segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Dinheiro vivo? Na Suécia é coisa do passado

Reportagem da New York Times.
Transcrita da UOL

Os fiéis pagam o dízimo por mensagem de texto para a igreja. Vendedores ambulantes sem-teto têm máquinas de cartão de crédito sem fio. Até o Museu Abba, apesar de ser um santuário em homenagem ao grupo pop dos anos 1970 que escreveu "Money, Money, Money", considera o dinheiro uma coisa tão século passado que não aceita cédulas nem moedas.


Arte de CAÓ

Poucos lugares estão caminhando para um futuro sem dinheiro tão rápido quanto a Suécia, que aderiu à conveniência de pagar contas com aplicativos e cartões.

Este país avançado tecnologicamente, lar do serviço de música Spotify e da produtora dos jogos Candy Crush para celular, foi atraído pelas inovações que facilitam os pagamentos digitais. É também uma questão prática, já que muitos dos bancos do país não aceitam mais dinheiro em espécie.

No Museu Abba, "não queremos ficar para trás, aceitando dinheiro uma vez que o dinheiro está acabando", disse Bjorn Ulvaeus, ex-membro do Abba que transformou o legado da banda num crescente império de negócios, que inclui o museu.

Nem todo mundo está feliz. A adoção dos pagamentos eletrônicos na Suécia tem alarmado as organizações de consumidores e os críticos que alertam para uma ameaça crescente à privacidade e uma maior vulnerabilidade a crimes sofisticados pela internet. No ano passado, o número de casos de fraudes eletrônicas subiu para 140 mil, mais que o dobro de uma década atrás, segundo o Ministério da Justiça da Suécia.




Os mais velhos e os refugiados que vivem na Suécia poderão ser marginalizados por utilizar dinheiro, dizem os críticos. E os jovens que usam aplicativos para pagar tudo ou tomam empréstimos pelo celular podem ficar endividados.

"Isso pode estar na moda", disse Bjorn Eriksson, ex-diretor da polícia sueca e ex-presidente da Interpol. "Mas existe todo tipo de risco quando uma sociedade deixa de usar dinheiro."

Porém, defensores como Ulvaeus citam a segurança pessoal como uma razão para os países pararem de usar dinheiro. Ele passou a usar só cartão e pagamentos eletrônicos depois que o apartamento de seu filho em Estocolmo foi assaltado duas vezes há alguns anos.

"Ficamos muito inseguros", disse Ulvaeus, que não carrega nenhum dinheiro. "Isso me fez pensar: o que aconteceria se vivêssemos numa sociedade sem dinheiro e os ladrões não pudessem vender o que roubaram?"

As cédulas e moedas agora representam apenas 2% da economia da Suécia, em comparação com 7,7% nos Estados Unidos e 10% na zona do euro. Este ano, apenas um quinto de todos os pagamentos de consumidores na Suécia foram feitos em dinheiro, em comparação com uma média de 75% no resto do mundo, de acordo com a Euromonitor International.

Os cartões ainda imperam na Suécia --com quase 2,4 bilhões em transações de crédito e débito em 2013, em comparação com os 213 milhões de 15 anos atrás. Mas até mesmo os cartões estão enfrentando concorrência, à medida que um número crescente de suecos usa aplicativos para o comércio cotidiano.

Em mais de metade das agências dos maiores bancos do país, incluindo o SEB, Swedbank, Nordea Bank e outros, não há nenhum dinheiro em estoque e não são aceitos depósitos em dinheiro. Eles dizem que estão economizando muito em segurança ao retirar o incentivo para os assaltos a bancos.

No ano passado, os cofres dos bancos suecos tinham cerca de 3,6 bilhões de coroas em notas e moedas, em comparação com 8,7 bilhões em 2010, de acordo com o Banco de Pagamentos Internacionais. Máquinas de saque, que são controladas por um consórcio de bancos suecos, estão sendo retiradas às centenas, especialmente nas áreas rurais.