sábado, 30 de janeiro de 2010

Traduzindo o Baianês! - XVIII / 3º ato.

(Para reler os dois atos anteriores, clique aqui e aqui )

Especial Traduzindo o Baianês
capítulo XVIII
3º ato.

Forte de São Marcelo, na Baía de Todos od Santos
Foto de Arlindo von Flach


O Baianês na briga de rua
(cont.)

Esqueci de dizer que logo que o primeiro chega-prá-lá (empurrão) foi dado, "as menina" (mulherada) deram no pé (correram logo) que não iam ficar vendo briga de "homi" que pensa que é "homi" só porque tá "brigano".

Outro que eu já ia esquecendo de falar e nunquinha que eu podia esquecer era o Manoel que é mesmo que um lorde (educado, arrumado) e é o orgulho desse rebanho de sacana (grupo de pessoas) que anda aqui na visgueira devido ser o pai daquela "minina"  que o Brasil todo arregala o olho quando vê e quando ouve, a Emanuelle Araújo.

Então, toda vez que ele chega no cacete-armado (barzinho, boteco) fica todo mundo de zóinho cumprido, com aqueles zóim de pidão  fazendo figa (torcendo) prá vê se ele traz a filha com ele mas o miseráve nem tchum prá gente (nem te ligo, não quero nem saber).

num foi que na hora do rebuliço ele saiu de fininho, quase que 'a francesa, dizendo que tava na hora de andar no calçadão da orla, que todo dia ele fazia isso, que tinha de manter a forma e pererê, caixa de fósforo (etc e tal) mas eu,  no meu jeito de ver, acho que foi uma culhuda (mentira) danada da boa ainda mais que ele tava de mocassim (sapato de couro), mas quem vai dizer que ele táva errado?

Retado (capaz, quem resolve as coisas) mesmo foi o  Mingo,  que é macaco-velho (experiente, vivido) e  tem uma barraca de jogo do bicho encostado ao boteco, foi quem mostrou cabeça-fria pois quando viu o miserê (confusão) e antes que uma miséra (desgraça) maior acontecesse, tratou de apagar (desligar) logo o fogo do bujão (botijão) de gás que tava do lado do tabuleiro da baiana de acarajé, a Jeanne - aquela do pandeiro (bunda) que é uma belezura e que saiu logo do meio do furdunço que não era besta de ficar para "pegá" sobra de falapau (confusão) de marmanjo.

Olodum no Pelourinho

Nesse meio tempo, já tinha uma ruma de gente (muita gente) envolvida na bagaceira (briga) que até o Maradona - um argentino que veio tentar a vida nessa nossa terra do Senhor do Bonfim que é o novo dono da visgueira  em vez de tentar apaziguar (acalmar) para proteger seu patrimônio foi é tirar uma diferença (coisa antiga, guardada) que tinha com o antigo dono, o Sérgio Pitbull, que aliás também é torcedor do Bahia, o que mostra que é gente boa e sensata.

Só que nessa o argentino se estrepou (se deu mal) já que Sérgio não tinha esse apelido de pitbull 'a toa (de graça) - ele tinha tomado muito mingau de cachorro (mingau feito de farinha de mandioca e água) quando pequeno lá em Mundo Novo, no interior da Bahia, prá dá sustança (força, energia). A prova é que ele tinha uns mocotó (canela da perna, tornozelo) grande como quê (demais).

Aí já viu o placar, né? A capoeira deu uns 10 a zero no tango, sem suar a camisa...

E o Ito, sabem quem é nele não? um cara miseravão (cara retado, que resolve qualquer parada) que nem ele só, que mal tinha acabado de chegar e sem saber nem o que tava acontecendo já foi "meteno" um sapeca iaiá (cacetada) em Chicão que por outro lado também tinha vindo do nada, só que com outra tenção (intensão, objetivo) a de desapartar a briga (separar, acabar).

Nisso, Chiquinho que é um tampinha-de-binga (baixinho) mas sacana que ele só (me lembra muito aquele frade baixinho de Henfil - escrôôôto!), foi lá acudir (ajudar) e no embalo ainda deu uma regulagem da porra (esporro) em Chicão, que depois ficou "falano" sozinho sentado no meio fio:

- mais nunca (nunca mais) que eu entro numa briga no despartido (na desvantagem), levei um trompaço (porrada) no meio da cara que fiquei até falando fonhém (fanhoso) e aínda ouvi o maior lero (conversa fiada) de Chiquinho.

Certo tava foi o Max que ficou de fora, fumando seu "cigarrinho de palha" e pensando no carnaval que tá chegando, de como vai fazer prá arranjar a bufunfa (o dinheiro) prá comprar o abadá, já que na pipoca (folião que brinca do lado de fora das cordas) ele não brinca mais não, que é esparro (fria)...

Bem, eu falei do certo que foi o Max agora falo do errado que foi o mofino do, do ... (não vou encanar não, que não sou dedo-duro) que saiu nas carreira gritando que não era com ele, que ele torcia era pro Ypiranga, um time que até já tinha acabado quando ele nem nascido era ainda. Êta, cara frouxo!


(Fim do 3º ato - amanhã finalmente chegaremos aos finalmente!)

Isto é uma estorinha inventada,
qualquer parecença é mera cagada!

Isto é uma obra de ficção,
qualquer semelhança é mera coincidência!

Fontes:
Expressões e terminologias
- Entreouvidos nas ruas, becos, bares, botecos e cacetes-armados;
- Dicionário de Baianês, de Nivaldo Lariú

Texto de apoio
- de minha autoria (Ói, me deixe, viu! - Por favor, não toque nesse assunto, tá? mas querendo que toque!)