quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Ministro do Trabalho ensaia recuo.




de Josias de Souza em seu Blog Bastidores do Poder.










Na Esplanada dos ministérios, a prudência tem de marcar hora, apresentar documentos na portaria e tomar chá de cadeira. A esperteza, ao contrário, dispõe de certos privilégios. Munida de um crachá do partido do ministro, chega a hora que quer, sobe pelo elevador privativo e encontra a porta sempre aberta.

Na pasta do Trabalho, a astúcia traz no peito a insígnia do PDT. Nos últimos dias, o noticiário esteve apinhado de convênios de utilidade duvidosa firmados com entidades ligadas ao partido do ministro Carlos Lupi.

Para Lupi, as notícias brotam da crueldade da mídia.
"Não tenho preocupação com a ética porque nasci na ética. Sou vítima de
perseguição política. Julgo ser vítima de uma campanha para me difamar e
destruir uma imagem construída há 30 anos. Estou profundamente
magoado
."
Além de mágoa, as reportagens provocaram em Lupi uma ponta de preocupação com a própria “imagem”. Nesta quarta-feira (27), o ministro abortou, já no nascedouro, três dos inúmeros convênios que acabara de firmar. Fez por pressão algo que se esquivara de fazer por obrigação.

O súbito zelo do ministro devolverá às arcas da Viúva mais de R$ 5 milhões. Pouco, muito pouco, pouquíssimo. Mas já é alguma coisa. Cancelaram-se os convênios com as entidades Grupo Mulher Maravilha, de Pernambuco; Associação São Vicente de Paulo, do interior de São Paulo; e Instituto Data Brasil, sediado na capital paulista.

De resto, Lupi anunciou a constituição de um grupo de trabalho para varejar, em 15 dias, os convênios de repasse de verbas públicas para outras entidades privadas supostamente sem fins lucrativos. Providência tardia, mas louvável.

Num esforço para livrar a cara do PDT, Lupi exibiu, em entrevista, uma planilha com uma lista de contratos que beneficiam, além de entidades vinculadas ao seu partido, organizações ligadas ao PSDB, PT, PMDB, DEM e PP. Somam R$ 408,8 milhões. Mais do que um álibi, a relação constitui a mais eloqüente evidência de que os repórteres ainda nem roçaram a encrenca escondida nos arquivos do ministério do Trabalho.

Lupi, como se recorda, é alvo da Comissão de Ética Pública da Presidência da República. O órgão recomendou a Lula que force o seu ministro a optar entre a presidência do PDT e o cargo de ministro. Para a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), o caso deve ser avaliado com "menos fígado" e mais "racionalidade".

Antes, o Planalto deveria exigir de Lupi um pouco mais de apreço pelo dinheiro alheio. Do contrário, é o contribuinte quem ficará “profundamente magoado”.