XLIX - A Marselhesa
Em virtude dos tristes acontecimentos no ano que passou, o hino nacional francês praticamente se transformou no hino do mundo inteiro. Além de ser tocado e repetido em vários países, pessoas das mais diversas nacionalidades estão unindo suas vozes às dos franceses nesses momentos de dor e perplexidade.
No entanto, além de ser muito bonito e conhecido, você sabe o que La Marseillaise representa e por que ele vem sendo cantado com tanto fervor? De acordo com a BBC, o hino foi composto pelo capitão do exército francês Claude Joseph Rouget de Lisle em 1792, depois que tropas da Prússia e Áustria invadiram a França com o propósito de reprimir a Revolução Francesa.
Chant de guerre
Originalmente, o hino recebeu o nome de Chant de guerre pour l'armée du Rhin (ou Canto de Guerra para o Exército do Reno) e foi criado para instigar os soldados franceses a lutar em defesa de seu país. Entoada pelas tropas que chegavam a Paris vindas de Marseilles — foi daí que a composição ganhou o apelido de La Marseillaise —, a música foi adotada como hino nacional da França em 1795.
No entanto, apesar da popularidade da música entre os franceses, Napoleão Bonaparte destituiu a composição enquanto esteve no poder e, mais tarde, durante a Restauração Francesa, La Marseillaise continuou guardado na gaveta. Isso até que, na época da Terceira República Francesa — período que durou de 1870 a 1940 —, o canto de guerra voltou a se tornar hino nacional.
Canto do povo
De acordo com David Walker, professor emérito de francês na Universidade de Sheffield, na Inglaterra, nem todos os franceses curtem a letra militar do hino. Esse era o caso de Valery Giscard d'Estaing, que foi presidente da França entre 1974 e 1981 e achava que a música era belicosa demais. Inclusive há quem critique a composição, dizendo que o trecho "que um sangue impuro banhe o nosso solo" pode remeter ao racismo.
Por outro lado, a verdade é que pouca gente dá atenção às minúcias da letra, e La Marseillaise, em vez de ser considerado como um chamado à batalha, é tido como um poderoso canto de desafio e resistência. Ao contrário de muitos hinos que existem pelo mundo, o francês não é uma música sobre a aristocracia, mas sim sobre os cidadãos, sobre o povo.
Além disso, sua composição é arrebatadora e apaixonada, e a música foi entoada com impetuosidade durante vários momentos importantes da história da França. Sendo assim, nada melhor do que cantar La Marseillaise para despertar, mais uma vez, o sentimento de solidariedade e coragem face ao perigo — e não só no povo francês, mas em todo o mundo.
Letra e tradução
| Allons enfants de la Patrie, | Avante, filhos da Pátria, |
| Le jour de gloire est arrivé! | O dia da Glória chegou! |
| Contre nous de la tyrannie, | Contra nós a tirania, |
| L'étendard sanglant est levé, (bis) | O estandarte ensanguentado se ergueu.(bis) |
| Entendez-vous dans les campagnes | Ouvis nos campos |
| Mugir ces féroces soldats? | Rugir esses ferozes soldados? |
| Ils viennent jusque dans vos bras | Vêm eles até os vossos braços |
| Égorger vos fils, vos compagnes! | Degolar vossos filhos, vossas mulheres! |
| Aux armes, citoyens, | Às armas, cidadãos, |
| Formez vos bataillons, | Formai vossos batalhões, |
| Marchons, marchons! | Marchemos, marchemos! |
| Qu'un sang impur | Que um sangue impuro |
| Abreuve nos sillons! | Banhe o nosso solo! |
| Aux armes, citoyens, | Às armas, cidadãos, |
| Formez vos bataillons, | Formai vossos batalhões, |
| Marchez, marchez! | Marchai, marchai! |
| Qu'un sang impur | Que um sangue impuro |
| Abreuve nos sillons! | Banhe o nosso solo! |
| Que veut cette horde d'esclaves, | O que quer essa horda de escravos, |
| De traîtres, de rois conjurés? | De traidores, de reis conjurados? |
| Pour qui ces ignobles entraves, | Para quem (são) esses ignóbeis entraves, |
| Ces fers dès longtemps préparés? (bis) | Esses grilhões há muito tempo preparados? (bis) |
| Français, pour nous, ah! quel outrage | Franceses, para nós, ah! que ultraje |
| Quels transports il doit exciter! | Que comoção deve suscitar! |
| C'est nous qu'on ose méditer | É a nós que ousam considerar |
| De rendre à l'antique esclavage! | Fazer retornar à antiga escravidão! |
| Aux armes, citoyens, | Às armas, cidadãos, |
| Formez vos bataillons, | Formai vossos batalhões, |
| Marchons, marchons! | Marchemos, marchemos! |
| Qu'un sang impur | Que um sangue impuro |
| Abreuve nos sillons! | Banhe o nosso solo! |
| Aux armes, citoyens, | Às armas, cidadãos, |
| Formez vos bataillons, | Formai vossos batalhões, |
| Marchez, marchez! | Marchai, marchai! |
| Qu'un sang impur | Que um sangue impuro |
| Abreuve nos sillons! | Banhe o nosso solo! |
| Quoi! des cohortes étrangères | O quê! Tais multidões estrangeiras |
| Feraient la loi dans nos foyers! | Fariam a lei em nossos lares! |
| Quoi! ces phalanges mercenaires | O quê! Essas falanges mercenárias |
| Terrasseraient nos fiers guerriers! (bis) | Arrasariam os nossos nobres guerreiros! (bis) |
| Grand Dieu! par des mains enchaînées | Grande Deus! Por mãos acorrentadas |
| Nos fronts sous le joug se ploieraient | Nossas frontes sob o jugo se curvariam |
| De vils despotes deviendraient | E déspotas vis tornar-se-iam |
| Les maîtres de nos destinées! | Os mestres dos nossos destinos! |
| Aux armes, citoyens, | Às armas, cidadãos, |
| Formez vos bataillons, | Formai vossos batalhões, |
| Marchons, marchons! | Marchemos, marchemos! |
| Qu'un sang impur | Que um sangue impuro |
| Abreuve nos sillons! | Banhe o nosso solo! |
| Aux armes, citoyens, | Às armas, cidadãos, |
| Formez vos bataillons, | Formai vossos batalhões, |
| Marchez, marchez! | Marchai, marchai! |
| Qu'un sang impur | Que um sangue impuro |
| Abreuve nos sillons! | Banhe o nosso solo! |
| Tremblez, tyrans et vous perfides | Tremei, tiranos! e vós pérfidos, |
| L'opprobre de tous les partis, | O opróbrio de todos os partidos, |
| Tremblez! vos projets parricides | Tremei! vossos projectos parricidas |
| Vont enfin recevoir leurs prix ! (bis) | Vão finalmente receber seu preço!(bis) |
| Tout est soldat pour vous combattre, | Somos todos soldados para vos combater. |
| S'ils tombent, nos jeunes héros, | Se tombarem os nossos jovens heróis, |
| La terre en produit de nouveaux, | A terra novos produzirá, |
| Contre vous tout prêts à se battre ! | Contra vós, todos prestes a lutarem! |
| Aux armes, citoyens, | Às armas, cidadãos, |
| Formez vos bataillons, | Formai vossos batalhões, |
| Marchons, marchons! | Marchemos, marchemos! |
| Qu'un sang impur | Que um sangue impuro |
| Abreuve nos sillons! | Banhe o nosso solo! |
| Aux armes, citoyens, | Às armas, cidadãos, |
| Formez vos bataillons, | Formai vossos batalhões, |
| Marchez, marchez! | Marchai, marchai! |
| Qu'un sang impur | Que um sangue impuro |
| Abreuve nos sillons! | Banhe o nosso solo! |
| Français, en guerriers magnanimes, | Franceses, guerreiros magnânicos, |
| Portez ou retenez vos coups! | Levai ou retende os vossos tiros! |
| Épargnez ces tristes victimes, | Poupai essas tristes vítimas, |
| À regret s'armant contre nous. (bis) | A contragosto armando-se contra nós. (bis) |
| Mais ces despotes sanguinaires, | Mas esses déspotas sanguinários, |
| Mais ces complices de Bouillé, | Mas esses cúmplices de Bouillé, |
| Tous ces tigres qui, sans pitié, | Todos os tigres que, sem piedade, |
| Déchirent le sein de leur mère ! | Rasgam o seio de suas mães! |
| Aux armes, citoyens, | Às armas, cidadãos, |
| Formez vos bataillons, | Formai vossos batalhões, |
| Marchons, marchons! | Marchemos, marchemos! |
| Qu'un sang impur | Que um sangue impuro |
| Abreuve nos sillons! | Banhe o nosso solo! |
| Aux armes, citoyens, | Às armas, cidadãos, |
| Formez vos bataillons, | Formai vossos batalhões, |
| Marchez, marchez! | Marchai, marchai! |
| Qu'un sang impur | Que um sangue impuro |
| Abreuve nos sillons! | Banhe o nosso solo! |
| Amour sacré de la Patrie, | Amor Sagrado pela Pátria |
| Conduis, soutiens nos bras vengeurs | Conduz, sustém nossos braços vingativos. |
| Liberté, Liberté chérie, | Liberdade, liberdade querida, |
| Combats avec tes défenseurs ! (bis) | Combate com os teus defensores!(bis) |
| Sous nos drapeaux que la victoire | Debaixo as nossas bandeiras, que a vitória |
| Accoure à tes mâles accents, | Chegue logo às tuas vozes viris! |
| Que tes ennemis expirants | Que teus inimigos agonizantes |
| Voient ton triomphe et notre gloire ! | Vejam teu triunfo e nossa glória. |
| Aux armes, citoyens, | Às armas, cidadãos, |
| Formez vos bataillons, | Formai vossos batalhões, |
| Marchons, marchons! | Marchemos, marchemos! |
| Qu'un sang impur | Que um sangue impuro |
| Abreuve nos sillons! | Banhe o nosso solo! |
| Aux armes, citoyens, | Às armas, cidadãos, |
| Formez vos bataillons, | Formai vossos batalhões, |
| Marchez, marchez! | Marchai, marchai! |
| Qu'un sang impur | Que um sangue impuro |
| Abreuve nos sillons! | Banhe o nosso solo! |
| (Couplet des enfants) | (Verso das crianças) |
| Nous entrerons dans la carrière, | Entraremos na carreira (militar), |
| Quand nos aînés n'y seront plus, | Quando nossos anciãos não mais lá estiverem. |
| Nous y trouverons leur poussière | Lá encontraremos suas cinzas |
| Et la trace de leurs vertus(bis) | E o resquício das suas virtudes(bis) |
| Bien moins jaloux de leur survivre | Bem menos desejosos de lhes sobreviver |
| Que de partager leur cercueil, | Que de partilhar seus caixões, |
| Nous aurons le sublime orgueil | Teremos o sublime orgulho |
| De les venger ou de les suivre. | De vingá-los ou de segui-los. |
| Aux armes, citoyens, | Às armas, cidadãos, |
| Formez vos bataillons, | Formai vossos batalhões, |
| Marchons, marchons! | Marchemos, marchemos! |
| Qu'un sang impur | Que um sangue impuro |
| Abreuve nos sillons! | Banhe o nosso solo! |
| Aux armes, citoyens, | Às armas, cidadãos, |
| Formez vos bataillons, | Formai vossos batalhões, |
| Marchez, marchez! | Marchai, marchai! |
| Qu'un sang impur | Que um sangue impuro |
| Abreuve nos sillons! | Banhe o nosso solo! |


