quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Eu tenho um sonho, por André Carvalho.

Por André Carvalho. Publicado no Jornal A Tarde em 15 de setembro btreina@yahoo.com.br


Eu tenho um sonho
“I have a dream”! Em época de Barack Obama e de uma esperada reviravolta política e econômica nos Estados Unidos da América, Martin Luther King, um dos mais ilustres americanos do século XX, é citado com freqüência como sendo o maior responsável pela perspectiva de um negro, casado com uma negra e filho de pai africano assumir a Casa Branca e a presidência da nação mais desenvolvida do mundo.

Luther King lutou contra a segregação dos negros, em defesa dos direitos das mulheres e das minorias e pelo fim da guerra do Vietnã. Em 1963 proferiu seu discurso mais contundente, no qual repete, com lúcida insistência, o mote “eu tenho um sonho”, num sonoro e melódico “I have a dream” em sua língua pátria.

Sonhos são como músicas, improváveis e incompreensíveis enquanto cifradas, possíveis e belas sempre que executadas. Neste sete de setembro, fui embalado por alguns sonhos possíveis ao cidadão comum!

Eu tenho o sonho que a verdadeira independência do Brasil não se dê somente pelo volume de petróleo em suas águas profundas, muito menos pela extensão de suas fronteiras agrícolas, mas sim pela educação de seus jovens, pela preservação do meio ambiente e por uma visão contextualizada e não sectária do seu papel no mundo globalizado e tecnologicamente avançado.

Sonho que, a despeito da classe política dominante em cuja maioria jamais se poderá confiar, este país ainda encontre seu rumo longe do populismo grosseiro, do fundamentalismo jurídico, da corrupção desenfreada, do aparelhamento e da presença policialesca do Estado ou do favorecimento a companheiros e sequazes.

Sonho que a miríade de políticas e “vãos” compensatórios para as minorias ‑ negros, índios, mulheres, homossexuais, portadores de necessidades especiais, nordestinos, pobres, alunos de escolas públicas, aposentados, etc. ‑ não acabe por transformar o Brasil numa imensa república de “guetos” tribais, em luta permanente por mais ações compensatórias específicas, em detrimento de um desenvolvimento harmônico e equânime, capaz de atender ao conjunto de uma sociedade moderna.

Tenho muitos sonhos! Sonho, que a justiça se fará, não por um “estoque” cada vez maior de leis ou por uma bancada cada dia maior de juizes e semelhantes. Espero que a justiça se dê pela redução significativa dos conflitos e delitos, estágio típico das sociedades desenvolvidas com base na ética, na educação, na saúde, na segurança e em justas oportunidades para seus cidadãos.

Sonho que a banalização da vida e a constância das mortes desnecessárias, que amedrontam nossas cidades, caiam por terra não apenas por sucumbirem à bruta repressão policial, mas por se virem esgotadas na sua razão de ser: desesperança, insensatez, perversidade e ignorância.

Outra citação de Luther King aplica-se admiravelmente ao momento político em que vivemos “O que me preocupa não é o grito dos violentos. É o silêncio dos bons”.

Meu sonho maior é que a parcela de bons que ainda resta neste país, por menor que seja, se alevante e grite, cada vez mais alto, em defesa da ética, da probidade e do estado de direito tão ameaçados por excessos dos poderosos do momento.

Dignos, seremos fortes. Fortes, seremos dignos e livres.