terça-feira, 8 de setembro de 2015

Senador Jarbas Vasconcelos defende a saída de Dilma Rousseff

A Revista ISTO É desta semana traz uma entrevista com o Senador Jarbas Vasconcelos do PMDB/PE.


Aos 73 anos, 45 de vida pública, o experiente deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) já viu de tudo na política brasileira. Nada comparável à crise atual que, segundo ele, compõe um quadro de degradação e incertezas que jamais vivenciamos. “Na década de 70, tivemos muitos momentos de apreensão e inquietações. Mas nem naquela época vivemos um momento parecido com esse. Sabemos e sentimos que o Brasil está às vésperas de mudanças importantes, mas ainda não é possível saber quais”, avalia.

Abaixo entrevista:

ISTOÉ - Como o sr. avalia o atual cenário do País? 
JARBAS VASCONCELOSEu faço política há 45 anos. Fui senador, governador, prefeito, deputado estadual e três vezes federal. Eu posso garantir que nunca vi nada parecido. Na ditadura, fui um dos poucos com condições de denunciar prisões e torturas. Na década de 70, tivemos muitos momentos de apreensão e inquietações. Mas nem naquela época vivemos um momento parecido com esse quadro de degradação e incertezas que vivenciamos agora. Estamos em um processo que está chegando ao final. 

 


ISTOÉ - O impeachment ou a renúncia são probabilidades reais e viáveis?
JV - Tenho certeza que sim. Acho que ela não tem formação para um gesto de grandeza como a renúncia, mas acredito que, embora difícil, isso possa acontecer. Minha impressão é que mais cedo ou mais tarde a ficha dela vai cair. Até agora, quando Dilma fala, parece que está no mundo da lua. Nos últimos dias eu a vi repetir que a crise é passageira. Ela sabe que não é! Não chegamos ainda ao fundo do poço, mas estamos bem próximos. 

Arte de SINOVALDO


ISTOÉ - O País vive o aumento dos impostos, a volta da inflação e retorno do desemprego. Pode ficar pior?
JV - O fundo do poço chegará quando a inflação aumentar ainda mais, quando o desemprego atingir taxas incontroláveis e quando as medidas de aumento dos tributos se mostrarem ineficientes para cobrir as despesas. Nesse momento, quando as coisas piorarem ainda mais, pode ser que a ficha dela caia e ela veja que não pode ficar onde está. As pessoas próximas a ela já podiam falar que estamos chegando ao final. Aí, ela renunciaria ao mandato e livraria o País desse processo desgastante que é o de impeachment. 

Arte de DUKE


ISTOÉ - O sr. fala como se a saída da presidente fosse inevitável... 
JV - Acredito que é inevitável a saída dela. O Collor perdeu o mandato com quase dois anos de governo. Dilma acabou de completar oito meses de mandato e já vive essa crise política. O governo Dilma apodreceu antes mesmo do tempo de uma gestação. É por isso que eu acredito que a gente caminha para a sua saída. 


ISTOÉ - Nas conversas privadas, qual é o sentimento dos parlamentares com quem o sr. tem conversado? 
JV - Há muita inquietação. Até gente que compõe o governo sabe que as coisas estão insustentáveis. Entendimento com Dilma é uma coisa fora de cogitação. Ela está com a popularidade baixa e segue errando. Por isso, ou ela vai para a renúncia, ou para o impeachment. Não há outras opções no cenário atual. Nessas duas hipóteses, o denominador comum é Michel Temer. Acho que todos os partidos têm o compromisso de unir forças e ajudar nessa mudança, nessa travessia. 

Arte de SPONHOLZ


ISTOÉ - Esta travessia ocorreria com a economia pior ou melhor do que está?
JV - Dilma renunciando ou Dilma sofrendo um impeachment, no outro dia, o País seria outro. Os setores iriam pensar positivamente. Chegamos a essa situação porque o conjunto da sociedade foi atingido. Hoje você tem a insatisfação do dono da casa até a empregada doméstica. Essa coisa ainda não explodiu e se concretizou porque estamos no Brasil. 

Arte de AROEIRA


ISTOÉ - Mas o processo de impeachment seria conduzido inicialmente pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado de corrupção. O que isso pode acarretar? 

JV - A Câmara está comandada por uma pessoa, no mínimo, confusa. Acho que o atual presidente da Casa tentou usar a chefia da Câmara para se proteger das denúncias de corrupção. Eu sabia que ele era lobista. Mas votei nele porque achei que o mal maior era entregar a Casa ao PT. Entretanto, confesso que não esperava tanta suspeitas em torno dele. Eu li as 80 páginas de denúncias contra ele e asseguro que são coisas escabrosas, vergonhosas. Ele pisoteou a moral e a ética da Câmara e ficou sem condições de presidi-la. Imagina se a Dilma insiste em ficar no cargo e esse cenário desemboca no processo de impeachment? Como vamos ter uma figura dessas comandando o processo? Antes de pensar em sucessão e na saída efetiva da Dilma, a gente tem de resolver primeiro a saída do Cunha. Estamos trabalhando no manifesto que defende sua saída. 

Arte de BRUNO AZIZ


ISTOÉ - Por enquanto, o manifesto possui menos de 50 assinaturas. É um mau sinal?
JV- O passo importante é haver o manifesto. Conseguimos o apoio desses deputados poucos dias depois de divulgá-lo. O Eduardo Cunha ainda mantém certo poder. Isso porque todos os postos-chaves da Câmara, das CPIs às comissões, estão sob seu controle. A CPI da Petrobras tem feito chantagens com os envolvidos a mando do Eduardo Cunha. As ameaças de convocar a família do Alberto Youssef são recados mandados pelo Eduardo Cunha. Ele usa CPIs e cargos a serviço dos próprios interesses. 

Arte de SINOVALDO


ISTOÉ - O que ainda sustenta o Eduardo Cunha?
JV - A votação expressiva que teve entre os deputados. Ele tenta convencer de que é o Planalto e o PT que estão por trás dessas denúncias contra ele. Isso termina confundindo um pouco as pessoas que não gostam do governo. Mas essa sustentação vai acabar quando o Supremo acolher a denúncia contra ele e abrir a ação penal. 

ISTOÉ - A partir daí o impeachment começaria a ser discutido oficialmente?
JV - Sim. Primeiro é preciso mudar o comando da Câmara e colocar alguém capaz de conduzir esse processo. Depois partiríamos para a nova fase de mudanças. 

Arte de LUSCAR


ISTOÉ - Um impeachment dependeria também da disposição do presidente do Senado. Mas Renan Calheiros tem dado demonstrações de alinhamento ao governo. 
JV - O Renan já fez várias travessias. Do jeito que ele vai para o governo, ele abandona. No primeiro semestre, a maior oposição foi feita por ele. Eduardo Cunha faz uma oposição desgovernada, Renan não. Ele devolveu uma medida provisória, que é coisa rara. Como ele fez essa travessia em direção ao governo, acredito que ele pode retornar para reforçar o impeachment. 

Arte de MYRRIA


ISTOÉ - Como seria o PMDB no poder? 
JV - Se for um governo do PMDB, já começaria errado. Para dar certo, teria de ser um governo de coalizão nacional. 

ISTOÉ - O sr. sempre foi um critico do PMDB. Em 2009, chegou a ser ameaçado de expulsão porque afirmou que a legenda era composta por pessoas corruptas. Por que nunca saiu?

JV - Não deixei o partido porque fundei o MDB e o PMDB. Não tenho natureza ou espírito tucano. 

Arte de SPONHOLZ


ISTOÉ - Mas o sr. é mais afinado com os tucanos.
JV - Sim, eu votaria em Aécio. Mas acho que mexer em calendário eleitoral não faz sentido e pode atrapalhar a discussão importante que é a saída do Cunha e da Dilma. Depois dessa etapa é que poderíamos pensar nas próximas. 

ISTOÉ - Qual é o papel do PSDB nesse cenário?
JV - Teria de unificar o discurso. O PSDB não pode chegar para discutir o impeachment com duas ou três correntes internas. O maior partido de oposição não pode querer discutir um tema tão complexo estando dividido. 

Arte de SPONHOLZ


ISTOÉ - Como senador, o sr. participou de sabatinas dos procuradores-gerais. Como vê o arquivamento do pedido de investigação das contas de Dilma Rousseff logo após a recondução de Rodrigo Janot ao cargo?
JV - Não foi uma coisa boa. Ele não pode ter dois pesos e duas medidas para conduzir investigações. Isso é coisa que dá para apurar. Teria de ter mandado apurar as contas porque o Ministério Público não pode ficar protegendo Dilma. Ele tem de saber que não deve favor a ela. Dilma simplesmente indicou quem encabeçava a lista do Ministério Público porque obteve mais votos dos próprios colegas. Fez o que há muito tempo os presidentes fazem por coerência. Indicá-lo não foi um favor. 

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