terça-feira, 17 de novembro de 2015

Os pecados da Rio-2016

Por Marco Aurélio Canônico
FOLHA SP
Charges de ALPINO
Os pecados da Rio-2016
Para uma governante acusada de estelionato eleitoral por conta das falsas promessas feitas na campanha do ano passado, a presidente Dilma Rousseff foi pouco prudente ao abraçar a tática marqueteira da Prefeitura do Rio e anunciar uma lista de "dez mandamentos olímpicos" em visita à cidade na terça (10).

Se estivesse acompanhando a cobertura da imprensa sobre as preparações para a Rio-2016, Dilma saberia que boa parte dos "mandamentos" já está sendo descumprida –a começar pelo primeiro, "deixarás legado para a população em toda a cidade".

Ainda que seja possível acreditar que vá haver alguma melhora em determinadas áreas, é difícil sustentar que elas serão "em toda a cidade" –basta entrar em qualquer favela, mesmo as mais próximas ao circuito olímpico, para se dar conta disso.




O abandono das comunidades, a propósito, contraria diretamente o terceiro mandamento, "priorizarás as áreas mais carentes e a população mais pobre". Com apenas uma frase, "despoluição da baía de Guanabara", vai ao chão a quinta regra listada pela presidente: "Entregarás mais do que te comprometeste". Isso sem mencionar o português ruim.

O sexto comando, "não desperdiçarás dinheiro público", tem ligação direta com o décimo, que fala em não deixar "elefantes brancos".

Se a lição dos estádios da Copa-2014 e do Pan-07 não fosse suficiente para fazer a presidente desconfiar de tal promessa, uma olhada atenta sobre a falta de planejamento para boa parte das arenas olímpicas acenderia a luz vermelha.




De resto, chama a atenção que algo que já é um ilícito previsto na Constituição –é improbidade causar prejuízo ao erário, afinal– precise ser repetido em tom divinal.

Como se vê, a julgar pelos mandamentos apresentados, os três níveis de governo responsáveis pelos Jogos do Rio já são pecadores.