Os dois Zés continuam indo e vindo sem medo do camburão
É o beijo da morte, avisou a coluna em 21 de agosto (leia aqui) quando Lula promoveu o ex-capitão do time a comandante da campanha presidencial de Dilma Rousseff.
É o beijo da morte, avisou a coluna em 21 de agosto (leia aqui) quando Lula promoveu o ex-capitão do time a comandante da campanha presidencial de Dilma Rousseff.
Como informa a biografia, José Dirceu tomou gosto por derrotas assim que se rendeu ao padeiro de Ibiúna. E virou especialista em fiascos ao trocar os barulhos da guerrilha pelos ruídos da máquina registradora do Magazine do Homem, em Cruzeiro do Oeste, onde combateu cinco anos no posto de gerente.
Precisou de menos de 20 dias para colocar o barco de Dilma na rota do naufrágio. Nesse curto período, a Mãe do PAC recitou duas banalidades, sumiu de cena para ficar bem no retrato, voltou das férias por ter ficado mal no retrato, recitou três banalidades, homenageou Ideli Salvatti com um bilhete de normalista repetente, recitou quatro banalidades, confundiu Roraima com Rondônia, caiu na pesquisa e pode cair fora da sucessão.
Lula anda pensando num plano B. Pensará em outros assim que decorar mais letras do alfabeto.
Feito o serviço, Dirceu refez a parceria com José Sarney, cujo pescoço ajudou a manter longe da guilhotina, para devolvê-lo ao carrasco com dois artigos. No primeiro, explicou que foi muito justa a censura imposta ao Estadão por um desembargador subordinado ao presidente do Senado. No segundo, acusou o jornal de conspirar em favor da restauração conservadora e montou o plano tático: se o inimigo centenário ficasse sob estreita vigilância, Sarney estaria seguro. O monumento à censura foi implodido pelo Conselho Especial do Tribunal de Justiça de Brasília, que afastou do caso, por suspeição, o juiz-censor Dácio Vieira.
Em mais um texto brilhante, Reinaldo Azevedo prova que não têm valor legal as decisões tomadas por Dácio. A trama liberticida caminha para a sepultura. O palavrório de Dirceu jaz numa cova rasa.
Concentrado no cerco ao Estadão, Dirceu foi surpreendido pela reportagem da Folha desta quinta-feira. Também apoiado em gravações da Polícia Federal, o jornal reproduziu conversas pouco edificantes entre o avô José Sarney e a neta Ana Clara. Numa delas, o patriarca ensina à terceira geração como se faz para transformar igrejas e conventos em gazuas.
A leitura da reportagem escancara o abismo que separa o Brasil de Lula do mundo civilizado. Conjugadas, a institucionalização da roubalheira, a certeza da impunidade e a confiança na cumplicidade do governo inverteram as coisas, restauraram práticas primitivas e produziram uma paisagem sórdida. O certo é errado. O ilegal é legítimo. O criminoso não tem culpa. O inocente é castigado.
O Estadão continua amordaçado por ter divulgado a verdade. Dácio Vieira, que desonrou a Justiça e avalizou a mentira, continua desembargador. O Conselho Nacional de Justiça continua fazendo de conta que nada de anormal acontece. Os dois Zés continuam indo e vindo sem medo do camburão. Lula continua achando que a imprensa é livre demais.
Risonhos, milhões de brasileiros dão graças a Deus por estarem vivos.

