segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Comentando o 1º turno, em Salvador.

Escrito por Andrés Viriato, especialmente para este blog.

O segundão começa hoje
Para o eleitor que só se movimenta nas urnas a partir das porcentagens das pesquisas eleitorais, a derrota de ACM Neto foi uma grande surpresa. Como o foi para o jornalista Alexandre Garcia, tido como o mais importante comentarista político do país, que, apesar de não morar em Salvador nem respirar os ares políticos pós-ACM (o avô, Sr. Hilton 50) disse ainda que Geddel Vieira Lima e o governador Jaques Wagner agora disputavam o legado político do carlismo. Por que os resultados apontam João Henrique e Walter Pinheiro para o segundo turno?
Vamos por parte. Mesmo com as pesquisas do Ibope, cujos antecedentes na Bahia não apontam para tanta credibilidade, dando ACM Neto (ele foi o olho do furacão para os demais marqueteiros) sempre à frente, o acompanhamento técnico dos índices era feito, em silêncio e em segredo, apenas pelos marqueteiros e coordenadores de campanha. E eles sabiam que, mesmo com a frente, também apurada pelo Datafolha, o “menino” não crescia, estagnando entre 25 e 30 por cento, e o pior: seu índice de rejeição era o mais alto entre os cinco candidatos, e nesses dois lances é que mora o perigo para qualquer candidato em eleições majoritárias.
Enquanto isso, Pinheiro crescia a cada pesquisa, usando corretamente a estratégia de tirar Imbassahy de sua frente, enviando-lhe sucessivos torpedos (pesados mesmo), certo de que seria o principal herdeiro com a migração da maior parte de seus votos, tanto no primeiro quanto no segundo turno. E foi justamente o que aconteceu.
Astuto e com a “máquina” à disposição, Geddel levou o “garotão” a polemizar com Pinheiro, que ele sabia ser o principal adversário para um provável segundo turno contra Neto. O prefeito gravou em obras como as da Centenário e outras feitas em sua administração.
Nos últimos dez dias da campanha, o cenário parecia delineado a partir das seguintes evidências: a campanha de Neto perdeu fôlego, ele próprio parecia cansado e suas propostas não empolgavam; Imbassahy, já despencado, apenas preenchia seu irrecusável espaço, parecendo confortado com declarações recentes de Pinheiro ao jornal A Tarde: “Imbassahy é um técnico de nível e capaz de ocupar qualquer Secretaria de Estado” (anotem e verão); Pinheiro somente crescia, com baixa rejeição, e João Henrique tornou-se um candidato politicamente agressivo, ao gosto de seu guru.
Vale aqui perguntar: por que Imbassahy despencou?
Primeiro, porque fica quase impossível dissociar Imbassahy do carlismo, e a nível de puro-sangue. Tudo que Imbassahy foi na vida pública deve ao velho ACM. Imbassahy nunca foi político, nem de tribuna nem de articulação, e suas gestões à frente da Prefeitura foram mais patrocinadas por recursos do Estado e trazidos de Brasília por ACM e sua bancada.
Segundo, porque sua campanha foi pobre, a ponto de despedir o marqueteiro Duda Mendonça e desempregar meia dúzia de auxiliares. Aí, tornou-se repetitivo, uma campanha insossa. E finalmente, porque sempre esteve só, seu partido o entregou às feras e nem mesmo o maior nome regional do PSDB, Jutahy Magalhães, deu as caras para um simples pronunciamento de apoio “E o pobre seguiu só”, como disse Castro Alves no poema Ahasvherus e o gênio.
O que pode acontecer agora? Os programas políticos foram fracos e os marqueteiros devem ter percebido isso e mudar a estratégia. A maioria dos votos de Neto deve migrar para João, enquanto entre os eleitores (4%) de Hilton há os que assumem a dissidência com o PT e os que querem ver pelas costas o ministro Geddel.
Entre os eleitores de Imbassahy, a maioria migra para Pinheiro, mas tudo isso pode ser apenas teoria, porque não sabemos o que virá nos programas do horário político no rádio e na tevê, que serão agora o principal termômetro da temperatura política.
O certo é que o inquieto Geddel vai partir para a briga, porque sua sobrevivência política só aponta para dois caminhos: a Prefeitura, em 2012, ou o governo do Estado, em 2010. A não ser que Lula estique a perigosa corda e o indique para vice do PT à Presidência, em 2010. Afinal, é um nordestino, mas a fila é imensa na frente de Geddel.
Ainda sobre as declarações de Alexandre Garcia, de um possível legado do carlismo, certamente ele desconhece a nova realidade política por essas bandas. Aliás, nessa campanha, o próprio Neto preferiu distância de seu verdadeiro – e ocultado- paradigma político: seu avô.
O que é mesmo o carlismo? A forma oligárquica de fazer política? A habilidade de saber enriquecer na vida pública? A conduta ditatorial, tirana e humilhante ante todos os seus subservientes comandados? Pelo que sabemos do governador, não é bem seu estilo. Quanto a Geddel, quem confiaria nele?

Andres Viriato é jornalista.