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Por Carlos Brickmann, para o Observatório da Imprensa.
Há escândalos de verdade, escândalos que não são bem assim, escândalos que só são escândalos porque narrados pelos meios de comunicação em linguagem escandalosa (na hora em que se procura o fato, descobre-se que fato não há).
É ruim: primeiro, porque os escândalos de verdade tendem a submergir nos múltiplos falsos escândalos, a esconder-se entre factóides, a dissimular-se entre os editoriais enfurecidos, evitando que sejam destrinchados e tenham os suspeitos devidamente investigados; segundo, porque os escândalos, que já são muitos, somados aos escândalos que não são escândalos mas aparecem vestidos de escândalo, levam a opinião pública a subir o tom da indignação, a descrer das instituições democráticas, a pregar o voto nulo (ainda! Coisa mais fora de moda!) e a lembrar com saudades da ditadura. Isso aparece claramente não apenas nas seções de Cartas, mas também nos comentários de leitores nas colunas de Internet. Em parte, a culpa é da imprensa. O aniversário do movimento militar de 1964 ocorreu há poucos dias e não foi relembrado, a não ser por saudosistas ansiosos por um revival militar. E é preciso recordar sempre.
É preciso recordar, por exemplo, que a melhor coisa da ditadura é que, naquela época, éramos todos quarenta anos mais jovens. E, se é verdade que os generais-presidentes não se locupletaram, é verdade também que houve quem se locupletasse, e não foram poucos.
Houve as pérolas de grande valor que vieram do Japão no voo inaugural Tóquio - Rio, houve a milionária e esquisitíssima concorrência para ampliar o sistema telefônico de Brasília, houve os milhões doados para o esquema de torturas, houve os desvios de praxe, tudo coberto sob o sigilo de segurança nacional.
Entre os torturadores, alguns saíram com tanto dinheiro que puderam se estabelecer comprando pontos de bicho, dominando escolas de samba, virando empresários do crime.
Um exemplo bobinho, mas que exemplifica como os homens do poder, na época da ditadura, viam o patrimônio público:
Para os meios de comunicação, que ecoam todas as más notícias, sejam reais ou não, também não foi uma boa experiência: mesmo para os que ganharam dinheiro e prestígio, censura é uma coisa terrível.
Citando Winston Churchill, a democracia é o pior dos regimes, excetuando-se todos os outros.
Houve as pérolas de grande valor que vieram do Japão no voo inaugural Tóquio - Rio, houve a milionária e esquisitíssima concorrência para ampliar o sistema telefônico de Brasília, houve os milhões doados para o esquema de torturas, houve os desvios de praxe, tudo coberto sob o sigilo de segurança nacional.
Entre os torturadores, alguns saíram com tanto dinheiro que puderam se estabelecer comprando pontos de bicho, dominando escolas de samba, virando empresários do crime.
Um exemplo bobinho, mas que exemplifica como os homens do poder, na época da ditadura, viam o patrimônio público:
no Governo havia muitos gaúchos, que jamais se acostumaram à carne de gado zebu servida em Brasília. Para seus churrascos, mandavam aviões da FAB buscar no Rio Grande do Sul a nobre carne de gado europeu, tudo pago com nosso dinheiro.Outro exemplo bobinho:
em certas grandes obras, cobradas pelo sistema CLD (Custo, Lucro, Despesa), algumas empresas estimulavam os empregados a gastar o máximo possível, pois com isso seu lucro, uma porcentagem dos custos, seria muito maior. Ninguém comprava um livro caro: era muito mais barato xerocá-lo e jogar o custo na obra.Este colunista trabalhou na imprensa em toda aquela época. Aos leitores, ouvintes, espectadores, internautas que defendem o retorno ao passado, uma lembrança: não foi uma boa experiência.
Para os meios de comunicação, que ecoam todas as más notícias, sejam reais ou não, também não foi uma boa experiência: mesmo para os que ganharam dinheiro e prestígio, censura é uma coisa terrível.
Citando Winston Churchill, a democracia é o pior dos regimes, excetuando-se todos os outros.

