quarta-feira, 7 de outubro de 2015

O Brasil parece um circo onde os palhaços brilham

Por Clovis Rossi.

Palhaçada
Se eu fosse dono da Folha, substituiria todos os colunistas do caderno "Poder" pelo José Simão. Não que eles não sejam competentes. São, mas são sérios -e a crise brasileira só é séria na economia. Mas, aí, Vinicius Torres Freire trata do assunto com uma competência e clareza cada dia melhores.

Na política, temos uma palhaçada como só se viu, recentemente, em alguns momentos do desastre Fernando Collor de Mello.

Arte de PATER


O único colunista plenamente equipado com humor cáustico à altura do noticiário político é o Zé Simão.

Na quinta-feira, 1º, por exemplo, parecia cena de pastelão a sessão da Câmara presidida por Eduardo Cunha, incapaz de ter a coragem e a decência de olhar para Chico Alencar (PSOL-RJ) enquanto este cobrava o elementar, uma explicação de Cunha sobre as contas que a Suíça diz que ele tem.

Feita a cobrança, Cunha fingiu que não era com ele e continuou com a sessão, para desalento do deputado socialista, um dos raros Quixotes remanescentes em uma cena política degradada a níveis insuportáveis.


Arte de BRUNO AZIZ


Na minha santa ingenuidade, imaginei que haveria no plenário um coro de protestos diante do cínico silêncio de Cunha. Nada: a vida seguiu como se se estivesse discutindo dar o nome de uma praça a Eduardo Cunha.

Uma praça na Suíça, talvez.

Aí vem a pantomima do anúncio da reforma ministerial. A presidente faz toda uma mise-en-scène, como se de fato se tratasse de um elevado momento republicano.


Arte de SPONHOLZ


Todo o mundo sabe que se tratava apenas de confirmar a entrega do governo, sem que tivesse havido eleição ou impeachment no meio, de um lado a Luiz Inácio Lula da Silva e a seus homens de confiança e, de outro, ao mais rastaquera do peemedebismo.

Agora, a pátria tem, em vez de aberrantes 39 ministérios, 31 aberrantes ministérios, o que, sem dúvida, vai resolver todos os problemas.

Como se fosse pouco, o novo ministro da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, é acusado por um doleiro, o mais famoso personagem da Lava Jato, de ser "pau-mandado" de Eduardo Cunha, o aliado-agora-desafeto de Dilma e do governo.


Arte de ZOP


Calma, leitor, não terminou: o novo ministro da Saúde, Marcelo Castro (Marcelo quem?), sugere que volte a tão combatida CPMF em dose dupla, no débito e no crédito.

Castro é do PMDB, o mesmo partido de um certo Michel Temer, que já disse, uma e mil vezes, que é contra a CPMF.

É até possível que Dilma, com a ridícula reforma ministerial, tenha comprado tempo e impetrado habeas corpus preventivo contra o impeachment.


Arte de PASSOFUNDO


Mas eu desconfio que o que de melhor aconteceu a ela, na semana que passou, foi a denúncia sobre Eduardo Cunha. Se a Câmara não perdeu completamente a vergonha, Cunha precisa ser afastado urgentemente da presidência da Casa.

E, sem ele na presidência, o impeachment deixará de ser um instrumento de vingança pessoal brandido contra a presidente para se tornar uma hipótese só sustentável ante a evidência de algum crime de responsabilidade, o que, até agora, não existe.

O resto é com você, caro Zé Simão.