domingo, 6 de dezembro de 2015

O Zoo que sobreviveu ao cerco de Leningrado

Curiosidades em Guerra

XLVII O Zoológico de Leningrado 


Em setembro de 1941 as tropas alemãs cercaram a cidade de Leningrado (agora São Petersburgo) e iniciaram o cerco que durou até janeiro de 1944.

Além do simbolismo de tomar o berço da revolução, Hitler considerava Leningrado vital devido a sua fábrica de tanques e veículos blindados além, claro, de seu porto.

Acesso ao jardim zoológico. Cartão postal. 1920.


Dada a defesa feroz dos soviéticos e a impossibilidade de a ocupar pela força, Hitler decidiu conquistá-la pela fome.

A população foi submetida a luta mais incrível pela sobrevivência, onde a escassez dos alimentos levou os sitiados a acabar com a população de pombos, gatos, cães e até mesmo atos de canibalismo foram cometidos. 

Os poucos suprimentos que conseguiam chegar à cidade o faziam pelo congelado Lago Ladoga mas eram insuficientes para uma população de 3.000.000 de habitantes. Quando a cidade foi libertada, havia mais de um milhão de mortos.

Mas, mesmo naquele lugar de morte e desolação, havia um lugar para escapar da barbárie, o Zoológico de Leningrado.



Antes de começar o cerco, e do avanço das tropas alemãs, cerca de 80 animais - quase metade do zoológico foram evacuados para outras cidades -  panteras negras, tigres, ursos polares, antas e um rinoceronte mas não puderam transferir a todos. 

Logicamente, os animais sofreram a escassez de alimentos muito antes da população. Só a dedicação dos próprios trabalhadores do zoo conseguiram salvar a vida de muitos deles. 

Eles procuravam alimentos recolhendo ervas, raízes, castanhas, bolotas, etc. Couves e nabos eram  plantadas dentro do próprio zoo. Para os carnívoros, eles cobriram as peles de cães e gatos com uma mistura de ervas e miudezas. Jaulas e paredes haviam sido destruídas pelos bombardeios mas os funcionários voluntários curaram-nos com o pouco que tinham, e eles dormiam dentro do complexo e apesar da escassez de comida que havia na cidade, não houve tentativas de se invadir as instalações do jardim zoológico.





Apesar de todos os sacrifícios dos cuidadores, incluindo a sua própria vida, alguns animais morreram de bombardeios ou dos incêndios subsequentes, além de fome e ainda outros tiveram que ser abatidos por escaparem do zoo já que podiam tornar-se uma ameaça para a população. 

Mas a maioria sobreviveu ao cerco e à guerra. 

Belle e Yevdokia. 1943


Um caso exemplar foi do  hipopótamo Belle que devido a inexistência naqueles dias de água corrente e, portanto, com a piscina vazia, era muito difícil manter sua pele molhada o que provocava rachaduras sangrentas e dolorosas em seu corpo. Então, Evdokia Ivanovna, sua tratadora, ia todos os dias ao rio Neva com um barril de 50 litros para recolher a água. Ele esquentava a água e, depois de molhar a pele, esfregava com óleo de cânfora. 

Se Belle, antes da guerra se alimentava de 40 kg de ração diária esta passou a ser de 6 kg por dia de uma mistura feita com ervas, legumes e serragem. Graças a Evdokia, Belle conseguiu superar todas as adversidades e morreu de velhice em 1951.



Para a população, o Zoo de Leningrado tornou-se um símbolo de força e paz. Na verdade, dos quase 900 dias do cerco alemão, ele permaneceu fechado somente no inverno de 1941, quando bombardeios foram mais intensos. Trabalhadores do jardim zoológico foram homenageados por seus esforços e dedicação para mantê-lo aberto e darem à cidade uma aparência de vida e certa tranquilidade.