quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Brasil pós-Eleições

Por Gaudêncio Torquato
Em seu Porandubas Políticas em 05NOV2014

Feridas abertas
As feridas da guerra eleitoral ainda estão abertas. Precisarão de remédio ainda por muito tempo. Os ânimos não se acalmarão tão cedo por causa da animosidade que teima em dar suas pauladas nas redes sociais. A cargo dos exércitos dos dois lados. Nesse momento, urge recuperar o bom senso. 

Arte de Amarildo

Não é o caso de duvidar dos resultados eleitorais, coisa que pode parecer virada de mesa à base do tapetão. Os tucanos podem até exigir investigação do processo eleitoral, mas esse pedido cai como inconformismo. A mídia nunca foi tão combativa e atenta quanto nesses tempos de voto dividido. E não estamos vendo a mídia trabalhar com o conceito de roubo nas urnas, conchavos, etc.


Papel dos tucanos
Ora, os tucanos não se saíram mal do processo eleitoral. Ao contrário, foram muito bem votados, a partir de SP, cujo maior colégio de eleitores elegeu Geraldo Alckmin no primeiro turno. Espera-se, agora, que façam uma oposição aguerrida, mas decente, séria, sem apelos populistas ou revanchismo. 

Essa trombeta de grupos radicais que pregam um golpe e a volta dos militares deixa o PSDB em maus lençóis. Por mais que o partido diga que não é esse o discurso, acaba caindo em seu colo esse queixume de derrotados. Bola pra frente.


Arte de Aroeira

Aécio, a liderança tucana
Aécio Neves vai consolidar sua posição de principal líder tucano. Teve uma grande votação. Aprimorou seu discurso. Poderá se firmar como liderança respeitável, admirada, aplaudida, caso consiga ser um oposicionista equilibrado. 

Como sói ocorrer, Dilma entrará num círculo de fogo, enfrentando ajustes, controles, represamento de preços, brigas de partidos por cargos. Será submetida a um imenso corredor polonês. E Aécio se sentará de maneira confortável no Senado, olhando a cena, perorando, cobrando, criticando.

Dilma e as pressões
A presidente reeleita entrará numa fase de pressões insuportáveis. Precisa agradar aos políticos, aos partidos, às organizações sociais, à miríade de setores produtivos. Precisa compor um ministério que agrade a todos, que seja representativo da composição política que a elegeu ; precisa mudar a índole no que diz respeito ao tratamento de políticos e partidos ; mas precisa formar um grupo mais homogêneo, forte no domínio da matéria econômica, compromissado com a meta do resgate do crescimento. Será um deus nos acuda. De um lado, as pressões puxando para a velha política ; de outro, a necessidade de botar o carro da nova política na trilha das mudanças.

Arte de Sponholz


Lula quer mais força
Lula, por sua vez, quer ter maior influência no governo. Não apenas para demonstrar força, mas para tentar fazer uma revolução no partido e ajudar o governo a encontrar o rumo. Lula sabe ouvir e agradar aos partidos. É o que dizem as lideranças partidárias. Sabe articular. E sabe pôr ordem na casa, a partir da mansão partidária. 

Nesse espaço, Lula pretende resgatar o ideário petista, fazendo renascer a chama dos trabalhadores e o escopo da esquerda por uma nova ordem social. A virada à esquerda se faz necessária porque o partido chegou ao centro, deslocando outros entes políticos, como o próprio PSDB, mais para a direita. Ele sabe que se o PT não redesenhar a imagem corroída, chegará ao fim de linha com o segundo mandato de Dilma.

Arte de Sponholz



PMDB, o coringa
O PMDB é o partido mais capilar do Brasil, aquele que consegue se infiltrar nas veias municipais, estaduais e no coração do poder. É um partido que divide para somar. Perdeu apenas quatro deputados em relação à bancada anterior, enquanto o PT perdeu 18 parlamentares. Terá o comando do Senado e vai brigar pelo comando da Câmara. Apesar de se mostrar, hoje, um partido dividido, é razoável pensar em sua unidade, principalmente tendo em vista o futuro pleito presidencial.

O presidente do PMDB, vice-presidente da República Michel Temer, terá sob sua responsabilidade a integração de propósitos dos peemedebistas. Como hábil articulador, deve-se apostar na hipótese.

Arte de Newton Silva


Renovação
A derrota de figuras importantes no partido abrirá portas para novas lideranças no PMDB. José Sarney está dando um adeus ao mandato de senador e perdeu no MA ; Lobão, o ministro das Minas e Energia, amarga a derrota de seu filho, no MA. Eunício Oliveira, o senador, perdeu a eleição no CE para governador ; o senador Eduardo Braga perdeu no AM ; o senador Romero Jucá perdeu em RR, com seu filho Rodrigo como candidato na chapa de Chico Rodrigues ; Jader Barbalho perdeu no PA com a derrota de seu filho Elder para o governo. Renan conseguiu se salvar com a vitória de seu filho, Renan, no primeiro turno, para o governo de AL. Requião, o senador de expressão contundente, perdeu o governo do PR. Geddel Vieira, ex-líder do partido e ex-ministro, perdeu a eleição para o Senado na BA. Henrique, presidente da Câmara, perdeu a eleição para o governo do RN.

Arte de Aroeira


Mais força
Não se pense, porém, que isso tenha reflexos em sua fortaleza política. Ora, o PMDB elegeu sete governadores, mostrando que continua a ser o ente com mais força na frente das composições políticas. E ante esse quadro, o presidente do PMDB, Michel Temer, sai fortalecido com sua vitória como vice-presidente da República. A pressão sobre ele, inclusive dos derrotados, será intensa. Este consultor acredita que a força do PMDB no segundo mandato de Dilma será maior.

Tucanos nas prefeituras
Os tucanos começam a planejar o futuro. A estratégia é a de eleger o maior número de prefeitos de capitais, de cidades grandes e médias, em 2016. Para tanto, poderá até convocar suas grandes lideranças. Este consultor ouviu de um prócer tucano a ideia do partido de escolher o senador eleito, Antonio Anastasia, como candidato a prefeito de BH. Já em SP, o senador mais votado do Brasil, Aloysio Nunes Ferreira, poderia ser o candidato a prefeito pelo partido dos tucanos.

Pedrinhas no tabuleiro
A derrota de hoje poderá ser a vitória de amanhã. A hipótese começa a ser considerada por muitos derrotados no último pleito, que já pensam em aproveitar o recall obtido e expandido na última campanha para utilizá-lo no próximo embate, em 2016. A campanha será mais barata, se nomes conhecidos forem os candidatos. 

Em SP, além de Aloysio Nunes, os tucanos pensam também no vereador Andrea Matarazzo. No PMDB, começa a circular a ideia de resgatar o nome de Gabriel Chalita, que hoje se dedica à vida cultural. Seria um nome de peso para a prefeitura. E também se volta a falar no nome de Paulo Skaf, um perfil sempre arrojado e determinado, possivelmente por outro partido que não o PMDB, onde ele ainda se encontra. Como se sabe, a última campanha deixou arestas entre ele e figuras do partido.


Aqui, dois tipos de voto
Por aqui, essa estratégia acabou sendo usada pesadamente e com efeitos deletérios. Cada exército lutou por sua meta : de um lado, a continuidade do ciclo petista, de outro, a abertura de uma nova era. Por aqui, mais que uma luta esganiçada entre regiões, como incautos chegaram a enxergar, o que se viu foi uma batalha entre duas forças : uma, abrigando o voto material ; outra, o voto valorativo. 

A primeira reúne os contingentes atentos às coisas materiais, concretas, como os pacotes assistencialistas do governo - bolsa família, luz para todos, minha casa, minha vida, etc. O sufrágio ligado ao bolso e à barriga foi despejado nas urnas, sobretudo, pelas massas que dependem do Estado. A segunda força votou na carta de valores : a ética, a dignidade, a seriedade, a moral, tendo como pano de fundo, o repúdio aos escândalos e às denúncias. O voto material suplantou o voto valorativo.