quarta-feira, 3 de junho de 2015

Um gol, muitos gols, por Carlos Brickman

Por Carlos Brickmann, em sua página.

Um gol, muitos gols. 
A entrada do FBI americano nas investigações sobre corrupção no futebol muda a regra do jogo: deixa de funcionar a Bancada da Bola, perde efeito o relacionamento internacional bem cultivado, favor prestado não tem mais validade. Se os personagens presos são ou não culpados, a Justiça americana decide. 

Arte de ZAPIRO


Mas:

1 - José Maria Marin, segundo as investigações, teria cobrado propinas nos contratos da CBF. Quem pode ter pago propinas? Patrocinadores da Seleção, talvez; ou concorrentes à compra dos direitos de transmissão. Quem patrocina a Seleção, e quem a patrocinou nos últimos anos? Quem ganhou o direito de transmitir os jogos? Quais empresas firmaram contratos de exclusividade com a CBF?

Arte de DACOSTA


2 - Quando o Brasil ganhou a Copa de 1994, nos EUA, a delegação trouxe 11 toneladas de compras. O secretário da Receita, Osíris Lopes Silva, mandou que as bagagens passassem pela Alfândega. O presidente era Itamar Franco, e Osíris caiu. Quando Ronaldo Fenômeno teve aquele problema na Copa da França, em 1998, já se falava na interferência da Nike na CBF. O presidente era Fernando Henrique. Quando o Brasil ganhou o direito de realizar a Copa de 2014, o presidente era Lula. Ninguém investigou; se investigou, não contou para ninguém. A imprensa paulista foi acusada por Ricardo Teixeira de persegui-lo, só porque andou narrando algumas coisas, que as autoridades não levaram em conta. E como havia gente importante do Judiciário viajando a convite da CBF, com tudo pago!



Agora a bomba explodiu. E vai pegar gente hoje acima de qualquer suspeita.

Quem sabe sabe
Os investigadores americanos tiveram também o apoio decisivo das informações do empresário brasileiro J. Hawilla, dono de uma rede de televisão (a TV Tem) que retransmite a Globo no Interior paulista. Hawilla foi preso e fez delação premiada. Comprometeu-se a devolver aos americanos uns US$ 175 milhões. Meio bilhão de reais. Já pagou a primeira prestação, de US$ 25 milhões. 

Arte de DÁLCIO


J. Hawilla foi preso nos EUA no segundo semestre do ano passado. Alguém soube? Fez o acordo de delação premiada e contou muita coisa (e não deve ter sido o único). Só agora ficamos sabendo - após as prisões. 

Estardalhaço serve apenas para afugentar a presa. Na Suíça, prisão não é ponto turístico. Portanto, ninguém divulga onde está localizada (nem se os demais detentos estão nela ou em outras instituições). Sabe-se que Marin é bem tratado, está preso numa cela com banheiro normal, não precisa fazer acrobacias para usar a privada, tem assistência médica e jurídica. Está mais bem alojado do que em qualquer prisão brasileira. E, caro leitor, de onde é mais provável que não tenha chance de escapar?

Arte de MARIO ALBERTO
 

Chuva de óleo
Americano ainda não dá muita importância ao futebol. A ladroeira na FIFA tem contato apenas superficial com os Estados Unidos: instituições financeiras americanas foram usadas na manipulação irregular de dinheiro, algumas firmas de lá pagaram propina no Exterior. Já o caso da Petrobras, também sob investigação naquelas bandas, bate em cheio nos americanos: a refinaria de Pasadena é lá, os papéis da empresa são negociados nas bolsas dos EUA, milhares de pessoas puseram suas economias em fundos que compraram Petrobras (e que, graças aos problemas da estatal, renderam muito menos do que poderiam). A investigação e a Justiça são mais eficientes que as nossas. 



Os prejudicados farão pressão. E as petroleiras americanas - neste setor ninguém é bonzinho: todos jogam pesadíssimo- não perderão essa ótima possibilidade de atrapalhar a concorrente.