sexta-feira, 24 de julho de 2015

A saída para a Odebrecht é a delação

Por Helio Gurovitz

Charges de DÀLCIO


A saída para a Odebrecht é a delação
Quando a Operação Lava Jato começou, os investigadores logo descobriram que o doleiro Alberto Yousseff não fora usado pela empreiteira Odebrecht para distribuir recursos. O presidente da Odebrecht proclamava sua inocência. Graças a uma investigação em colaboração com o Ministério Público da Confederação suíça, a versão dele veio por terra. O relatório suíço a respeito das contas mantidas por empresas ligadas à empreiteira Odebrecht não deixa muita dúvida sobre o caminho do dinheiro delas até os acusados da Lava Jato.



De acordo com o relatório, dez empresas offshore alimentadas pela Odebrecht foram usadas para levar os recursos até empresas offshore dos ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa (Sagar Holding, Quinus e Sygnus), Renato Duque (Milzart Overseas), Jorge Zelada (Tudor Advisors) e Nestor Cerveró (Forbal) e do ex-gerente Pedro Barusco (Pexo e BlueSky). 

Em alguns casos, o dinheiro passava antes por uma outra empresa offshore, também ligada à Odebrecht, em Antígua e Barbuda, Áustria ou Panamá. Essas offshores, alimentadas pela Odebrecht ou por suas subsidiárias em Angola, Venezuela, República Dominicana ou na própria Suíça, se chamavam Smith & Nash, Havinsur, Golac Projects and Construction Corp, Sherkson International, Rodira Holdings (todas na Suíça), Klienfeld Services e Innovation (Antígua), Constructora Internacional del Sur (Panamá), e Arcadex (Áustria) e Arcadex Corp (Suíça). O sigilo bancário de todas as operações com essas empresas foi quebrado pelo juiz Sérgio Moro, a pedido do Ministério Público Federal.



Os valores e a trajetória dos recursos recebidos, segundo o relatório, estão detalhados em cada caso:

1) Paulo Roberto Costa
US$ 3,46 milhões (diretamente na Sagar)
US$ 890 mil (via Constructora del Sur)
US$ 550 mil (via Klienfeld)
US$ 4 milhões (via Innovation)
1,93 milhão de francos suíços (na Sagar)

2) Renato Duque 
US$ 565 mil (diretamente na Milzart)
US$ 800 mil (via Constructora del Sur)

3) Jorge Zelada
US$ 2,1 milhões (via Arcadex)
US$ 571 mil (via Klienfeld)
63,7 mil euros (via Arcadex)

4) Nestor Cerveró
US$ 194 mil (via Klienfeld)

5) Pedro Barusco
US$ 2,3 milhões (via Constructora del Sur)
US$ 1,57 milhão (via Klienfeld)
US$ 286 mil (via Innovation)



Os responsáveis por montar o esquema foram, ainda segundo o relatório, o diretor da Odebrecht Humberto Mascarenhas e o americano Barry Herman. As autoridades suíças afirmam que ainda não terminaram de investigar todas as contas ligadas à Odebrecht, e ainda pode haver novidades. Os delitos agora serão objeto de investigação não apenas no Brasil, mas também na Suíça, onde o menor prazo de prescrição para eles é o ano de 2022. As investigações serão realizadas em cooperação com as autoridades brasileiras.



A Odebrecht tem negado com veemência todas as acusações. Nesta semana, a versão da empresa é posta em xeque pela segunda vez – a primeira, pela revelação do conteúdo do iPhone de Marcelo Odebrecht. Mesmo que decida colaborar com as autoridades e fazer um acordo de delação premiada, ele ainda terá de enfrentar processos nos Estados Unidos e na Suíça.

Diante das novas revelações, seus advogados mantiveram a postura de contestar os métodos e motivações da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça. "A justiça que administra esse procedimento tem sido unilateral, tem sido parcial e dado à acusação mais força e mais possibilidades de agir", diz o advogado da Odebrecht Técio Lins e Silva. "Existem no MP materiais gravíssimos que só revelam que esse trabalho é fruto de suposição", afirmou outro advogado da Odebrecht, Guilherme Carnelôs, sobre as investigações. Para Marcos Veríssimo, também advogado de defesa da Odebrecht, "não há elementos suficientes para fazer uma denúncia estrutural" contra a companhia.



Por enquanto, eles ainda não se manifestaram concretamente sobre os elementos da investigação suíça. Dobro minha aposta de que mais uma delação vem aí. A mais importante de todas.