terça-feira, 6 de outubro de 2015

Explicando os 39 ministérios de antes

Por Ruy Castro.

Poupar em cinismo
O presidente Afonso Pena (1903-1906) achou pouco governar com sete ministérios e criou mais um: o da Agricultura. E olhe que, como se aprendia na escola, o Brasil era um "país essencialmente agrícola". Getulio foi ditador com dez ministérios e presidente constitucional, com 11. Mesmo número com que Juscelino produziu "50 anos em cinco" –e, quando construiu Brasília, previu uma Esplanada dos Ministérios com 19 prédios, achando que chegariam até para o governante mais megalô.

Arte de IOTTI


Mas JK não contava com que, nos governos militares e civis que o sucederiam, alguns ministérios se dividiriam como amebas e outros se multiplicariam como coelhos, até chegarmos, com Dilma, ao mágico número atual – 39 pastas. Isso pode explicar em parte a colossal ineficiência deste governo, notável até pelos padrões do PT – os ministros devem colidir nos corredores ao tratar do mesmo assunto.

Por exemplo, há o Ministério da Agricultura e o do Desenvolvimento Agrário. Por quê? Há o ministério da Defesa e o da Segurança Institucional. Há o do Planejamento e o de Assuntos Estratégicos. E, se há o da Justiça, o que faz o de Direitos Humanos? E, se há o de Direitos Humanos, para que servem o de Políticas para Mulheres e o da Igualdade Racial?

Arte de SPONHOLZ


Há o Ministério de Cidades e há também o da Integração Nacional. Há o do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e também o das Pequenas e Médias Empresas. E, se há o Ministério dos Transportes, para que servem o dos Portos e o da Aviação Civil? O ministro do Turismo é um engenheiro agrônomo. O dos Esportes é um pastor evangélico. O da Pesca é um filho de senador. E não ria, mas o Ministério das Relações Institucionais trata das relações com o Congresso.

Podem-se fechar 2/3 desses ministérios. Talvez não poupe muito dinheiro. Mas faria poupar em cinismo.