quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Bom senso virou utopia

Por Tostão.
FOLHA SP


Charges de  MARIO ALBERTO

Bom senso virou utopia
Hoje conheceremos os finalistas da Copa do Brasil. Os três melhores times do Brasileirão estão fora. Palmeiras e Fluminense se equivalem. Os dois times são fracos. O Palmeiras, apesar de ter dois atacantes velozes e habilidosos (Dudu e Gabriel Jesus) e um armador de bom passe (Zé Roberto), é o campeão dos chutões e dos gols de bolas aéreas.

Zé Roberto, durante a carreira, foi bem em todas as posições em que jogou. A melhor foi a de segundo volante. Em 2006, estava na seleção da Copa. Mesmo assim, no Palmeiras, às vezes, fica na reserva ou joga de lateral, enquanto o time costuma atuar com dois volantes sem nenhuma habilidade.



Pela pouca qualidade que mostrava durante os jogos, não entendia o Fluminense entre os quatro primeiros no Brasileirão. O time despencou na tabela, antes de Ronaldinho chegar, e colocaram a culpa no jogador. Com Eduardo Baptista, melhorou, mas, contra Cruzeiro e Atlético-PR, o time foi muito mal.

O Santos está quase na final, pois ganhou fora, por 3 a 1. Se não fosse o fraco início do Brasileirão, o time estaria muito melhor na tabela. Dorival Jr. arrumou a defesa. Como é bom ver o veterano Renato jogar. Raramente, erra um passe. Nunca dá a bola para o companheiro marcado.



O São Paulo, quando tem Pato, Ganso, Michel Bastos e Luis Fabiano (ou Alan Kardec), é um time forte para o nível do Brasileirão, apesar de os zagueiros e volantes serem fracos. Precisamos redescobrir os talentos de Pato e Ganso. Eles foram tratados, no início, como grandes craques, sem terem sido. Ultimamente, passaram a ser considerados jogadores comuns, razoáveis, bons. Ambos nos iludiram e nos desiludiram. Não são uma coisa nem outra. São excelentes.

No Brasileirão, o Corinthians tem 20 ou mais pontos acima da turma que luta por uma vaga na Libertadores. A diferença técnica é enorme. Apesar de várias dessas equipes tentarem jogar um futebol moderno, o nível técnico é baixo.



Nos anos 1960 e 1970, os melhores times e jogadores que atuavam no Brasil eram superiores aos melhores da Europa. Hoje, a realidade é outra. O Brasileirão tem nível técnico de segunda divisão em relação às melhores equipes do mundo, o que não significa que todos os clássicos europeus são ótimos. Manchester City e Manchester United fizeram um jogo ruim, pior do que muitos do Brasileirão.

Alguns comentaristas, por convicção, por querer valorizar nossos campeonatos e pelo entusiasmo com o Brasileirão, perdem o bom senso e as referências.

Escutei alguns disparates, como os de que o Corinthians está no mesmo nível de Barcelona, Real Madrid e Bayern, que Renato Augusto, um dos candidatos a melhor do Brasileirão, deveria estar entre os 23 melhores da Fifa, que Douglas Costa poderá estar no mesmo nível de Neymar no Mundial de 2018, e que Careca, excepcional centroavante, convidado para a integrar a comissão técnica do Brasil nos dois próximos jogos, é superior a Cristiano Ronaldo.

O bom senso está cada dia mais distante. Tornou-se algo inatingível, uma utopia.