X - Miroslav Tichy
marginal, fotógrafo e "voyeur"
Miroslav Tichy é um artista recluso que viveu em Kyjov, sua cidade natal, na República Tcheca, durante a maior parte da vida. Nasceu em 1926 e foi pintor até o fim dos anos 60, quando começou a tirar fotos, geralmente de mulheres tomando sol, usando um equipamento que ele mesmo construiu.
Suas câmeras são feitas de papelão, tampas de garrafas e elásticos. Tichy monta suas fotos em molduras que ele mesmo faz e incrementa as molduras com rabiscos de lápis.
Durante muito tempo, Tichy foi uma mistura de excêntrico charmoso com bicho-papão. Ele era preso frequentemente por tirar fotos de moças inocentes na piscina pública. O fato de isso tudo ter acontecido sob a opressão de um regime comunista dava um certo ar de rebeldia no que ele fazia, estando ele consciente disso ou não.
Perseguiu-as obsessivamente. Fez centenas de registos - chegou a impor a si próprio uma norma: 100 fotografias por dia. As modelos involuntárias do seu universo feminino eram mulheres apanhadas a passear na rua ou a tomar banhos de sol.
Por vezes não se apercebiam disso; de outras vezes protestavam e zangavam-se; outras, deixavam-se fotografar com complacência. Rostos, bustos e pernas dominam os enquadramentos crus e espontâneos, revelando um erotismo sofisticado e surpreendente.
Dos numerosos negativos que fazia apenas revelava alguns - uma única cópia - e colava-os em cartões onde desenhava molduras e efeitos decorativos com lápis. Nódoas diversas, propositadas ou não, acrescentavam-lhe cor e um aspecto estranhamente melancólico.
E o que é ainda mais extraordinário é que as fez para si, para seu desfruto pessoal, como excluído e independente que sempre foi.
Hoje, Tichy continua morando em Kyjov, mas é praticamente inacessível. Ele sofre de demência e é cuidado por um vizinho. Provavelmente destruiu a maioria do trabalho que produziu ao longo da vida, no que pode ser descrito, de forma romântica, como um ato artístico de loucura.