terça-feira, 25 de setembro de 2007

Trem - Bala

Artigo escrito por André Carvalho (*).

Estivesse a glamurosa e excelentíssima ministra Marta Suplicy no trem carioca com destino ao porto e, certamente, teria gritado “deita e reza” ao invés do famoso “relaxa e goza” aeroportuário.

Passado o susto, verificada a ausência de mortos e feridos, o trágico se reveste de uma comicidade fenomenal. Para o cidadão comum, cariocas à frente, tão vilipendiados em sua capacidade de ir e vir, quando não, de existir, foi refrescante ver autoridades estaduais e federais, ministros inclusive, se atirando ao chão, embaixo de cadeiras e mesas, cobrindo a cabeça para escapar das balas e mostrando caras assustadas e medrosas.

Para os governos e governantes poderia ser didático, mas não foi. A capacidade cognitiva do atual governo não passa de sofrível, como bem sabemos.

O fato é que as imagens mostradas pela televisão nos remetem aos sucessos da Hollywood de quarenta, cinqüenta anos atrás, em que trens repletos de figuras importantes, damas da sociedade, prostitutas e malotes pagadores, eram assaltados por índios ou bandidos de todos os naipes. Aí, ao contrário da realidade carioca, entrava em ação o xerife e resolvia a parada.

Billiy Anderson, Gary Cooper, John Wayne, etc, em qualquer dos lados que atuassem - bandidos ou mocinhos - disparavam balas aos quatro quadrantes e acabavam por protagonizar a excelência nas artes cinematográficas e a garantia da diversão completa.
Através daquelas imagens o mundo tomou conhecimento da saga do desbravamento do oeste americano, da existência dos índios Sauks, Cherokee, Moicanos e Comanches e de estradas de ferro como a Mississipi Missouri e Baltimore. Vimos a luta de um povo para construir uma nação, sempre enfatizando a vitória do bem sobre o mau. Os filmes tinham finais apoteóticos, eis que os mocinhos eram sempre mais inteligentes e preparados do que os bandidos.
Como os tempos mudaram!

As reminiscências acima reproduzem fatos ocorridos por volta de 1800, 1830, ou seja, há duzentos anos. Como estamos atrasados em relação aos ianques imperialistas! Por mais que o ministro Lampreia não queira, estamos na rabeira dos Estados Unidos da América. Somente agora, duzentos anos após, conseguimos dar tiro em trem.

É muito legal ouvir as justificativas e imaginar outras, possíveis, para o faroeste tupiniquim, tanto quanto é divertido comentá-las:

O ministro dos Portos (com “t” e não “c”) declarou saber da periculosidade do passeio, alertado que foi, por um “mangangão” do governo estadual. Assim mesmo, resolveu participar da trilha, porque, como disse, “a imprensa já estava convocada para cobrir o evento”.

Entendo! Mata-se, mente-se e morre, para manter a mais verdadeira das mentiras: o país vai bem.

Eisperrrrrrrto” foi o governador carioca, que, avisado do risco pelo mesmo “mangangão”, seu subalterno, arrumou outro compromisso e fugiu dos trilhos assassinos da sua cidade maravilhosa.

Já o ministro das Cidades, que atende pelo sobrenome Fortes, declarou não ter qualquer problema em enfrentar situações de risco. Acrescentou, com orgulho, que é carioca, como se isso correspondesse a um phd destacado no cabeçalho do “curriculum” e que vai às ruas, favelas inclusive, sem segurança alguma. O que faz o “apagado” ministro das Cidades nas “iluminadas” favelas deste país? Perguntar não ofende.

Mantega calou-se, mas não seria de todo estranho se creditasse a saraivada de balas à exuberância da economia do país. Com mais dinheiro no bolso, a bandidagem vem comprando mais armas e munição. É o preço a pagar por este “explosivo” crescimento brasileiro.

Tarso Genro, da Justiça, assegurou (assegurar é sempre dúbio nesse governo) que as balas indicam uma reação dos traficantes ao incremento das ações de repressão da força nacional. Cabe lembrar, como adendo, que a força nacional estacionada no Rio de Janeiro, formada por mil e duzentos homens, não vem recebendo as diárias, como é dever do Estado, e vive na mais profunda penúria, sem dispor, nem mesmo, de alojamento condizente a soldados em campos de guerra. Em nome da ética, vale lembrar que, diferentemente do que disseram os petistas na campanha da reeleição, os ataques do pcc em São Paulo, também foram uma reação a ações governamentais, no caso, da Policia de São Paulo, no governo Alckmim.

O presidente da república, viajando pelos países nórdicos, no interesse maior de superar, quantitativamente, as viagens de FHC, pouco ou nada falou, o que não é usual. Estava vendendo nosso bio-diesel na Suécia e na Finlândia quando poderia estar comprando manuais de conduta ética. Lá, no frio intenso, andou de ônibus. Duvido que aqui, no calor das balas, ande de trem.

Oh! Gil. Seu Expresso 2222, (melhor compreendido após um “tapa” na mercadoria dos traficantes atiradores) manterá a atualidade, com pequeníssimas adaptações; talvez, Expresso Calibre 22, 22.

Um fato é inegável: O PAC – Programa de Aceleração do Crescimento produziu, como diz um querido amigo brasiliense, seu primeiro grande resultado: o Brasil já tem seu trem - bala.
Rá tá ta, tá tá.

Brasil, um país de todos nós AQUI.