segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Revivendo o baile da Ilha fiscal

Coluna de Carlos Brickman

Ação, reação, xeque-mate
O Governo demorou para encontrar o caminho da reação, mas o trabalho que realiza contra a Operação Lava Jato é hoje visível: corte de verbas da Polícia Federal, intensa mobilização de jornalistas aliados, especialmente nas redes virtuais, mas não exclusivamente nela, contra delegados, promotores e o juiz Sérgio Moro (só no dia 7, esta coluna recebeu, de apenas um dos profissionais engajados, quatro ataques pesados ao juiz e à PF - num deles, fala-se em "quadrilha Moro"), tentativas de vitimizar os inocentes pixulequeiros presos em Curitiba.

Arte de SAMUCA


Diante do risco de abafamento das investigações, há quem diga que documentação sobre o escândalo acabou em mãos dos equivalentes americanos à PF e ao Ministério Público. As investigações dos EUA tocam em dois temas: primeiro, o envolvimento de cidadãos, sistema financeiro e empresas dos EUA no Petrolão (lá é crime); segundo, o processo que investidores em títulos da Petrobras na Bolsa de Nova York movem contra a empresa, pedindo reposição das perdas que tiveram com a redução dos lucros causada pela pixulecagem e a consequente diminuição do valor dos papeis em seu poder. É coisa grande, de algumas dezenas de bilhões de dólares. Até um acordo giraria em torno de cifras monumentais.






É o xeque-mate na tentativa de abafar as investigações: lá não há como bloqueá-las. Como provou o caso Marin, se houve uso de empresas americanas nas manobras, eles investigam e divulgam tudo. E, como no caso das Mãos Limpas, na Itália, o farol que orienta Moro, se a justiça for feita sua missão está cumprida.









A festa continua
A monarquia brasileira balançava, e a Corte promoveu um grande baile na Ilha Fiscal, no Rio, em homenagem à tripulação do navio chileno Almirante Cochrane. Custou 10% do orçamento anual do Rio de Janeiro. Seis dias depois, o imperador foi deposto. 

A história se repete: o Rio está sem dinheiro para atender a seus doentes, faltam remédios básicos nos hospitais, mas o Palácio Laranjeiras, que não é nem onde mora o governador nem onde trabalha, está sendo reformado para que Sua Excelência possa praticar natação. Orçamento: R$ 2,3 milhões.