quinta-feira, 2 de julho de 2015

Nomes por esses Nordeste adentro

Por Hildeberto Barbosa Filho
Transcrito do Blogstraquis

Crônicas

Essas razões sociais
O mundo é mágico. A literatura é apenas real. Não, não vou defender uma daquelas teses estupendas e gloriosas. Quero apenas soletrar, no à vontade dessa letra lúdica, algumas nomenclaturas que refletem, em seu paradigma modelar e abstruso, o assombro e a fantasia de que as coisas são feitas. Sobretudo, quando nomeadas.



Borracharia J. Pinto Penteado, Pneus a Toda Prova.
O “J” deve de ser de Jair, de João, de Jaime, de Jeremias, de Janúncio, de Jesus ou de um José qualquer, pois “Virge, como tem Zé lá na Paraíba”, conforme lembra a voz
ritmada de Jakson do Pandeiro. 

Vizinho, e dentro do mesmo ramo profissional, deparo-me com a Oficina de Mané Pineco, o Mágico da Mecânica, o Rei do Carburador e Milagreiro da Eletricidade. Tudo, em letras garrafais e coloridas, para chamar a atenção dos possíveis
clientes, numa espécie de marketing bronco e bizarro.

Observemos outros exemplares desses registros extravagantes.

  • Mercadinho Branca de Neve e os Sete Anões: estoque variado e tudo de miudeza a gosto do freguês; 
  • Casa Mortuária Salve-se Quem Puder: preços confortáveis e diversas formas de pagamento, inclusive em prestações pós-mortem; 
  • Farmácia de Anaximandro Aristarco de Alencar: em cada remédio, uma dor aniquilada; 
  • Padaria Alvorada: além do pão francês, o doce, o crioulo, o papinha, o fresquinho, o dormido e o acordado; 
  • Armazém de Secos e Molhados: charque, feijão, farinha e fiado, e muito, muito mais. 
  • Ótica Tudo Vê; 
  • Papelaria Traça Não Entra;
  • Magazine Florbela Espanca;
  • Salão de Beleza Roberta Close;
  • Casa de Ferragem Irmãos Ferrugem & Companhia; 
  • Empório das Elegantes Desesperadas; 
  • Bodega do Cacique Invertebrado;
  • Casa Espírita Mensageiro do Além;
  • Igreja Universal Caim e Abel;
  • Terreiro de Madame Satã; 
  • Posto às Margem do Ipiranga; 
  • Academia de Letras dos Inéditos e Inexistentes;
  • Banda Municipal Soluços do Silêncio; 
  • Derrotados Futebol Clube; 
  • Centro Cultural Terra Inculta; 
  • Praça Chega de Saudade;
  • Cabaré de Mãe Santinha
  • Bar do Tetéu: o que não fecha nunca, e cuja marca primordial é servir uma sopa espessa, depois de meia noite, feita com o mesmo osso, requentado desde sua fundação, logo após a guerra de 1945.


Oxente, esse é em Minas, 
mas achei o nome fabuloso, uai!


Pasme o leitor, se algum leitor me lê essas domingueiras estripulias verbais: nenhuma dessas razões sociais me é fruto da imaginação desmedida, mas realidades vistas e por mim constatadas in loco, no calor do tato, do odor e do paladar, experimentados na geografia de muitas cidadezinhas perdidas nesse mundão de Deus. 



Quem quiser checar, faça uma visitinha a Cajazeiras, Pombal, Itaporanga, Santa Luzia, Taperoá, Cabaceiras, Boqueirão, Aroeiras, Itatuba, Soledade, Puxinanã, Galante, Cuité, Bananeiras, Esperança, Lagoa Seca e Campina Grande, em cuja origem estala do reino malvado...