quarta-feira, 27 de maio de 2015

O dilema do PT

Por Gaudêncio Torquato.


Charges de Paixão


O dilema do PT
O Partido dos Trabalhadores padece de mais grave crise de sua história. Sua imagem está seriamente corroída pelos episódios do mensalão e da Operação Lava Jato. E, nesse momento, parte do PT renega o governo que, todo tempo, diz que é seu.




Três senadores petistas resistem em aprovar as medidas do pacote fiscal proposto pelo governo para sair da crise : Lindbergh Faria, do RJ, Paulo Paim, do RS, e Walter Pinheiro, da BA

Dizem que tem dedo de Lula na influência sobre Lindbergh. Há um grupo, liderado por Lula, que se esforça para o PT voltar às origens e reconquistar os movimentos sociais. Como fazer isso, agora ? De um lado, defende o governo, "que é seu", de outro, critica o governo, com sua política econômica "neoliberal".




O que está por trás
Na verdade, o PT sente que o poder político se estiola em suas mãos, começa a derreter. Seus teóricos alertam o partido para a necessidade urgente e premente de voltar ao seio dos movimentos sociais. Como fazer a omelete sem quebrar ovos ? Como estender os braços sociais, expandir os programas de assistência num ciclo de carência financeira ? É impossível a qualquer governo ser generoso com as massas sem fazer nenhum sacrifício para arrumar a economia. A era do acesso fácil ao consumo e ao crédito passou. Hoje, aquela política mostra seus efeitos. A dureza demorou, mas chegou. O PT pensa em se eternizar no poder. Quer os louros de grandes vitórias. Em época de escassez. Um contrassenso.




Qual o rumo ?
O PT deverá passar um bom tempo no fundo do poço, amargando os erros de percurso. Se voltar ao passado, vai ter que enveredar pela arena da luta de classes. Voltará às margens radicais, perdendo núcleos que ganhou nos espaços da esquerda para o centro. O PT precisa ter a consciência das tendências políticas do mundo contemporâneo, sobretudo, da inclinação para uma visão social-democrata. Partidos que querem ser grandes não terão vez se optarem por se afastar dos centros e de suas laterais, à esquerda e à direita. Querer dividir o país em duas bandas - "nós e eles" - como o PT tem feito é um erro de estratégia política. Instila ódios, indignação, repulsa. Lula, o guru, e seus discípulos recorrem constantemente a esse ultrapassado discurso.



A dinâmica social
Partidos políticos precisam incorporar o espírito do tempo, o clima social, os inputs da economia e a temperatura dos ciclos. A sociedade avança, expande seus níveis de conscientização, amplia os raios de ação, cresce no sentido da racionalidade. O convívio com tecnologias cada vez mais futuristas, a interação entre grupos e comunidades por meio de redes eletrônicas, o sentimento de pertinência em um mundo cada vez mais estreito contribuem para a aquisição de uma nova cultura, de novas formas de pensamento.



Socialismo clássico ?
Não é possível defender o escopo do socialismo clássico sem ver nisso uma taxa de coisa ultrapassada. Os partidos de massa se foram na névoa do tempo. Hoje, os partidos precisam agregar os novos grupamentos sociais. As classes A, B, C, D e E são povoadas de comunidades que pensam de maneira diferente. As categorias especializadas tomam lugar das massas amalgamadas.