no Palmeiras, às vezes, fica na reserva ou joga de lateral, enquanto o time costuma atuar com dois volantes sem nenhuma habilidade.



Pela pouca qualidade que mostrava durante os jogos, não entendia o Fluminense entre os quatro primeiros no Brasileirão. O time despencou na tabela, antes de Ronaldinho chegar, e colocaram a culpa no jogador. Com Eduardo Baptista, melhorou, mas, contra Cruzeiro e Atlético-PR, o time foi muito mal.

O Santos está quase na final, pois ganhou fora, por 3 a 1. Se não fosse o fraco início do Brasileirão, o time estaria muito melhor na tabela. Dorival Jr. arrumou a defesa. Como é bom ver o veterano Renato jogar. Raramente, erra um passe. Nunca dá a bola para o companheiro marcado.



O São Paulo, quando tem Pato, Ganso, Michel Bastos e Luis Fabiano (ou Alan Kardec), é um time forte para o nível do Brasileirão, apesar de os zagueiros e volantes serem fracos. Precisamos redescobrir os talentos de Pato e Ganso. Eles foram tratados, no início, como grandes craques, sem terem sido. Ultimamente, passaram a ser considerados jogadores comuns, razoáveis, bons. Ambos nos iludiram e nos desiludiram. Não são uma coisa nem outra. São excelentes.

No Brasileirão, o Corinthians tem 20 ou mais pontos acima da turma que luta por uma vaga na Libertadores. A diferença técnica é enorme. Apesar de várias dessas equipes tentarem jogar um futebol moderno, o nível técnico é baixo.



Nos anos 1960 e 1970, os melhores times e jogadores que atuavam no Brasil eram superiores aos melhores da Europa. Hoje, a realidade é outra. O Brasileirão tem nível técnico de segunda divisão em relação às melhores equipes do mundo, o que não significa que todos os clássicos europeus são ótimos. Manchester City e Manchester United fizeram um jogo ruim, pior do que muitos do Brasileirão.

Alguns comentaristas, por convicção, por querer valorizar nossos campeonatos e pelo entusiasmo com o Brasileirão, perdem o bom senso e as referências.

Escutei alguns disparates, como os de que o Corinthians está no mesmo nível de Barcelona, Real Madrid e Bayern, que Renato Augusto, um dos candidatos a melhor do Brasileirão, deveria estar entre os 23 melhores da Fifa, que Douglas Costa poderá estar no mesmo nível de Neymar no Mundial de 2018, e que Careca, excepcional centroavante, convidado para a integrar a comissão técnica do Brasil nos dois próximos jogos, é superior a Cristiano Ronaldo.

O bom senso está cada dia mais distante. Tornou-se algo inatingível, uma utopia.