sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Onde está a honestidade?

Por Carlos Brickman.

Onde está a honestidade?
Só política, só bandidagem, só ladroeira. Parece que todas as páginas dos jornais foram destinadas ao noticiário do crime - ora é crime a mão armada, ora é crime por propina dada, ora é crime de verba desviada, ora é crime cometido por amigos do peito, ao lado dele, e ele não sabia de nada. Nada como um assunto mais leve - música, por exemplo. Um bom disco de Noel - ele compôs (em parceria com Francisco Alves), ele mesmo canta. Noel Rosa, lembremos, era o Chico Buarque da época - uma quase unanimidade.

O samba é um clássico: "Onde está a honestidade?" Que bela letra! "Você tem palacete reluzente/ Tem joias e criados à vontade/ Sem ter nenhuma herança nem parente/ Só anda de automóvel na cidade/ E o povo já pergunta com maldade/ Onde está a honestidade?/ Onde está a honestidade?"

Mais: "O seu dinheiro nasce de repente/ E embora não se saiba se é verdade/ Você acha nas ruas diariamente/ Anéis, dinheiro e até felicidade/ E o povo já pergunta com maldade/ Onde está a honestidade?/ Onde está a honestidade?"


Não, nada que se refira à disputa para ver quem é a viva alma mais honesta do país. É um samba antigo, gravado em 1934. Nada a ver, como se nota (nota? Evitemos o duplo sentido: "como se percebe", que tal?), com pixulecos, mochilas e malinhas com alta capacidade de carga, até R$ 500 mil cada uma (na época, a moeda nem era o real: era ainda o mil-réis). Tudo bem, sempre alguém vai achar que o velho samba, tão eterno, se refere a fatos atuais. 

Até pode parecer, né?

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