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sábado, 30 de abril de 2016
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
Futebol - Cotas da TV Globo
Por André Barcinski.
Quando eu era criança, havia na rua um menino cujo nome não lembro agora, mas que chamarei de Mauricinho. O pai de Mauricinho era rico e cobria o filho de mimos. Na pelada da rua, enquanto todos jogavam com uma bola Dente de Leite ovalada, Mauricinho aparecia com uma Adidas de couro. Todo mundo queria jogar no time de Mauricinho, porque ele trazia uniformes e presenteava a molecada com camisas oficiais. Assim, podia escolher os jogadores que quisesse e vencia todas as peladas.
Quando leio sobre as cotas de TV que a Rede Globo pagará aos clubes brasileiros a partir de 2016, me lembro de Mauricinho, o playboy. Porque a Globo age como o paizão rico que faz de tudo para que seu filhinho ganhe todas as peladas. No caso, seus dois filhinhos: Corinthians e Flamengo. Timãoricinho e Flaboy.
Até 2011, as cotas de TV eram razoavelmente justas. A diferença entre os times do topo (R$ 25 milhões) e os de baixo (R$ 13 milhões) não chegava ao dobro. Em 2016, entretanto, Corinthians e Flamengo receberão R$ 170 milhões, quase cinco vezes o que caberá aos menos favorecidos (R$ 35 milhões) e quase três vezes a cota de Cruzeiro, Atlético-MG, Inter, Grêmio, Fluminense e Botafogo (R$ 60 milhões). O terceiro clube do ranking, o São Paulo, receberá R$ 60 milhões a menos que os dois preferidos da Globo.
Nada justifica essa disparidade. Os números que deveriam interessar à Globo, os de audiência, não são tão diferentes assim. Mas a emissora faz de tudo para criar um abismo entre os clubes. O objetivo parece ser transformar o Brasileirão em um campeonato semelhante ao espanhol, onde Barcelona e Real Madrid recebem muito mais que os outros e dominam os títulos (no mesmo dia em que o Barcelona venceu com facilidade o River Plate, campeão sul-americano, o Real Madrid marcou 10 a 2 no Rayo Vallecano ).
Para isso, a emissora conta com a incompetência dos outros clubes, que assistem a tudo calados, não organizam um boicote e, de pires na mão, aceitam o que a Globo paga, sem entender que esse processo é irreversível e resultará em campeonatos cada vez menos equilibrados.
E o favorecimento não termina aí: segundo notícias recentes, a Globo teria aceitado mencionar em suas transmissões o nome da empresa que comprar os "naming rights" da Arena Corinthians, enquanto continua a chamar o Allianz Parque de "Arena Palmeiras".
E Corinthians e Flamengo, estão confortáveis com essa situação? Aparentemente, sim: segundo Ricardo Perrone, colunista do UOL, empresa do Grupo Folha, que edita a Folha, o time paulista já teria recebido da Globo a garantia de que a diferença de valor em relação aos outros times será mantida em contratos vindouros. É o triunfo do capitalismo à brasileira, onde a competição não é incentivada, mas aniquilada. Como dizem por aí, 7 a 1 foi pouco.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa
Por David Coimbra
Crônicas
Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa
Sempre fico tenso com aquela vinheta de fim de ano da Globo, “Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa”.
Sei que aquilo é feito para me animar, para lançar meu espírito rumo ao firmamento e fazer-me sonhar docemente com as alvíssaras do novo dia de um novo tempo.
Mas não consigo.
Olho para as cenas de todos aqueles artistas tão felizes e penso justamente no que não vejo. O Bonner está lá, bem faceiro, que ele é um tipo faceiro. O Jô Soares também, embora seu sorriso ande meio torto. A Carolina Dieckmann, dourada e lânguida, é o próprio verão carioca.
Mas e os que não apareceram?
Imagino aquele ator de, digamos, Malhação. Ele vibrou, quando foi convocado por e-mail para a gravação. Contou para a mãe, para a namorada, para os amigos:
_ Vou aparecer na vinheta de fim de ano da Globo!
Todos aplaudiram, excitados. Urru! E ele passou os dias decorando a letra e a coreografia. Batia com as mãos no peito, estalava os dedos e cantava, contente, acreditando na letra da canção:
_ Todos nossos sonhos serão verdade! O futuro já começou!
No dia aprazado, lá se foi ele, vestido de branco da cabeça aos pés. Antes de sair, a mãe mandou que tirasse a camisa e passou-a a ferro com critério. Não ia deixar o filho aparecer para o Brasil inteiro vestindo aquela camisa que parecia que ele tinha guardado dentro da garrafa.
Foi um longo dia de gravações, da manhã à noite, horas e horas intercaladas por sanduíches vulgares e sucos mornos. Quando ele voltou para casa, a família o cercou, dardejando-o com perguntas:
_ Como foi? Como foi?
_ Muito legal. Conheci o Faustão!
Na noite em que a vinheta seria lançada, ele se reuniram em frente à TV. Estavam todos, entre sorridentes e ansiosos: a família orgulhosa, os amigos dando-lhe tapinhas nas costas, a namorada fazendo olhares de promessas, veio até aquele primo-irmão que morava em Bento Gonçalves.
No intervalo do Jornal Nacional, a musiquinha explodiu:
“Hoje é o novo dia...”
Mas cadê o nosso herói?
_ Cadê você? _ Perguntavam. _ Cadê? Cadê?
Maldição! Bem que disseram que ele tinha de ir naquele bolo para abraçar a Regina Duarte. Aqueles é que eram espertos. Cadê? Cadê? De repente, ele apontou para a tela:
_ Ali! Ali!
_ Onde?
_ Ali!
_ Com o Galvão Bueno?
_ Não! Do lado do Francisco Cuoco!
_ Aquele é você?
Era. Mas o Jornal Nacional já recomeçou...
Então, o ator de Malhação deve ter rilhado os dentes e, pensando em todas as vezes em que deram close no Tony Ramos balançando os braços cebeludos, jurou:
_ Ainda vou dar o troco, Tony! Ainda vou!
Lembre-se disso, quando você vir a vinheta da Globo. E entenda como se sente o Michel Temer.
domingo, 22 de novembro de 2015
Plim Plim, é a Rede Globo alienando o Brasil
Sugestão de Otoniel Neto
Por Vanessa Bárbara
Link
Opinião: Rede Globo, a "TV irrealidade" que ilude o Brasil
Gigante da mídia cativa os telespectadores com novelas vazias e comentários ineptos no noticiário.
No ano passado, a revista "The Economist" publicou um artigo sobre a Rede Globo, a maior emissora do Brasil. Ela relatou que "91 milhões de pessoas, pouco menos da metade da população, a assistem todo dia: o tipo de audiência que, nos Estados Unidos, só se tem uma vez por ano, e apenas para a emissora detentora dos direitos naquele ano de transmitir a partida do Super Bowl, a final do futebol americano".
Arte de DUKE
Esse número pode parecer exagerado, mas basta andar por uma quadra para que pareça conservador. Em todo lugar aonde vou há um televisor ligado, geralmente na Globo, e todo mundo a está assistindo hipnoticamente.
Sem causar surpresa, um estudo de 2011 apoiado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontou que o percentual de lares com um aparelho de televisão em 2011 (96,9) era maior do que o percentual de lares com um refrigerador (95,8) e que 64% tinham mais de um televisor. Outros pesquisadores relataram que os brasileiros assistem em média quatro horas e 31 minutos de TV por dia útil, e quatro horas e 14 minutos nos fins de semana; 73% assistem TV todo dia e apenas 4% nunca assistem televisão regularmente (eu sou uma destes últimos).
Entre eles, a Globo é ubíqua. Apesar de sua audiência estar em declínio há décadas, sua fatia ainda é de cerca de 34%. Sua concorrente mais próxima, a Record, tem 15%.
Assim, o que essa presença onipenetrante significa? Em um país onde a educação deixa a desejar (a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico classificou o Brasil recentemente em 60º lugar entre 76 países em desempenho médio nos testes internacionais de avaliação de estudantes), implica que um conjunto de valores e pontos de vista sociais é amplamente compartilhado. Além disso, por ser a maior empresa de mídia da América Latina, a Globo pode exercer influência considerável sobre nossa política.
Arte de BESSINHA
Um exemplo: há dois anos, em um leve pedido de desculpas, o grupo Globo confessou ter apoiado a ditadura militar do Brasil entre 1964 e 1985. "À luz da História, contudo", o grupo disse, "não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original".
Com esses riscos em mente, e em nome do bom jornalismo, eu assisti a um dia inteiro de programação da Globo em uma terça-feira recente, para ver o que podia aprender sobre os valores e ideias que ela promove.
A primeira coisa que a maioria das pessoas assiste toda manhã é o noticiário local, depois o noticiário nacional. A partir desses, é possível inferir que não há nada mais importante na vida do que o clima e o trânsito. O fato de nossa presidente, Dilma Rousseff, enfrentar um sério risco de impeachment e que seu principal oponente político, Eduardo Cunha, o presidente da Câmara, está sendo investigado por receber propina, recebe menos tempo no ar do que os detalhes dos congestionamentos. Esses boletins são atualizados pelo menos seis vezes por dia, com os âncoras conversando amigavelmente, como tias velhas na hora do chá, sobre o calor ou a chuva.
A partir dos talk shows matinais e outros programas, eu aprendi que o segredo da vida é ser famoso, rico, vagamente religioso e "do bem". Todo mundo no ar ama todo mundo e sorri o tempo todo. Histórias maravilhosas foram contadas de pessoas com deficiência que tiveram a força de vontade para serem bem-sucedidas em seus empregos. Especialistas e celebridades discutiam isso e outros assuntos com notável superficialidade.
Arte de MILLOR
Eu decidi pular os programas da tarde – a maioria reprises de novelas e filmes de Hollywood – e ir direto ao noticiário do horário nobre.
Há dez anos, um âncora da Globo, William Bonner, comparou o telespectador médio do noticiário "Jornal Nacional" a Homer Simpson –incapaz de entender notícias complexas. Pelo que vi, esse padrão ainda se aplica. Um segmento sobre a escassez de água em São Paulo, por exemplo, foi destacado por um repórter, presente no jardim zoológico local, que disse ironicamente "É possível ver a expressão preocupada do leão com a crise da água".
Assistir à Globo significa se acostumar a chavões e fórmulas cansadas: muitos textos de notícias incluem pequenos trocadilhos no final ou uma futilidade dita por um transeunte. "Dunga disse que gosta de sorrir", disse um repórter sobre o técnico da seleção brasileira. Com frequência, alguns poucos segundos são dedicados a notícias perturbadoras, como a revelação de que São Paulo manteria dados operacionais sobre a gestão de águas do Estado em segredo por 25 anos, enquanto minutos inteiros são gastos em assuntos como "o resgate de um homem que se afogava causa espanto e surpresa em uma pequena cidade".
O restante da noite foi preenchido com novelas, a partir das quais se pode aprender que as mulheres sempre usam maquiagem pesada, brincos enormes, unhas esmaltadas, saias justas, salto alto e cabelo liso. (Com base nisso, acho que não sou uma mulher.) As personagens femininas são boas ou ruins, mas unanimemente magras. Elas lutam umas com as outras pelos homens. Seu propósito supremo na vida é vestir um vestido de noiva, dar à luz a um bebê loiro ou aparecer na televisão, ou todas as opções anteriores. Pessoas normais têm mordomos em suas casas, que são visitadas por encanadores atraentes que seduzem donas de casa entediadas.
Duas das três atuais novelas falam sobre favelas, mas há pouca semelhança com a realidade. Politicamente, elas têm uma inclinação conservadora. "A Regra do Jogo", por exemplo, tem um personagem que, em um episódio, alega ser um advogado de direitos humanos que trabalha para a Anistia Internacional visando contrabandear para dentro dos presídios materiais para fabricação de bombas para os presos. A organização de defesa se queixou publicamente disso, acusando a Globo de tentar difamar os trabalhadores de direitos humanos por todo o Brasil.
Apesar do nível técnico elevado da produção, as novelas foram dolorosas de assistir, com suas altas doses de preconceito, melodrama, diálogo ruim e clichês.
Mas elas tiveram seu efeito. Ao final do dia, eu me senti menos preocupada com a crise da água ou com a possibilidade de outro golpe militar –assim como o leão apático e as mulheres vazias das novelas.
*Vanessa Barbara é uma colunista do jornal "O Estado de São Paulo" e editora do site literário "A Hortaliça".
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