quinta-feira, 8 de abril de 2010

O PAC lá em casa

André, nesse artigo você se superou. Nunca antes na história desse PAC 2, li uma descrição tão boa do que é e do que seus "mentores' pretendem. Nota 10 é pouco!

X X X



Por André Carvalho (*)
Em 06 de abril de 2010.



O PAC lá em casa 
O governo federal acaba de lançar a segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento. Ainda não tive tempo para esmiuçar todo o catatal de projetos e sonhos lá enrodilhados, que apontam gastos próximos a 01 trilhão de reais, transformando o país no maior canteiro de obras da “história da humanidade”.

O social, com o “minha casa minha vida” e a logística, com estradas, portos e energia esgotam a grana e a minha paciência. A educação passou ao largo, como tem sido costume em tempos petistas.

Prometo analisar o “pacotão” com certa urgência para evitar, inclusive, possíveis surpresas. Explico: também estou com obras lá em minha casa. Aqui, o “minha casa” é situacional e simbólico, pois da escritura não constam meu nome nem meu CPF. Nisso, até pareço um pouco com o Lula, que acredita ser o dono do Brasil confundindo domicílio e função, com propriedade.

Ainda não expliquei nada, não é mesmo? Então vamos lá: corro o risco de ter a reforma da minha residência incluída no PAC 02. É amigo, o negócio anda muito esquisito. Se, no primeiro PAC, quando o conceito de socializar realizações ainda engatinhava, o governo “enfiou” tudo que era obra no pacote, imagina agora, com eleições à vista e popularidade avassaladora!

Soube que o PAC 02 listou, como seu, tudo que leva barro, areia, tijolo, cimento, ferro, enxada, janela, tinta, fio e asfalto, sem se importar com quem paga a conta. Dizem as más línguas, que até cova de indigente passou a ser obra social, com direito a inauguração, mesmo que póstuma.

Em assim sendo, não demora a surgir em minha porta, políticos e puxa sacos carregando o Lula e a Dilma para inaugurar a reforma que estou fazendo. Basta um carro de som e um caixote, como nos tempos do sindicato, para que se inicie o pregão das ações eleitoreiras, com registro fotográfico na revista Carta Capital. Sim, também é necessário um animador de auditório para fazer a claque vibrar emocionada:

– Viva o Presidente! – viiiivaaaa.
– Quem é o nosso rei! – Lula, Lula, Lula.

– Mãozinha pra cima, todo mundo batendo palmas.

– Dillllllma! Dillllllma! Dillllllma!

Outro risco é o presidente querer inaugurar minha reforma, por partes, como tem feito com as obras do PAC 01. Jogou uma pá de cimento, inaugura. Empilhou dez tijolos, inaugura. Esse é o esquema! Como metade das obras sequer saiu do papel e nas demais existem problemas de toda ordem – inclusive superfaturamento – o governo tem que alardear qualquer coisa como se inauguração fosse, senão perde a eleição.

Segundo o Getúlio, mestre da obra que empreendo e eleitor de Lula e Dilma existem cinco possibilidades de eventos inaugurais: paredes lixadas; paredes emassadas; primeira demão; segunda demão e entrega final. Pelo “modus operandi” do governo, em cada uma das etapas cabe, no mínimo, um improviso do presidente e da candidata com as paspalhices costumeiras.

O maior dos riscos, todavia, é aparecer por lá a turma do movimento dos sem teto ou dos sem terra, de quem a ex-ministra, pelo seu passado guerrilheiro deve ser fã de carteirinha, querendo repartir na “porrada”, meu sofá, meu banheiro e minha cozinha.

Contra a vontade do mestre, que insiste no vermelho petista, vou pintar as paredes de cinza chumbo que representa bem o meu atual estado de espírito com as coisas do Brasil.

(*) André Carvalho é um cidadão que observa as coisas em seu dia a dia. E escreve sobre o que vê. Não se considera um cronista, no máximo, um escrevinhador. Seus saborosos textos circulam na web por e-mails.