Quem escreve é Carlos Brickman
Cerveja preta nunca foi produto de grande consumo no Brasil: há algumas marcas sempre lembradas (Malzbier, Caracu, Niger), alguns botecos que servem chope escuro, nada muito significativo. A Schincariol, dona da marca Devassa, lançou sua Devassa Negra com um anúncio que resvala no mau-gosto: algo como "Negra a gente conhece pelo corpo que tem". Para não deixar dúvidas, uma bela mulher negra ilustra a propaganda.
Pronto: o Conar foi acionado, colunistas já protestaram, movimentos anti-racistas se mobilizaram, há amplo noticiário sobre o assunto. Ninguém se lembrou, entretanto, do anúncio anterior da Devassa, em que um voyeur acompanhava Paris Hilton.
Briga pra lá, briga pra cá, o fato é que a Devassa foi muito mais divulgada pela polêmica do que pelos anúncios propriamente ditos. A manobra se repete (enquanto os meios de comunicação também se repetem) com a Devassa Negra : ampla polêmica para divulgar o produto, e de graça. Imagine quanto custaria obter a mesma repercussão com uma campanha publicitária normal, com anúncios devidamente pagos!
A estratégia da empresa pode ser discutida. A tranquilidade da imprensa, ao aceitá-la, é algo que nem precisa ser discutido. Jornalista não pode ser ingênuo.


