sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Os horrores da natureza

Por David Coimbra.
Publicado em sua página em 02FEV2015
Crônica


Os horrores da natureza


O mundo pode ser estranho.

Há meses venho pensando naquela notícia de que as focas andam currando pinguins numa ilha da Patagônia. Vi as cenas _ o horror, o horror, diria Conrad. As focas, no caso, focas machos (focos?) são bem maiores do que os pinguins. É a proporção de um pastor alemão para um chiuaua. Então, é fácil para as focas submeter os pequenos e delicados pinguins. A foca brutamontes chega à praia como um pistoleiro abrindo as portinholas do saloon, escolhe um pinguim sabe-se lá por qual critério, imobiliza-o e… vai para cima.

Li que, por alguma deliberação misteriosa da Natureza, o pinguim não tem genitália externa, só cloaca. E é a cloaca que a foca quer. Ela penetra brutalmente a cloaca do pinguim e fica se repoltreando por cinco minutos. Vai gostar de cloaca de pinguim assim lá na Patagônia!

O pinguim, coitado, mal consegue se debater. Às vezes ele gira o pescoço e olha para a foca de um jeito aflito, comovente mesmo. Os outros pinguins, em volta, não reagem. Nenhuma solidariedade, nenhum grasnar, nada. Nada…

Não ia escrever sobre assunto tão horrendo, pouco compatível a um jornal de família, mas meu filho viu esse vídeo da sevícia do pinguim pela TV, dia desses. Não deveriam permitir, sobretudo em horário vespertino. Pensei em mudar de canal, mas, quando ia alcançar o controle remoto, era tarde demais. A coisa toda já estava acontecendo bem diante de seus inocentes olhos de primeira infância.

Ele olhou aquilo até o fim, sem nem virar o rosto para o lado em repulsa, como me deu vontade de fazer. Depois olhou para mim. Terei visto perplexidade em seu rosto? Escândalo, talvez? Temi que fosse perguntar algo. O que eu poderia dizer sobre aquela violência literalmente animalesca?

Ele está acostumado a ver os bichos sem maldade, e ninguém vai me dizer que aquelas focas não são más. São más, sim! São cruéis! Prevalecidas! Ora, onde se viu pegar um pinguim frágil e sem malícia, um pinguim quase quebradiço, e violentá-lo daquela forma selvagem?

Felizmente, meu filho não perguntou nada. Voltou a olhar para a TV, pensativo.

Começou a passar algo sobre os ursos panda.

Era um chinês que se disfarçava de panda para se aproximar dos pandas de verdade na floresta. Ele entrou numa roupa igualzinha a um panda, preta e branca e tal. Botou sobre os ombros uma enorme cabeça de panda. E foi para o mato. Um panda o viu e começou a se achegar. Veio e veio e veio e, quando estava bem perto… mudei de canal. Não sabia se podia confiar num chinês travestido de panda, não sabia o que aquele chinês queria com os pandas e, francamente, não pretendia mais expor meu filho aos exotismos do mundo animal.